Vídeo: A mansão do pioneiro do modernismo que virou ‘casa da música’ e onde Marina Sena cria álbum

Imóvel projetado por Gregori Warchavchik agora é endereço da ‘Casa da Música Brasileira’, liderada pela empresária Talita Morais e cantora; veja como é espaço, no encontro do Pacaembu com a Consolação, em São Paulo

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Foto do author Priscila Mengue
Atualização:

Há quase 100 anos, Gregori Warchavchik idealizou as três casas pioneiras da arquitetura moderna no Brasil. Considerada por alguns especialistas como a mais ousada do trio e tombada como patrimônio cultural nacional, a residência da Rua Bahia está em um novo momento. E inspirado no seu passado inovador: a transformação em A Casa da Música Brasileira (ou “Zuca”, para os íntimos).

A mansão fica em um grande terreno em declive, que se estende até a Rua Itápolis, na confluência do Pacaembu e da Consolação, no centro expandido de São Paulo. Agora faz parte de uma grande empreitada da empresária musical Talita Morais e da cantora Marina Sena, conhecida especialmente pelos hits Por supuesto e Ai, que delícia o verão. O local é um misto de casa de espetáculos para convidados, estúdio, espaço criativo e mais.

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A escolha do local foi quase um “amor à primeira vista”, quando Talita o viu ao prospectar espaços pela rua, cujo nome chamou a atenção (por ser baiana). Para ela, a arquitetura e o pioneirismo de Warchavchik são uma inspiração para os projetos que estão desenvolvendo no endereço.

“Quando a gente entrou no projeto e, de fato, entendeu a história da casa, falou: ‘cara, é aqui’. O modernismo só casou com toda a narrativa do projeto, que é justamente esta: de a gente ser essa nova geração, esses novos modernistas, esses novos movimentos da cena, da arte, da cultura brasileira”, conta Talita. “Também é um dos nossos objetivos: que nasçam aqui grandes projetos e grandes discos da música brasileira”, completa.

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Um dos ambientes da Zuca, sediada em casa do pioneiro do modernismo Foto: Alex Silva/Estadão

Por lá, o novo álbum de Marina (temporariamente chamado apenas de “MS3″, por ser o terceiro da cantora) tem sido criado, ensaiado, gravado e apresentado (em pocket shows ao vivo e em publicações nas redes sociais).

Outros tantos músicos e cantores têm sido chamados para apresentações no espaço, patrocinadas pela Petra, assim como há um plano em desenvolvimento para receber artistas selecionados, quase como uma “residência artística”. Tudo é restrito a convidados, sem venda de ingressos.

Talita Morais, sócia do Zuca Foto: Alex Silva/Estadão

Casa mantém grande parte das características originais

Com quatro pavimentos, a casa mantém grande parte das características originais, como a grande escadaria, os vitrais da fachada e as varandas (com vista livre para Pacaembu, Higienópolis e outras vizinhanças). Parte do paisagismo original foi mantido, com um grande jardim em três níveis, no qual chama a atenção o pau-ferro (árvore nativa da Mata Atlântica).

“O legal da casa é que tira dessa São Paulo urbana, tem um acolhimento da natureza. A casa toda é circundada por árvores. Todo mundo que entra aqui diz: ‘nossa, onde estou? Parece que passei por um portal’”, relata Talita.

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Zuca fica na Casa Modernista da R. Bahia, projetada pelo pioneiro do modernismo, Gregori Warchavchik Foto: Alex Silva/Estadão

É a última do trio de casas pioneiras do arquiteto modernista, a primeira que deixou o formato de “cubo”, para uma construção de dois volumes e quase verticalizada. “Estudante de Arquitetura bate toda a hora na porta para entrar”, conta a empresária. A adaptação do espaço para a Zuca foi feita pela Niwarq Arquitetura, com design de interiores de Marianne Zasso.

Com a vontade de celebrar a música brasileira, chegou-se ao apelido do espaço, “Zuca”. “Veio desta provocação: de um termo (”brazuca”) que, muitas vezes, foi tido como pejorativo, dos outros países para o Brasil”, conta a sócia.

Ela também fala da sonoridade da palavra e por remeter ao feminino. “A gente também queria encontrar uma palavra que trouxesse a essência feminina, porque é um projeto liderado por duas mulheres”, explica.

Cantora Marina Sena é uma das sócias do espaço Foto: Alex Silva/Estadão

O conceito da Zuca envolve, em parte, a ideia de trazer discussão e uma experiência mais intimista. “Às vezes, parece que tudo virou um grande festival, tudo muito cheio, com muitas pessoas”, diz. Na prática, o pequeno público convidado a vivenciar in loco é multiplicado por meio da internet.

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Por lá, há espaço de coworking, estúdio de foto, estúdio de gravação, salas de ensaio de dança, camarim e outros tantos ambientes considerados essenciais para as necessidades com a realidade da música em tempos de redes sociais. Além da funcionalidade, todos foram criados para serem “instagramáveis”, de modo que podem ser o pano de fundo de clipes, ensaios fotográficos e “publis” (anúncios).

Parte desse cotidiano é compartilhado nos perfis da artista. Um exemplo é a recente postagem abaixo, com imagens do desenvolvimento do novo álbum.

Localizado em um corredor de comércios e serviços, o espaço não é uma unanimidade na vizinhança, contudo. Há alguns moradores que têm reclamado do barulho dos eventos, enquanto os responsáveis dizem obedecer o Programa Silêncio Urbano (PSIU). Procurada, a Prefeitura disse não ter registro de violação à lei de silêncio no local.

Quem foi Gregori Warchavchik?

Ucraniano naturalizado brasileiro, Warchavchik é o autor da primeira casa modernista do Brasil, de 1928, na Vila Mariana, na zona sul. A residência é parte do atual Parque Modernista.

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Poucos anos depois, projetou a residência da Rua Itápolis (inaugurada com uma exposição sobre o modernismo, em conjunto com artistas do movimento, como a pintora Tarsila do Amaral), no Pacaembu. Em 1930, foi a vez da casa da Rua Bahia.

Dentre suas obras conhecidas, estão o Museu Lasar Segall, na Vila Mariana, o Centro Cultural Aúthos Pagano, na Lapa, e o Edifício Cícero Prado, na Avenida Rio Branco, no centro.

O arquiteto era casado com Mina Klabin, que assinou o paisagismo de parte de seus projetos. Também foi sócio de um escritório de arquitetura em conjunto com Lucio Costa, no Rio de Janeiro.

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