O sepultamento de Marco Aurélio Cardenas Costa, estudante de Medicina de 22 anos morto à queima roupa por um policial militar, foi marcado não só por comoção entre familiares e amigos, como revolta pelas circunstâncias da tragédia.
Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa em abordagem policial na madrugada da última quarta-feira, 20, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Ele foi enterrado pouco após as 16h desta sexta-feira, 22, no Cemitério Getshêmani, no Morumbi, na zona sul da capital.
“Nunca imaginei que viria ao Brasil para isso, para enterrar meu sobrinho. Sempre vi o Brasil como um País desenvolvido, mas esse caso é o reflexo de uma polícia despreparada”, desabafou um tio de Marco Aurélio ao discursar no velório.
De origem peruana, os pais de Marco Aurélio moram no País há quase 30 anos, onde ambos trabalham como médicos intensivistas. Muitos familiares vieram de longe para acompanhar o sepultamento.
“Daqui para frente eu vou imaginar que ele viajou, que foi para um lugar que eu não consigo ir”, disse a mãe do estudante, a médica Silvia Mônica Cardenas Prado, de 57 anos.
Em breve discurso na despedida, ela pediu orações em nome do filho. Aproveitou também a ocasião para acolher a mulher de 21 anos que estava com Marco Aurélio no hotel. Segundo a família, eles se conheciam havia dois anos.
Também estiveram presentes no sepultamento muitos colegas médicos dos pais de Marco Aurélio e amigos de faculdade do jovem.
Estudante da Universidade Anhembi Morumbi, ele estava prestes a ir para o 6º ano do curso de Medicina. Seria o quinto médico da família – os dois irmãos mais velhos já são formados.
Tido como um filho amoroso, Marco Aurélio era amante da música – tinha uma carreira amadora de MC – e gostava de jogar futebol.
Neste sexta, como forma de homenageá-lo, muitos colegas foram com a camisa do time da atlética de Medicina da faculdade.
Durante o sepultamento, os amigos colocaram ainda sobre as dezenas de coroas de flores enviadas por amigos algumas camisas de futebol usadas por Marco Aurélio – ele gostava de usar o número 20 –, além de fotos do estudante.
Os familiares levaram ainda o cachorrinho de estimação de Marco Aurélio, tido como um xodó dele. “Nós cuidaremos do Hardy por você”, dizia uma das mensagens pregadas nas coroas de flores.
O sepultamento do estudante, que sonhava em seguir a carreira de pediatra, foi marcado por comoção, como uma intensa salva de palmas no fim.
A despedida contou também com a reprodução de músicas como “Sabes que la distancia és como el viento”, de Domenico Modugno, e “My Heart Will Go On”, de Celine Dion, algumas delas cantadas em coro pelo presentes.
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Como foi a abordagem policial
Na quarta-feira, em nota, a SSP afirmou que o estudante teria golpeado uma viatura e resistido ao ser abordado. Imagens do hotel mostram o momento da ação, mas ainda não está claro o que ocorreu entre o jovem e os PMs na rua antes de ele ser baleado à queima-roupa na altura do peito no saguão do estabelecimento.
Conforme as investigações, as imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse lamentar a morte do estudante. Ele também afirmou que abusos serão “severamente” punidos.
A polícia de São Paulo matou neste ano 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número para o período desde 2020.
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