Vai-Vai, Mocidade Alegre e Gaviões agitam sambódromo no 2º dia do Carnaval de SP 2024

Veja os principais destaques das escolas do Grupo Especial que passaram pelo Anhembi na segunda noite de desfiles

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Foto do author Ítalo Lo Re
Atualização:

Um novo dia, novas cores na “passarela do samba”. A segunda noite de desfiles do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo 2024 foi marcada pela apresentação da atual campeã, Mocidade Alegre, e pelo retorno da maior vencedora para o grupo de elite da festividade paulistana, o Vai-Vai. Além das duas escolas, destacaram-se Gaviões da Fiel e Império de Casa Verde.

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Tom Maior, Águia de Ouro e Acadêmicos do Tucuruvi também participaram do dia de encerramento dos desfiles. As escolas estiveram na avenida entre a noite de sábado, 10, e a manhã deste domingo, 11, em outra madrugada sem chuvas no Sambódromo do Anhembi, na zona norte da capital paulista.

Na primeira rodada de desfiles, ocorrida na madrugada de sábado, os destaques ficaram por conta de Dragões da Real, Acadêmicos do Tatuapé, Mancha Verde e Rosas de Ouro. Nenhuma das 14 escolas que desfilaram extrapolou o tempo limite de 65 minutos e 59 segundos. A apuração do Grupo Especial acontece na próxima terça-feira, 13, e também será acompanhada pelo Estadão.

Vai-Vai

De volta ao grupo de elite das escolas paulistanas, a Vai-Vai empolgou a arquibancada ao homenagear os 41 anos do movimento hip-hop no Brasil.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Um dos principais destaques da segunda noite foi o desfile do Vai-Vai, que buscou retratar a “linguagem das ruas” exaltando espaços como o Largo São Bento, no centro. Embalada pelo samba-enredo “Capítulo 4, versículo 3 — Da rua e do povo, o hip-hop: um manifesto paulistano”, a maior vencedora do carnaval paulistano, com 15 títulos, abriu a noite com adereços cobertos de referências e teve uma torcida vibrante em seu retorno ao Grupo Especial.

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“São Paulo, 10 de fevereiro de 2024″, foi assim que Mano Brown anunciou o início do desfile, em referência ao começo da música “Diário de um Detento”, faixa do álbum Sobrevivendo no Inferno (Racionais MC’s, 1997). Entre outros detalhes, a apresentação da tradicional escola do Bixiga teve uma ala toda dedicada ao rapper Sabotage e um carro com reproduções pichadas de uma estátua do bandeirante Borba Gato e do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

“O carnaval tem que ter uma provocada, uma máscara e um entendimento diferente”, disse o presidente da agremiação, Clarício Gonçalves. Além de abordar a história do hip-hop, surgido há 50 anos nos Estados Unidos, a escola lançou luz também no estigma sofrido por jovens de periferia, alvos frequentes de racismo e de revistas policiais. “A ideia, ao fazer essa homenagem aos 41 anos do movimento hip-hop (no Brasil), foi pensar no tema como um todo.”

Além de Mano Brown, que caminhou junto aos demais membros do Racionais MC’s ao lado da bateria, desfilaram pela escola outros grandes nomes do rap nacional, como Dexter e Rappin’ Hood. Um dos carros alegóricos também teve a presença da cantora Glória Groove e do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Guilherme Boulos e Tabata Amaral, pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, foram vistos em momentos de concentração e dispersão do Vai-Vai.

Tom Maior

Na apresentação da Tom Maior, um dos destaques ficou por conta de uma onça-pintada que rugia à medida que o desfile avançava.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Celebrado pelos foliões, o desfile da Tom Maior teve como samba-enredo “Aysú: Uma História de Amor”. A proposta era contar a história de um casal indígena tendo como base o mito de Orfeu e Eurídice, em que ela é mordida por uma cobra e acaba morrendo logo após o casal se apaixonar.

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A partir daí, começa uma saga desesperada de Orfeu para tentar trazer Eurídice de volta à vida. No caso do enredo da escola de samba, a diferença é que a história é retratada com elementos característicos dos povos originários brasileiros, além de dar destaque para a fauna e flora locais.

A tradicional escola do Sumaré, na zona oeste, chamou atenção pela variedade de cores nas fantasias e pela imponência dos carros alegóricos. Um deles trouxe a reprodução de uma onça-pintada que rugia à medida que o desfile avançava pela passarela. “O erro e a dor / São o destino de quem foge do amor”, diz trecho do samba-enredo.

Mocidade Alegre

A escola Mocidade Alegre, atual campeã do carnaval paulistano, chamou a atenção pelo cuidado estético.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Atual campeã do carnaval paulistano, a Mocidade Alegre voltou festejada para a avenida para abordar o tema “Brasiléia Desvairada, a busca de Mário de Andrade por um país”. A apresentação, um dos destaques da noite pelo cuidado estético, foi coberta de referências, como um carro destinado a retratar o livro Macunaíma.

O enredo do carnavalesco Jorge Silveira e do enredista Leonardo Antan teve inspiração nas primeiras explorações de Mário de Andrade pelo Brasil. A proposta era construir um “novo País” na avenida, com exaltação de elementos históricos, como o barroco mineiro e a dança do carimbó. “Bordei um país de felicidade / Na voz da minha Mocidade”, diz o samba-enredo.

