Comoção e revolta marcam sepultamento de estudante de Medicina morto pela PM

Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, levou um tiro em abordagem policial na última quarta; agente responsável por disparo foi indiciado

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Foto do author Ítalo Lo Re
Foto do author Juliana Domingos de Lima
Por Ítalo Lo Re e Juliana Domingos de Lima
Atualização:

O sepultamento de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de Medicina de 22 anos morto à queima roupa por um policial militar, foi marcado não só por comoção, como revolta pelas circunstâncias da tragédia. Familiares e amigos cobraram Justiça.

Marco Aurélio foi morto com um tiro à queima-roupa em abordagem policial na madrugada da última quarta-feira, 20, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Ele foi enterrado pouco após as 16h desta sexta-feira, 22, no Cemitério Gethsêmani, no Morumbi, zona sul da capital.

Velório do estudante universitário Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, que morreu nesta quarta-feira, 20, após ser baleado em uma abordagem policial na Vila Mariana, zona sul de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão

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“Nunca imaginei que viria ao Brasil para isso, para enterrar meu sobrinho. Sempre vi o Brasil como um bom lugar, mas esse caso é o reflexo de uma polícia despreparada”, desabafou um tio de Marco Aurélio ao discursar no velório.

Mais cedo, o pai do jovem, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Júlio Cesar Acosta Navarro, de 59 anos, reforçou o apelo por Justiça. “Tive que me levantar para defender a imagem do meu filho”, disse, emocionado.

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De origem peruana, os pais de Marco Aurélio moram no País há quase 30 anos, onde ambos trabalham como médicos intensivistas e professores. Muitos familiares vieram de longe para acompanhar o sepultamento.

“Daqui para frente eu vou imaginar que ele viajou, que foi para um lugar que eu não consigo ir”, disse a mãe do estudante, a médica Silvia Mônica Cardenas Prado, de 57 anos.

Em breve discurso na despedida, ela pediu orações em nome do filho. Aproveitou também para acolher na cerimônia a mulher de 21 anos que estava com Marco Aurélio no hotel em que ele foi baleado. Segundo a família, eles se conheciam havia dois anos e tinham uma relação de apoio mútuo.

Também estiveram presentes no sepultamento muitos colegas médicos dos pais de Marco Aurélio e amigos de faculdade do jovem.

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Estudante da Universidade Anhembi Morumbi, ele estava prestes a ir para o 6º ano do curso de Medicina. Seria o quinto médico da família – os dois irmãos mais velhos já são formados.

Tido como um filho amoroso, Marco Aurélio era amante da música – tinha uma carreira amadora de MC – e gostava de jogar futebol.

Neste sexta, como forma de homenageá-lo, muitos colegas foram com a camisa do time da atlética de Medicina da faculdade.

Durante o sepultamento, os amigos colocaram ainda sobre as dezenas de coroas de flores enviadas por amigos algumas camisas de futebol usadas por Marco Aurélio – ele gostava de usar o número 20 –, além de retratos com fotos do estudante.

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Os familiares levaram o cachorrinho de estimação de Marco Aurélio, tido como um xodó dele. “Nós cuidaremos do Hardy por você”, dizia uma das mensagens pregadas nas coroas de flores.

Frank Cardenas Acosta (ao centro), durante o velório do irmão Marco Aurélio nesta sexta-feira. Foto: Felipe Rau/Estadão

O sepultamento do estudante, que sonhava em seguir a carreira de pediatra, foi marcado por comoção, com salvas de palmas em diferentes momentos. O velório começou por volta das 10h desta sexta.

No enterro, por volta das 16h, familiares homenagearam Marco Aurélio com a reprodução de músicas como “Sabes que la distancia és como el viento”, de Domenico Modugno, com trechos cantados em coro pelos presentes.

Como foi a abordagem policial

Na quarta-feira, em nota, a SSP afirmou que o estudante teria golpeado uma viatura e resistido ao ser abordado. Imagens do hotel mostram o momento da ação, mas ainda não está claro o que ocorreu entre o jovem e os PMs na rua antes de ele ser baleado à queima-roupa na altura do peito no saguão do estabelecimento.

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Conforme as investigações, as imagens das câmeras corporais que registraram o fato serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse lamentar a morte do estudante. Ele também afirmou que abusos serão “severamente” punidos.

A polícia de São Paulo matou neste ano 496 pessoas entre janeiro e setembro, o maior número para o período desde 2020.

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