Estudantes encontram desenhos de suásticas, símbolos nazistas, em paredes da USP e da Unifesp

Até o momento, somente o caso envolvendo a universidade federal foi registrado em boletim de ocorrência; as investigações estão sendo conduzidas pela Polícia Federal

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Foto do author Renata Okumura
Atualização:

Alunos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) do campus de Guarulhos, na Grande São Paulo, encontraram suásticas desenhadas em paredes das instituições de ensino. Na USP, há ao menos dois relatos envolvendo o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Faculdade de Direito. No caso da federal, o símbolo nazista foi pichado ao lado da frase “Maurício CPF cancelado/zerado”. Até o momento, somente o episódio envolvendo o estudante Maurício Monteiro foi registrado em boletim de ocorrência pela universidade. Por se tratar de uma instituição federal, o caso foi registrado na Polícia Federal.

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Na segunda-feira à noite, 28, o Diretório Central dos Estudantes da USP recebeu a denúncia de que ao menos oito símbolos nazistas tinham sido desenhados nas quatro paredes da vivência estudantil do DCE, no campus Butantã, na zona oeste da cidade. O espaço aberto para os estudantes fica ao lado da sede política do diretório. É lá também que os calouros escrevem seus nomes com guache, logo que ingressam na universidade.

Para Beatriz Calderon, de 23 anos, diretora do DCE Livre da USP e do Coletivo Juntos, esse ataque é considerado preocupante. “Foi um ataque bem sério. Nós usamos muito a marca antifascista, desde que fomos eleitos. Ela está na nossa bandeira, pois a gente acredita que a universidade é e precisa seguir sempre sendo um território antifascista. Não existe espaço para esse tipo de pensamento dentro da universidade”, disse Beatriz.

Segundo ela, logo após fazerem imagens das pichações, as mesmas foram apagadas. No dia seguinte, o diretório se posicionou contra a atitude. “Estamos agora aguardando nosso setor jurídico para fazer um boletim de ocorrência. Para verificar qual a melhor maneira de atuar. Também vamos organizar uma campanha antifascista na universidade. Estamos montando um dossiê que documenta esse e outros casos, não com esse teor, mas situações graves também”, acrescentou ela.

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Estudantes encontram suásticas pichadas em paredes do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da USP. Foto: DCE/USP

Depois do episódio envolvendo o DCE da USP, entre terça-feira, 29, e quarta-feira, 30, a Faculdade de Direito da universidade também relatou que suásticas foram pichadas em paredes da instituição. Logo após registrarem os fatos em imagens, os símbolos foram apagados. Investigação interna está sendo realizada para localizar os responsáveis.

Em resposta às aparições de símbolos nazistas, a direção da Faculdade de Direito e o Centro Acadêmico XI de Agosto emitiram uma nota conjunta.

“Repudiamos qualquer forma de preconceito, autoritarismo e exclusão, dentro e fora de nosso espaço. Não toleraremos nenhuma forma de discriminação. O ambiente universitário configura contexto especialíssimo e protegido, ainda que sempre aberto à liberdade de expressão”, afirma o comunicado. “No Brasil, a veiculação de símbolos nazistas, a prática e a incitação à discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional são crimes expressamente previstos na Lei Federal nº 7.716/1989, inafiançáveis e imprescritíveis. Os símbolos nazistas são absolutamente indesejáveis, incompatíveis e repugnantes à vida acadêmica.”

Por sua vez, em nota, a USP afirma que não admite qualquer forma de apologia ao nazismo e ao preconceito racial em suas dependências.

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“Na terça-feira, a Guarda Universitária esteve no local, identificou as suásticas e solicitou aos responsáveis pelo DCE que as pichações fossem apagadas imediatamente. A universidade apura, em conjunto ao DCE, a identificação do autor ou autores das pichações”, acrescentou.

Aluno

No caso da Unifesp, no campus Guarulhos, na Grande São Paulo, a ameaça com o desenho do símbolo nazista foi vinculada diretamente a um estudante.

