6 em 10 paulistanas na menopausa têm insônia; terapias alternativas são opção

Contra o problema, pesquisadores da Unifesp estudam eficácia de práticas como meditação e ioga

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Descanso. Maria Vanda: 'Hoje tenho o ritual de meditar e voltei a dormir 7 horas por noite' Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Desde a chegada da menopausa, a empregada doméstica Maria Vanda Cavalvante Silva, de 51 anos, não sabia mais o que era uma noite bem dormida. Com as intensas ondas de calor características desta fase, a paulistana acordava de meia em meia hora com mal-estar e tinha dificuldades para pegar no sono novamente.

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Depois de meses de martírio, ela procurou uma ginecologista especializada em sono da mulher e iniciou terapia de reposição hormonal, o que melhorou muito os sintomas. Mas a recuperação completa da qualidade do sono só ocorreu quando a paciente passou a praticar meditação, também por recomendação médica.

“A reposição diminuiu as ondas de calor, mas a meditação me fez prestar mais atenção à minha forma de pensar. Antes eu ficava preocupada com tudo. Hoje, tenho meu ritual de meditar todos os dias antes de deitar. Voltei a dormir sete horas por noite”, conta.

Assim como Maria Vanda, 32% das paulistanas têm problemas de insônia, o dobro do índice registrado entre os homens. Na fase da menopausa, esse porcentual sobe para 60% das mulheres. Foi pensando nesse enorme contingente de pacientes que pesquisadores do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), responsáveis por levantar esses números, começaram a estudar a eficácia de diferentes terapias para o problema.

Reposição hormonal e terapia comportamental são as técnicas mais utilizadas, mas, nos últimos anos, o grupo tem avaliado a eficácia das chamadas práticas integrativas, como ioga, meditação e massagem, e tem obtido bons resultados.

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Pesquisadora do instituto, a ginecologista Helena Hachul apresentou alguns desses resultados na 15ª edição do Brain Congress, evento sobre cérebro, comportamento e emoções que, neste ano, foi realizado em Gramado, no fim de junho, e acompanhado pelo Estado.

De acordo com a cientista, os resultados são principalmente importantes para mulheres que não querem ou não podem fazer a terapia de reposição. “Se a insônia começou após a menopausa, a reposição hormonal é a primeira opção de tratamento, mas há pacientes com contraindicação, como as que tiveram câncer de mama, então temos de pensar em opções”, relata.

Um dos primeiros estudos realizados por Helena que mostrou bons resultados foi o que indicou benefício da isoflavona, fitoterápico derivado da soja que atua como uma “terapia hormonal natural”. No experimento feito com 38 mulheres na menopausa, o índice de insônia caiu de 89,5% para 36,9% entre o grupo que consumiu o produto, enquanto entre as pacientes que tomaram placebo a queda foi de 94,7% para 63,2%.

Outros estudos do instituto mostraram eficácia ainda da acupuntura, meditação e massagem. Na mais recente pesquisa, publicada no periódico Menopause neste ano, foi observado efeito benéfico de mindfulness e relaxamento na qualidade do sono, redução da insônia, aumento do nível de atenção e redução dos sintomas da menopausa. “O próximo estudo será com aromaterapia”, conta a pesquisadora.

Floraci iniciou tratamento com acupuntura e meditação Foto: Felipe Rau/Estadão

Múltiplas causas. Os bons resultados das terapias alternativas no tratamento da insônia feminina estão relacionados ao fato de o problema ter múltiplas causas. “A menopausa é um momento de grande turbulência para a mulher. Ela sofre mudanças físicas, psicológicas, hormonais. O fator cognitivo/comportamental é muito importante e, dentro disso, estão inseridas práticas como meditação e relaxamento, mas não quer dizer que todas vão se beneficiar dessas terapias. Cada paciente responde de um jeito”, explica Luciano Ribeiro, neurologista e coordenador da Unidade de Medicina do Sono do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

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Em situações como o de Maria Vanda, a melhor opção foi combinar diferentes tratamentos, como o uso de medicamentos e hormônios com a adoção de práticas de relaxamento. No caso da costureira Floraci Duarte de Oliveira, de 61 anos, as terapias alternativas tornaram desnecessário o uso de medicamentos para dormir.

Depois da menopausa, a paciente também começou a ter dificuldades para dormir e, mesmo quando conseguia, despertava diversas vezes durante a noite. Muito ansiosa e preocupada, ela não tinha uma boa noite de sono nem usando medicamentos contra a insônia. “Eu até conseguia dormir com o remédio, mas não era aquele sono bom. Eu não me sentia descansada”,conta.

Há cerca de dois anos, iniciou tratamento com acupuntura e meditação e largou os remédios. Também começou a adotar a chamada higiene do sono, conjunto de hábitos que as pessoas devem praticar antes de deitar. “Não faço refeições pesadas, faço meditação, evito tomar muita água antes de deitar. Agora, consigo pegar no sono sem dificuldades, acordo menos vezes e me sinto mais disposta no dia seguinte”, conta ela.

Veja 8 dicas para quem sofre com insônia

- Deixe o ambiente com baixa luminosidade e procure, sempre que possível, dormir no mesmo horário - Evite tomar café entre o fim da tarde e o período da noite - Não mantenha relógio no quarto pois a angústia de olhar para ele a cada minuto torna o sono mais difícil - Não tenha TV no quarto - Só vá para a cama quando o sono vier; não faça outras atividades (comer ou mexer no celular) no ambiente que deveria estar restrito para o período de descanso - Busque formas de controlar o estresse e os chamados “pensamentos intrusivos”; meditação e exercícios de respiração podem ajudar - Faça exercícios físicos regularmente e procure manter uma alimentação saudável - Evite refeições pesadas durante a noite e procure jantar (comidas leves) três horas antes de dormir

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