“Normalmente o povo de Campos que vem passar o dia aqui, não o contrário”, diz um comerciante para um provável turista na rua. Apesar de ter tantas opções de passeio quanto a vizinha Campos do Jordão, alimentação e hospedagem muito mais em conta e quantidade de visitantes pelas ruas em quantidades drasticamente menores, Santo Antônio do Pinhal, a 147 quilômetros de São Paulo, ainda não é o primeiro destino escolhido pelos viajantes.
O charme da cidade se divide entre os espaços naturais, com jardins e mirantes, e o centro, cheio de história e arte. Sem contar o romantismo do local. Decks de madeira para caminhadas perto do rio, rua decorada com guarda-chuvas coloridos, arranjos de flores espalhados pelo centro.
O próprio nome da cidade, aliás, vem da Capela Matriz, construída em 1811 em devoção ao Santo Antônio de Pádua, o santo casamenteiro. Logo ao lado, cerca de 600 metros de distância, está a outra igreja famosa da cidade, a Igreja São Benedito. Sua beleza não chama tanta atenção quanto um dos cartões-postais da cidade que fica em seus jardins: o relógio ornamental.
As casas dos moradores realmente não seguem um padrão único - tem um pouco de tudo. Mas no Boulevard Araucária todos estabelecimentos seguem uma tendência alemã de construção tornando-a um local super charmoso com boas opções para comidas, compras de artesanatos e quitutes da região. As lojas mais famosas que oferecem comidas e bebidas da região, no entanto, ficam mais afastadas.
É o caso da Bodega, que vende cachaças artesanais, ou da Mercearia Sensorial, que mistura belezas, aromas, texturas, sons e sabores de Santo Antônio. Há também o Santo Empório do Pinhal, especialista em queijos e doces da região e a Sorveteria Eisland com produções artesanais servidas no meio de uma fazenda.
Para incentivar o turismo, em setembro de 2023 a cidade lançou um “Passaporte Turístico”. Com ele (que custa R$ 2), o turista pode visitar as atrações da cidade - que também incluem restaurantes e pousadas - e carimbar de acordo com as experiências vividas. No final do passeio por Santo Antônio do Pinhal os carimbos são revertidos por souvenieres com a marca da cidade. Os recursos arrecadados com o passaporte são 100% revertidos em projetos de turismo.
Um ponto turístico muito procurado, especialmente aos finais de semana, é a Praça do Artesão, que leva esse nome por ser o ponto de encontro de artistas da cidade. Na entrada, há um Torii, portal japonês, que presta homenagem aos imigrantes japoneses dali. Um dos artistas, por exemplo, é Morito Ebine, que produz móveis seguindo as técnicas de encaixe da tradicional marcenaria japonesa, sem utilizar pregos.
“Eu vim do Japão em 1995, mas lá eu já trabalhava com Marcenaria no Japão também. Conheci no Brasil pessoas que faziam carpintaria e aí comecei”, conta Ebine. Diferente da marcenaria, que tem um processo mais artístico, a carpintaria foca em produções mais pesadas e industriais. Juntando o conhecimento dos dois, ele criou o seu próprio ateliê: Morito Ebine Móveis.
Por lá, faz-se uso da técnica sashimono, que é a técnica do encaixe japonesa. Ou seja, nenhum móvel leva prego ou qualquer coisa que conecte os pedaços de madeira, além do encaixe natural. “Há também a técnica kurimono, na qual cavamos a madeira”, ressalta ele, que sempre está no ateliê trabalhando quando os visitantes aparecem para ver suas obras. Não esqueça de olhar com cuidado na parede de “livros” de madeira, logo na entrada da loja. O espaço mostra a sabedoria e respeito que o artista tem com cada um dos tipos de madeira.
Outra artista que foi inspirada pela cidade foi a libanesa Odette Eid. Em 2022, ano em que completaria 100 anos, seus filhos decidiram doar 16 de suas esculturas para a cidade, que estão espalhadas pelo centro, gerando um Museu a Céu Aberto.