Na noite do dia 21 de novembro, houve relato de que uma suástica havia sido pichada ao lado da frase “Maurício CPF cancelado/zerado” no banheiro masculino do terceiro andar da EFLCH-Unifesp, na primeira cabine da direita. Segundo Maurício Monteiro, estudante do curso de História da universidade, trata-se de uma ameaça contra ele.

“Uma ameaça à minha integridade física dentro e fora do campus. Visto que sou um estudante negro, da periferia, LGBTQIAP+, com compromisso e ativismo da causa negra, integrando grupos de estudos africanos, sendo membro do Núcleo Negro da Unifesp Guarulhos (NNUG), representante discente no curso de história e com uma postura antifascista e antirracista na universidade e para fora dela”, publicou em rede social.

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“Como um jovem pesquisador da área de História, apresentei trabalhos sobre as relações étnico-raciais, antirracismo na educação e construção de políticas públicas para população negra. Destaco aqui minha trajetória para evidenciar que a ameaça feita não corresponde apenas à minha pessoa, mas também a tudo que eu acredito e a todas as pessoas que se sensibilizam com essas causas, em busca de reparação, emancipação e justiça ao povo preto”, completou Monteiro.

Em nota, a Unifesp afirma que repudia toda e qualquer forma de violência contra os membros de sua comunidade, corpo discente, docente, servidores e colaboradores, notadamente aquelas relacionadas à discriminação ou ao preconceito social, de gênero, raça, cor, etnia, religião, procedência e contra pessoas com deficiência.

“A instituição, por meio da direção do campus Guarulhos, após ser informada a respeito de ameaças vinculadas à suástica, símbolo nazista, inscritas nas paredes de um de nossos espaços, está tomando as medidas cabíveis, como o lavramento de boletim de ocorrência junto à Polícia Federal e se colocando à disposição das autoridades para contribuir com o objetivo de esclarecer a autoria”, disse em nota.

O estudante também registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) de São Paulo.

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De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP), o caso começou a ser investigado pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Guarulhos e após a realização da perícia foi encaminhado para a Polícia Federal, por se tratar de um fato ocorrido dentro de uma universidade federal.

“A autoridade policial segue à disposição para registrar casos semelhantes que tenham ocorrido nas universidades citadas pela reportagem”, disse em nota.

Jovens que promoveram massacres em escolas se apropriam de símbolos nazistas

O Instituto Brasil-Israel (IBI) alerta que a normalização do nazismo assusta e pode contribuir para outras tragédias. Segundo a entidade, no caso mais recente, do último dia 25, o adolescente de 16 anos que matou quatro pessoas após entrar armado em duas escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo, é mais uma tragédia que reforça o alerta para o crescimento do nazismo no País. Ele usava uma suástica no braço.

Em 2021, três crianças e duas professoras foram mortas a golpes de facão por um jovem de 18 anos em uma creche na cidade de Saudades, em Santa Catarina. Com o avançar das investigações, a polícia já identificou indícios de associação do criminoso com células neonazistas, assim como no caso envolvendo outro jovem que, em 2019, matou dez pessoas em uma escola estadual de Suzano, na Grande São Paulo.

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“Esses casos evidenciam o que já percebemos. Nos últimos anos, tem havido um processo de normalização da ideologia supremacista de Adolf Hitler no Brasil. É preciso ressaltar que a apologia ao nazismo no País é crime”, afirma Daniel Douek, diretor-executivo do IBI.

Na terça-feira, 29, a Escola Municipal José Silvino Diniz, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, amanheceu pichada com suásticas e com o nome de Hitler escrito nas paredes.

“O momento é de grande preocupação, visto que esses grupos neonazistas estão se expandindo no País e aliciando jovens para inflamar o discurso de ódio e transformá-lo em prática de atos violentos, como esses massacres que assistimos”, acrescenta Douek. “É preciso cumprir com rigor a legislação brasileira, que já prevê punição para essa tipificação”, completa ele.

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