Vítimas e parentes vivem desamparo e buscam indenização

Procuradoria Geral do Estado (PGE) vai avaliar os pedidos de indenização, que só foram protocolados nesta quinta pela Defensoria Pública de São Paulo

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O pintor Amauri convive com sequelas Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

Convivendo com a saudade e com dificuldades financeiras, familiares de vítimas e sobreviventes da chacina se dizem desamparados pelo poder público. Parte aguarda reparação material, uma vez que os crimes foram cometidos por agentes de segurança, enquanto esperam que os responsáveis sejam punidos na Justiça. A Procuradoria Geral do Estado (PGE) vai avaliar os pedidos de indenização, que só foram protocolados nesta quinta-feira, 11, pela Defensoria Pública de São Paulo.

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Entre as vítimas, está o pintor Amauri José, de 54 anos. A bala que entrou pela sua bochecha e saiu pela nuca, arrancou-lhe todos os dentes de cima, a capacidade de mastigar e a força da voz. Hoje, fala baixo: um sussurro marcado por tosses de falta de ar. A clavícula esquerda também foi danificada. Canhoto, Amauri não consegue levantar o braço acima do ombro nem segurar dois quilos em uma mão. “Não recuperei nem metade da minha vida”, diz.

O pintor é um dos dois sobreviventes do maior dos ataques, na Rua Antônio Benedito Ferreira, em Osasco, com oito mortos. “Eu só me lembro de ter entrado no bar”, conta. Quando os mascarados chegaram, Amauri estava bêbado e dormia em uma das cadeiras espalhadas na calçada. Foi o terceiro a ser baleado. Levado para o hospital, passou por cirurgia e 75 dias de internação - 13 deles em coma. Correu risco de ficar paraplégico e só deixou de se alimentar por sonda há um mês. O tempo que passou deitado rendeu cicatrizes nas costas. “Eu perdi 13 quilos.”

“Até hoje, ninguém do governo me deu ajuda. Eu não consigo mais trabalhar”, afirma o pintor, que mora em um quarto e divide uma cama de casal com uma filha desempregada e um neto de 3 anos. Também teve dois pedidos de aposentadoria negados no INSS. Sem renda, vive de doações de amigos.

Família fez homenagem a vítima Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO

Mãe de Wilker Osório, morto aos 29 anos, a doméstica Rosa Correa, de 49, está desempregada. Desde que o filho foi alvo de 40 tiros - o maior número de disparos entre as vítimas - em uma rua de Barueri, não conseguiu mais pagar o aluguel de R$ 740 do apartamento que dividia com ele. Hoje, mora com uma irmã, que tem câncer. “A gente está ao Deus dará. Sempre nos trataram com descaso, como se não fôssemos nada”, diz. “Só consigo comida porque recebo cesta básica da Igreja.”

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Na mochila de Wilker, que era ajudante de pedreiro, a perícia encontrou uma marmita, talheres, além de hortelã e de capim-santo. As folhas seriam usadas para fazer um chá para mãe, que estava gripada naquele dia 13. “Ele era meu guardião”, diz Rosa, que tirou as fotos do filho da casa para evitar falar da chacina o tempo inteiro. “Procuro ser forte pela minha família. Quando choro, choro escondida.”

Em nota, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) afirma que ao menos cinco vítimas ou familiares dos ataques em Osasco e Barueri foram atendidas em equipamentos estaduais como o Hospital Estadual de Itapevi e o Hospital Regional de Osasco. Também disse que o Estado oferece a possibilidade de reparação de danos causados por agente público sem a necessidade de ação judicial, mas a decisão cabe à PGE, que vai avaliar os pedidos.