Suas obras geralmente são feitas de bronze e variam em retratar o feminino, os animais, a religião ou a família. Na maioria deles há um QR Code que oferece detalhes da obra e de outros ateliês famosos da cidade. No site da prefeitura da cidade também há uma lista de todos os ateliês, artistas e designers do local.
Também no centro, o visitante encontra uma das três fontes de águas minerais de Santo Antônio do Pinhal, a Fonte Santo Antônio.
Diz a lenda que a água da cidade é medicinal e tem propriedades terapêuticas, mas nunca houve pesquisa comprovando tal afirmação. Além da mais conhecida e central, que leva o nome da cidade, é possível visitar a São Geraldo, com água classificada como magnesiana, e a São Estevão, com a água ferruginosa.
“Não sei se é milagrosa ou não, mas sei que mata a sede e é boa”, brinca o empresário e morador de Campos do Jordão, Pedro Granato, de 30 anos, que está construindo um estabelecimento na cidade.
Visitas gastronômicas
Não deixe de visitar a tríade gastronômica de Santo Antônio do Pinhal: o azeite, o vinho e a cerveja. Na Cervejaria Araukarien, a região é homenageada em cada um dos 15 estilos de cerveja, que se dividem entre sabores e intensidade.
“Nosso slogan é deguste a história de Santo Antônio do Pinhal. Cada garrafa homenageia um fato da cidade, um bairro ou até moradores, que foi o caso dos meus avôs Cema e Cirinho”, conta o sócio proprietário Thiago Carvalho, 46 anos.
Uma das mais famosas é a Pinhãoense, uma cerveja Pale Ale que leva pinhão na elaboração e é a única que faz jus ao logo da marca, que é a semente. Também recomendo a Neblina da Serra, uma Weizenbeer com notas de banana e a Pico Agudo, uma Catharina Sour que lembra um frisante com sabor de amora.
O melhor do lugar é fazer a degustação das cervejas (a régua convencional vem com seis estilos por R$ 30) e aproveitar a vista das montanhas com araucárias. Claro que também é possível visitar a fábrica que produz 30 mil litros mensais de cerveja. “No processo, o bagaço que sobra, recolhemos e usamos nos nossos pães e quibes. O excedente vai para alimentação animal”, diz.
Vale a pena também a parada na Vinícola Boutique Espaço Essenza, com opções de vinho e azeites premiados. Localizado há 14km do centro de Santo Antônio do Pinhal, o local fica a 1.200 metros de altitude e possui uma paisagem rodeada pela Mata Atlântica.
É possível visitar o espaço para observar as plantações de parreiras e olivais, mas também degustar os resultados de cada um na harmonização (R$ 250 por pessoa). “A gente queria fazer uma harmonização onde pudéssemos fornecer nosso vinho junto com alimentos produzidos em sua maior parte com ingredientes também da vinícola”, explica Zé Márcio Cunha, sommelier da vinícola.
“Nosso Shiraz Rosé recebeu medalha de prata e bronze no Decanter World Wine Awards pela safra 2020 e 2021 respectivamente e o azeite Mantikir recebeu quatro prêmios internacionais só em 2024″, ressalta ele.
Outra opção é alugar um bangalô por R$ 560 e fazer um piquenique com cesta recheada de produtos artesanais, como a tábua de charcutaria, empanada, pães , truta em fatias, guacamole com romã, azeite geleias, mel, morangos e uma garrafa de vinho Essenza. Ou ainda passar a tarde no restaurante que leva pratos harmonizados com a especialidade da casa divididos em menus de três, cinco ou sete passos.
Outro azeite bastante premiado da região é o Sabiá, que já foi eleito um dos melhores do mundo por três anos consecutivos e em maio deste ano foi destaque na competição turca Anatolian IOOC, que celebra os melhores azeites do mundo. É possível visitar a Fazenda do Campo Alto, que produz o líquido, e degustar o famoso azeite por R$ 59.
Natureza deslumbrante
A cidade conta com diversos mirantes para observar a natureza do alto. O mais famoso deles é o Pico Agudo, elevação de 1700 metros que garante vista 360º para a Serra da Mantiqueira. É possível chegar por ali tranquilamente de carro - ainda que seja preciso passar por uma estrada de terra - ou aproveitar o passeio para fazer um trekking (uma trilha mais longa e intensa) de nível médio, com duração aproximada de 4h30 e percurso de 11 km (ida e volta). Para os mais aventureiros, o espaço também é ponto ideal para saltos de parapente e asa-delta.
