Vídeo: PM intimida e chama vendedor africano em rua do Brás de ‘neguinho’

Secretaria de Segurança Pública do Estado diz não compactua com atos discriminatórios e que agentes envolvidos serão alvo de medidas cabíveis

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Foto do author Caio Possati
Atualização:

Policias Militares de São Paulo foram filmados intimidando e fazendo comentários racistas, homofóbicos e xenofóbicos contra um vendedor da Costa do Marfim, na Avenida Rangel Pestana, no Brás, região central da capital paulista. As cenas foram filmadas por pessoas que testemunharam a abordagem policial.

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Durante a discussão, flagrada por um vídeo obtido pela reportagem, um dos agentes xinga a vítima, que está com seu carrinho de mercadorias ainda fechado. Em determinado momento, o militar afirma a uma pessoa: “leva esse porr* daqui” - se referindo ao vendedor.

Ele ainda diz as palavras “neguinho”, “viado” e “pau no c*” na direção do costa marfinense, e chama a vítima: “Vem, eu estou com a arma”, repete em voz baixa.

Policias militares discriminam vendedor africano no Brás, em São Paulo Foto: Enviado pelo centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-SP) afirma que os agentes envolvidos na história serão “reorientados”, e que as imagens compartilhadas vão ser analisadas para maiores esclarecimentos sobre a ocorrência. Se necessário, a Polícia Militar vai tomar as medidas cabíveis, informou a pasta.

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A SSP-SP disse ainda que “não compactua com atos discriminatórios” e que “reforça em seus cursos de formação e atualização disciplinas com ênfase em direitos humanos, igualdade social, diversidade de gênero, ações antirracistas, entre outras”.

A ocorrência aconteceu no dia 12 de outubro, durante uma ação da Polícia Militar da Operação Delegada, realizada para coibir o comercio ambulante na cidade. O caso só foi denunciado para a Ouvidoria da PM nesta semana, pelo Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos.

A Ouvidoria da PM foi questionada sobre a denúncia, mas não deu retorno até a publicação da matéria.

Segundo Ananda Endo, advogada do centro e que está à frente do caso, a vítima - que não teve o nome divulgado por questão de segurança - não estava praticando nenhuma venda no momento em que as ofensas foram feitas.

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“Por conta do cenário de violência muito intenso ali no Brás, principalmente contra os ambulantes imigrantes, tem dias que ele (a vítima) leva a mercadoria e fica com o carrinho fechado sem expor os produtos esperando para ver se é seguro, ou não. E, nesse dia ele estava aguardando com o carrinho fechado, sem realizar o comercio ambulante”, diz a defensora.

“No vídeo”, acrescenta Ananda, “dá para ver um policial empunhando a arma e ameaçando, (falando) ‘Vem neguinho’, provocando mesmo para o confronto.

Em outro vídeo também obtido pela reportagem, o vendedor diz aos policiais que não está trabalhando, afirma também que não possui arma e que “não iria para cima” do agente. Em determinado momento, ele questiona os militares o porquê de estar sendo ameaçado. Neste mesmo registro, é possível ouvir o policial dizendo: “Você não está no seu país”.

Ao Estadão, a esposa do vendedor diz que o marido é uma pessoa que sempre respeitou a policia, e que os agentes de segurança da Costa do Marfim não realizam abordagens com o mesmo nível de truculência. “Meu marido acha uma vergonha brigar com um policial fardado”, disse a mulher, que preferiu o anonimato.

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Apesar de o episódio ter acontecido há quase 20 dias, ela admite que ainda se sente temerosa para voltar a fazer as vendas na rua. “A gente fica apreensiva, com medo, porque eles (os policiais) marcam a gente, né”, diz. “A gente sabe que o trabalho ambulante é ilegal, mas a gente vive disso, nós precisamos dele para alimentar a nossa família.”

De acordo com Ananda, o vendedor costa marfinense é casado com uma brasileira e possui uma filha nascida no País. A sua situação no Brasil, diz a advogada, esta regularizada, por possuir o Registro Nacional Migratório (RNM), documento que identifica estrangeiros residentes no Brasil.

A defensora afirma que o que aconteceu com o vendedor da Costa do Marfim é uma dentre outras “muitas denúncias” que o Centro Gaspar Garcia recebe de violência praticada por agentes policiais em Operação Delegada.

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