A formação da voçoroca, como é conhecido este fenômeno geológico, em Lupércio, no interior paulista, é atribuída pela Defesa Civil do Estado de São Paulo a falha em uma galeria pluvial local. É o que apontou a inspeção realizada na quarta-feira, 24. No mesmo dia, a Defesa Civil iniciou os trabalhos para determinar alternativas na contenção da cratera que se abriu no município. A erosão já se manifesta há seis anos, desde 2017, mas passou a avançar nos últimos meses.
“Parcialmente na análise da vistoria mostrou que essa falha na galeria pluvial é um dos fatores preponderantes. Mas não podemos falar somente por causa da galeria pluvial, pois tem a questão da chuva, se não chove, a galeria fica ali, mas não tem a erosão. É um conjunto de fatores e um deles está relacionado com a galeria”, disse o capitão Roberto Farina.
A galeria pluvial é um sistema de canalização subterrânea que têm como objetivo a captação e escoamento de água pluvial coletada pelas bocas coletoras.
Segundo Farina, o relatório está analisando até que ponto realmente ela tem uma influência sobre a situação. “Por exemplo, por onde a galeria pluvial passa, se algum encanamento deu algum problema e não foi consertado. Estamos fazendo um relatório para poder entender tecnicamente e com profundidade aquilo. Ele dará informações detalhadas sobre o ocorrido”, acrescenta Farina.
O trabalho foi acompanhado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que colaborou na coleta de informações e avaliação de riscos e instabilidade. As análises, que terão resultado nos próximos dias, também estudam a necessidade de desapropriação de imóveis. A hipótese está descartada no momento em função de medidas de contenção anteriores adotadas pela prefeitura do município.
Atualmente, o buraco erosivo está com 300 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de profundidade. Pelo Google Maps, é possível ver que a cratera se aproxima da Rua Dr. Adamastor Ferreira Costa e da Avenida Santo Inácio. Segundo a gestão atual, o custo estimado nessas obras é de R$3 milhões.
“Este problema de infraestrutura tem permitido que as águas das chuvas erodam o solo de maneira agressiva, resultando em um avanço da erosão na região. As previsões meteorológicas indicam uma ausência de chuvas mais fortes nos próximos dias, o que contribui significativamente para a contenção do problema e oferece uma janela de oportunidade para as intervenções emergenciais”, acrescenta a Defesa Civil.
Localizado a cerca de 450 quilômetros da capital paulista, nos arredores de Bauru e Marília, o município de Lupércio tem quase 4 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Procurada, a prefeitura de Lupércio não se pronunciou sobre o assunto.
O que é voçoroca?
Palavra de origem tupi-guarani, vossoroca significa ‘terra rasgada’. É é um tipo de erosão intensa que forma grandes buracos no solo devido à ação da água da chuva sobre terrenos vulneráveis, segundo o capitão Roberto Farina, diretor de comunicação da Defesa Civil do Estado de São Paulo.
“Esse fenômeno pode crescer progressivamente se não for controlado, levando à destruição de grandes áreas de terra, o que compromete propriedades e a segurança dos habitantes locais”, conforme alerta a Defesa Civil.
Segundo o capitão Farina, geralmente, a voçoroca acontece quando tem uma infiltração na terra e a vegetação de cima, que cobre, está danificada, ou seja a superficialidade dela não suporta o escoamento.
“Temos a infiltração, com a terra já meio frágil é um fator que pode colaborar para a questão do buraco. O Brasil é uma região que é muito propensa a voçoroca porque temos muitos lençóis freáticos (reservatórios subterrâneos de águas provenientes da chuva que se infiltram no solo por meio de rachaduras). Isso acaba interferindo também. Tem espaços embaixo da terra que são ocos e quando há infiltração na terra pela água da chuva, isso ajuda a criar voçorocas”, afirma Farina.
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