5 pontos fundamentais para levar em conta ao escolher a pasta de dente

Escolha tem impacto significativo na saúde bucal; componentes e necessidades terapêuticas são fatores que devem pesar na decisão

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Atualização:

É normal que a boca contenha diversas bactérias. O problema é que, ao contrário de outras superfícies do corpo, os dentes não se renovam constantemente, permitindo que as bactérias se acumulem neles.

Há uma quantidade certa de pasta de dente para cada faixa etária Foto: carballo/Adobe Stock

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Segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), esse acúmulo forma o chamado biofilme, uma espécie de comunidade organizada que resiste tanto às defesas naturais do organismo quanto a produtos antimicrobianos, sendo o principal fator para o desenvolvimento da cárie.

A melhor maneira de evitar o problema é remover mecanicamente as bactérias, ou seja, escovar os dentes regularmente. Mas como escolher a pasta de dente? Abaixo, listamos algumas orientações para ajudar nessa decisão.

1 - Flúor: ingrediente necessário contra as cáries

Independentemente da marca ou das promessas extras na embalagem, uma coisa é certa: o flúor é fundamental para prevenir cáries. Ele é o principal agente terapêutico nos cremes dentais e as doses usadas nos produtos, ao contrário de boatos disseminados na internet, não fazem nenhum mal à saúde.

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De acordo com Paulo Frazão, presidente da Câmara Técnica de Saúde Coletiva do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), a eficácia do flúor só é garantida em concentrações a partir de 1.000 ppm (partes por milhão). Cremes dentais com valores abaixo disso podem não ser a melhor escolha. No Brasil, a legislação permite até 1.500 ppm, e essa informação pode ser encontrada no rótulo, na lista de ingredientes.

“O fluoreto solúvel é indicado para todas as pessoas que têm dentes naturais na boca e têm interesse em proteger os dentes da ocorrência de cáries. Pessoas sem dentes naturais não têm necessidade desse componente”, destaca.

Com a polêmica em torno do mineral, baseada em informações sem fundamento, algumas marcas lançaram versões sem flúor, mas não há evidências de que esses produtos realmente protejam contra as cáries, assim como acontece com as pastas à base de carvão ativado.

2 - Necessidades terapêuticas

Além do combate à cárie, observar outras necessidades terapêuticas é uma tarefa importante na hora de fazer a escolha — isso inclui predisposição à formação de tártaro, inflamação na gengiva (gengivite) e sensibilidade nos dentes.

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“Os cremes dentais com agentes antibacterianos ajudam a reduzir a inflamação da gengiva, enquanto certos componentes abrasivos podem dificultar a formação do tártaro, que é a placa bacteriana endurecida nos dentes”, explica Frazão.

“Já os cremes com agentes dessensibilizantes são indicados para quem sente dor ao consumir alimentos quentes, frios ou doces, pois ajudam a reduzir a sensibilidade”, diz. Nesses casos, o ideal é buscar orientação do dentista para a definição do melhor produto.

3 - Componentes e reações alérgicas

Segundo Frazão, os cremes dentais são resultado de muita pesquisa e desenvolvimento tecnológico, e todos os componentes usados são liberados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Sua composição geralmente inclui, entre outras substâncias:

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  • os abrasivos, que ajudam a remover manchas superficiais e placa bacteriana por meio de um polimento suave;
  • os tensoativos, que funcionam como detergentes, formando espuma e facilitando a remoção de resíduos;
  • os umectantes, que evitam que a pasta resseque e endureça com o tempo;
  • os agentes terapêuticos, como o flúor, que protege contra cáries, e o zinco, que auxilia no controle da gengivite e do mau hálito;
  • e os agentes cosméticos, como os clareadores.

“Embora seja raro, algumas pessoas podem apresentar reações alérgicas a algum ou alguns dos ingredientes. Caso alguma reação seja percebida, o ideal é abandonar o uso e procurar um cirurgião-dentista”, orienta Frazão.

Recentemente, a Anvisa suspendeu a venda da pasta Colgate Total Clean Mint após relatos de efeitos adversos, como inchaço nas amígdalas, lábios e mucosa oral, além de sensação de ardência, dormência, boca seca, gengiva irritada e vermelhidão. O produto é uma nova versão da Colgate Total 12 e, ao contrário da anterior, utiliza fluoreto estanoso, não fluoreto de sódio. A troca, porém, pode não ter relação com as reações reportadas, que estão sendo investigadas pela Anvisa.

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O fluoreto estanoso é um agente terapêutico com eficácia antibacteriana. Além de ajudar na prevenção de cáries, também contribui para a saúde gengival, conforme o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).

“O fluoreto estanoso é utilizado em cremes dentais há mais de 30 anos”, explica o dentista. “Os casos de efeitos adversos devem ser investigados com cuidado para entender se estão relacionados a esse componente ou a outros ingredientes na fórmula do creme dental.”

4 - Branqueadores

Os cremes dentais clareadores são eficazes na remoção de manchas superficiais, mas não alteram a cor natural dos dentes. Para um clareamento mais profundo, a orientação é procurar tratamentos odontológicos supervisionados.

Vale lembrar que esses produtos não devem ser usados por longos períodos, pois podem desgastar o esmalte dentário e aumentar a sensibilidade. Isso acontece porque muitos clareadores contêm partículas abrasivas que, embora removam manchas superficiais, acabam causando atrito no esmalte com o uso contínuo. Com o tempo, esse desgaste pode tornar os dentes mais sensíveis.

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Segundo o cirurgião-dentista Eudes Gondim Junior, doutor em endodontia, o esmalte é considerado a “pérola do dente”. O especialista alerta que escovas com cerdas duras, como as de nylon, combinadas com cremes dentais altamente abrasivos podem ampliar o desgaste. “Um teste simples para avaliar a abrasividade do produto é esfregá-lo nas digitais: se houver sensação de grânulos, significa que ele pode aumentar o risco de erosão”, orienta.

5 - Crianças

As opções de cremes dentais para crianças geralmente apresentam personagens e sabores diferentes, mas isso está mais relacionado ao marketing do que necessariamente à saúde.

De acordo com a Universidade de São Paulo (USP), crianças podem usar pasta de dente de adulto com flúor em concentração acima de 1.000 ppm. O que realmente importa é a quantidade aplicada na escova. Para os pequenos, as recomendações são:

  • 0 a 3 anos: aplicar o equivalente a meio grão de arroz cru
  • 3 a 6 anos: aplicar o equivalente a um grão de arroz
  • acima de 6 anos (incluindo adolescentes e adultos): usar o equivalente a um grão de ervilha seca.

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Boa escovação não basta

Segundo o CFO, embora o acúmulo de biofilme seja necessário para o desenvolvimento da cárie, ele sozinho não é o culpado. O fator mais importante é a exposição frequente ao açúcar na alimentação, sendo o da cana (sacarose) o principal responsável pelo aparecimento de cáries. Assim, o açúcar é o fator negativo que favorece o desenvolvimento da cárie, enquanto o fluoreto é o fator positivo que ajuda a combater esse efeito.

“O ideal é que os dentes sejam escovados no mínimo duas vezes ao dia com creme dental fluoretado e que se tenha disciplina no consumo de produtos açucarados. Esse equilíbrio é alcançado quando os açúcares não são consumidos mais de seis vezes por dia”, destaca a instituição.