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Thelma Assis, vencedora da edição de 2020 do Big Brother Brasil, desfilou como uma das musas da agremiação. Já o ator Paschoal da Conceição abriu a apresentação de terno, cartola e gravata, representando o próprio Mário de Andrade.

Mesmo tendo interpretado o escritor em outras ocasiões, ele disse que foi difícil controlar o “frio na barriga” antes de entrar na avenida. “Conseguiram fazer um desfile com uma riqueza… Esse é o samba. Foi muito forte, muito potente”, disse Paschoal, que aproveitou para destacar uma curiosidade: “O engraçado é que eu e Mário de Andrade fazemos aniversário no mesmo dia: 9 de outubro.”

Gaviões da Fiel

Gaviões da Fiel usou elementos futuristas na avenida. Em um dos carros, foliões faziam acrobacias sincronizadas embaixo de um disco voador. Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com o samba-enredo “Vou te levar pro infinito”, a Gaviões da Fiel lançou mão de elementos futuristas para cativar as centenas de torcedores que foram acompanhar a escola alvinegra no Anhembi. Em um dos carros, por exemplo, a agremiação contou com oito foliões embaixo de um disco voador, em performance que envolvia acrobacias sincronizadas.

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“Já é hora de pensar / Pro futuro renascer”, diz trecho do samba-enredo da escola, um dos destaques do começo da madrugada. Em alguns dos carros, foram retratados ainda o sistema solar e reproduções do gavião, animal símbolo da agremiação. A presença de Sabrina Sato, rainha de bateria, foi mais uma vez comemorada.

“A ideia foi apresentar o infinito de tudo, tanto de coisas boas quanto de coisas ruins. Tenho certeza que quem assistiu ao desfile vai atender esse infinito de amizade, de saúde, de prosperidade”, disse Amilton Alves, presidente da Gaviões. “Fiquei muito feliz com o que vi, estou muito grato a todos que nos ajudaram. Espero que a gente possa beliscar o título.”

Águia de Ouro

Águia de Ouro contou a história do rádio em passagem pelo sambódromo.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Fundada em 1971, a Águia de Ouro, tradicional escola da Pompeia, na zona oeste da capital paulista, teve como samba-enredo “Águia de Ouro nas Ondas de Rádio”. A ideia foi apresentar algumas memórias atreladas ao imaginário coletivo brasileiro, como a narração de gol característica de reproduções antigas.

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Embalada nas cores azul e branco, a agremiação trouxe elementos como satélites de radiotransmissão nos carros alegóricos e buscou também dar uma visão de futuro, com adereços marcados pelo uso da cor prata. “Palavra, o som que toca a alma / Unindo a nação num só lugar”, diz trecho do samba-enredo da escola.

Império de Casa Verde

Em homenagem à cantora Fafá de Belém, a escola Império de Casa Verde trouxe diversos elementos da região Norte para a passarela do samba.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Com o samba-enredo “Fafá, a cabocla mística em rituais da floresta”, a Império de Casa Verde trouxe a região Norte para a passarela do samba. A homenagem à cantora Fafá de Belém, segundo representantes da agremiação, abriu a possibilidade não só de retratar a música brasileira e a cultura da capital paraense, a exemplo do Círio de Nazaré, como também elementos da própria Floresta Amazônica.

Uma das alas, por exemplo, trouxe fantasias com representações do boto cor-de-rosa. Ao mesmo tempo, o Festival de Parintins, famoso pela rivalidade entre os bois Garantido e Caprichoso, foi retratado em uma outra ala marcada pelo contraste de elementos em vermelho e azul. Do alto do último carro alegórico, uma sorridente Fafá de Belém acenava para o público a todo momento.

“A cada ensaio que passava, a gente se encantava mais. Desde a elaboração do texto da sinopse até o enredo, o samba e a fantasia”, disse o vice-presidente da agremiação, Fábio de Souza. Ele contou que, em vez de fazer a escola fechar possibilidades, a escolha por Fafá como tema abriu horizontes. “É uma artista surpreendente, e todo o astral dela foi determinante para o sucesso do nosso desfile.”

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Acadêmicos do Tucuruvi

Última escola a se apresentar, a Acadêmicos do Tucuruvi exaltou a cultura afro-brasileira durante uma animada apresentação, que foi até perto das 7h.  Foto: ALEX SILVA/ESTADAO

Coube ao Acadêmicos do Tucuruvi, da zona norte de São Paulo, fechar os desfiles do Grupo Especial neste ano. Com o tema “Ifá”, filosofia que nasceu entre os iorubá, grupo étnico-linguístico africano, a escola exaltou a cultura afro-brasileira durante uma animada apresentação, que se estendeu até pouco antes das 7h.

“Meu samba luta pela igualdade / No ilê da Cantareira sou feliz”, diz trecho do samba-enredo, que foi interpretado como se estivesse sendo cantado por Exu. O samba-enredo dialogou com algumas apresentações que abordaram a cultura afro no primeiro dia de desfiles, como as da Dragões da Real e Independente.

A empolgação com os elementos da cultura africana trazidos nos carros alegóricos se juntou às cores do amanhecer e trouxe um clima de emoção para o encerramento do carnaval deste ano na avenida. “Negra cultura, nossa essência / Na filosofia, na religião / Herança de Ifá é resistência / Me abraça, somos irmãos”, diz outro trecho do samba-enredo do Acadêmicos do Tucuruvi, cantado a plenos pulmões pelo público.

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