Uma boa dica é ir lá durante o nascer ou o pôr do sol. Especialmente no outono que o céu costuma ficar lindo, vê-se um verdadeiro espetáculo. Para aproveitar, vários moradores levam cadeiras, cangas, vinhos e comidinhas para aproveitar a tarde.
“A gente mudou de São Paulo para cá faz um ano e meio, mas mesmo antes vínhamos aqui ver essa beleza. É lindo perceber como em cada época do ano o pôr do sol é diferente por aqui. Mas sempre lindo, é emocionante”, conta a veterinária Michelle Ayres, de 46 anos.
“Sempre chegamos uma hora antes do pôr do sol, com um vinho ou alguma coisa a mais, aproveitamos o sol e ainda ficamos para ver a chegada da lua e das estrelas. É para aproveitar o momento mesmo”, completa o marido Sergio Nakayama, de 66 anos.
No caminho para a cidade, ainda na rodovia Dr. Caio Gomes Figueiredo, que leva para a cidade, o Mirante Nossa Senhora Auxiliadora também oferece uma vista ampla da região. Em dias limpos é possível observar cidades do Vale do Paraíba, como Taubaté, Tremembé e Pindamonhangaba.
O ponto fica ao lado da Estação Ferroviária Eugênio Lefèvre, construída em 1914 com a intenção de transportar pacientes tuberculosos de Pindamonhangaba para os sanatórios de Campos do Jordão. Depois, na década de 1970 passou a ser turística, mas encerrou as atividades em 2019. Hoje só existe o passeio urbano em Campos do Jordão, onde o trem faz o passeio somente dentro da cidade.
Se decidir dar uma parada por lá, aproveite para tirar fotos nos trilhos do trem e degustar o bolinho de bacalhau mais famoso da cidade no Bolinho de Bacalhau e Cia.
O Jardim dos Pinhais oferece imersão na natureza em jardins diferentes do mundo. Ao todo são dez jardins, cada qual com sua característica única, além de mini-fazendinha e espaços para meditação. O passeio dura cerca de 40 minutos e custa R$ 49 por pessoa. Em dias mais quentes é possível visitar também a Cachoeira do Lageado (taxa de entrada de R$ 20), com trilha fácil e espaço para banho ou a Cachoeira do Arco-Íris, que fica dentro do Restaurante Arco-Íris - ótimo lugar para passar a tarde sem pressa.
Serviço
- Morito Ebine Móveis
Endereço: Rua Caminho da Montanha, 296
Horário de Funcionamento: terça a sábado, das 10h às 17h
- Fonte Santo Antônio
Endereço: Rua Gov. Carvalho Pinto
- Cervejaria Araukarien
Endereço: Rodovia Oswaldo Barbosa Guisardi, 7600
Horário de Funcionamento: terça a domingo, das 11h às 18h
- Espaço Essenza Vinícola Boutique
Horário de Funcionamento: quinta a domingo, das 10h30 às 16h
Mais informações: www.espacoessenza.com.br/
- Fazenda do Campo Alto
Endereço: Estrada Municipal Pedro Joaquim Lopes, Estr. do Lageado, 3931
Horário de Funcionamento: quinta a segunda, das 9h30 às 16h30
- Bolinho de Bacalhau e Cia
Endereço: Estação Ferroviária Eugênio Lefèvre
Horário de Funcionamento: dias de semana das 10h às 18h; sábados e domingos, das 08h30 às 18h; fechado às quintas-feiras
- Jardim dos Pinhais
Endereço: Av. Antônio Joaquim de Oliveira, 2600
Horário de Funcionamento: dias de semana das 9h às 17h; sábados e domingos, das 9h às 18h; fechado às terças-feiras
- Cachoeira do Lageado
Endereço: Estrada Municipal do, Estr. do Lageado, S/n
Horário de Funcionamento: sábado e domingo, das 10h às 17h
