7 mitos e verdades sobre o cérebro

Só usamos 10% da nossa capacidade mental? Há diferenças entre o cérebro de homens e mulheres? Confira as respostas para essas e outras dúvidas

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Foto do author Ana Lourenço

O cérebro é conhecido como um dos órgãos mais importantes do ser humano. Trata-se do “computador” do corpo, a nossa caixa de pensamentos e memórias. Talvez, por isso, seu funcionamento inspire tanta curiosidade.

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Uma das características mais admiráveis do cérebro humano é a sua capacidade de se adaptar. E isso não é lenda. O cérebro pode se moldar à maneira como é utilizado, em diferentes momentos da vida, com o objetivo de entregar uma habilidade gastando a menor quantidade de energia possível.

“A neuroplasticidade é justamente essa capacidade de criar conexões, formar nova sinapses, regenerar-se e gerar novas células de acordo com os estímulos que damos”, explica Ana Luíza Araújo, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Esses estímulos podem vir a partir de estudos, leitura, jogos de memória e palavra-cruzada, além do aprendizado de coisas novas, como línguas e música. Um estilo de vida saudável, com sono reparador, alimentação balanceada e prática de exercícios físicos, também ajuda.

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Abaixo, abordamos algumas crenças relacionadas esse órgão tão nobre e contamos o que faz sentido.

“O cérebro está completamente formado aos 18 anos”

Não é possível afirmar isso justamente pela neuroplasticidade. Especialistas acreditam que até o inicio da vida adulta, que varia entre os 20 e 25 anos, o cérebro esteja maduro – mas algo sempre pode mudar.

“A gente nasce com uma quantidade de massa cinzenta e vai maturando isso ao longo dos anos. No entanto, a cada novo aprendizado, criamos novas sinapses e conexões. A neuroplasticidade também pode ser forçada quando temos alguma lesão, como um trauma ou AVC. Nesse caso, outras células são recrutadas para suprir aquela região que a gente perdeu”, descreve Ana.

Conforme ela explica, o cérebro vai se moldando de acordo com o jeito que é usado e estimulado. Isso tem a ver com fatores externos, como estímulos ambientais e estilo de vida, e com a própria idade. Sabe aquela história de que crianças aprendem mais rápido do que adultos? Bom, é porque a neuroplasticidade é mais intensa para os pequenos do que para uma mente mais velha.

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“Usamos só 10% da capacidade do cérebro”

Mito. Essa história foi bastante reforçada com o filme Lucy, de 2014, uma ficção científica que defende justamente esse papo de que utilizamos somente 10% da capacidade cerebral – no longa, a protagonista evolui quando ultrapassa essa barreira. Mas a verdade é que usamos a capacidade total do nosso cérebro, o tempo inteiro.

“Nosso corpo é todo controlado pelo sistema nervoso central. Então, mesmo quando estamos dormindo, ele está sendo utilizado”, explica Ana Luíza. A gente só não é capaz de perceber esse trabalho em tempo integral.

Cabe destacar que a capacidade cerebral se refere às funções do órgão como um todo, abrangendo questões sensoriais, motoras, perceptivas e também o controle vegetativo do organismo. Dessa maneira, ele é recrutado de forma constante. “Não à toa, qualquer pequena lesão compromete alguma função cerebral”, pontua Ana.

Por isso, é bastante importante distinguir a funcionalidade do cérebro com a capacidade intelectual ou cognitiva. A última varia de pessoa para pessoa – e pode ser medida, por exemplo, pelo teste de quociente de inteligência (o famoso QI).

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“A atividade cerebral seria o ‘hardware’, ou seja, qualquer trabalho executado pelo órgão para a manutenção da saúde e do funcionamento do corpo físico”, explica o neurocirurgião e professor de neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Fernando Gomes. “Já a atividade mental está mais relacionada ao ‘software’ do cérebro, relacionado à inteligência e às emoções”, diferencia.

Ou seja, quanto mais você treina seu cérebro, mais conexões pode criar – e isso pode te dar uma performance cognitivo-intelectual melhor. Isso não significa, porém, que você está usando uma porção maior do cérebro.

Enquanto os homens pensam de maneira mais focada, as mulheres são multitarefas Foto: Freepik

“Há diferenças entre o cérebro da mulher e o do homem”

Sim, várias. Biologicamente falando, o cérebro do homem é maior e mais pesado que o da mulher. Ele também amadurece mais tardiamente do que o cérebro feminino. “A maturação cerebral das mulheres ocorre de um a três anos antes do que a dos homens”, compara Ana. Os hormônios sexuais – para os homens, a testosterona e para as mulheres, o estrógeno – também contribuem para as diferenças.

“O homem tem uma habilidade de ser mais focado, de dar preferência às atividades mecânicas e matemáticas, já a mulher tem a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, além da sensibilidade mais ressaltada”, explica a neurologista.

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Isso tudo tem a ver com a formação cerebral de cada um. Há mais diferenças: o hipocampo, por exemplo, que é uma área mais relacionada à memória, é maior nas mulheres. Já a amígdala, que é mais ligada à agressividade, é maior nos homens. Isso, no entanto, não interfere na capacidade cerebral e inteligência entre os gêneros.

“O cérebro masculino tem mais conexões dentro de cada hemisfério (direito e esquerdo), já o cérebro da mulher tem mais conexões entre os dois hemisférios”, observa Gomes.

“O cérebro tem um lado lógico e um lado criativo”

Sim. Esse é um jeito mais lúdico de dividir os dois hemisférios cerebrais, que tem funções mais direcionadas para determinadas coisas. O hemisfério esquerdo está mais vinculado às funções de linguagem e, portanto, é considerado o lado mais racional. Já o direito está mais ligado às funções visuais e à localização de espaço, então têm a ver com a capacidade de abstração e um viés artístico. Daí porque é conhecido como a parte criativa.

“Mas isso é válido para quem tem a mão direita como dominante, ou seja, é destro”, alerta Ana. “Quando é um indivíduo canhoto, as funções dos hemisférios podem ser invertidas. No entanto isso só acontece com a minoria”, ressalta.

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Agora, não existem evidências científicas de que um lado pode ser mais desenvolvido do que o outro. Então, o fato de uma pessoa ser mais racional e outra, mais emotiva, não tem conexão com o cérebro, mas, sim, com características psicológicas de cada uma.

“O estresse prejudica o funcionamento cerebral”

Sim. O estresse é uma resposta protetora do nosso organismo: trata-se de um estado de alerta que é acionado quando passamos por uma situação de perigo. Quando ele acontece, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), que fica na base do cérebro, é ativado. “Isso leva à liberação de catecolaminas, que são os hormônios adrenalina e cortisol”, descreve Ana. ”O problema é quando os níveis desses hormônios ficam aumentados o tempo inteiro, que é o que o estresse crônico faz.”

Essa situação provoca mudanças bioquímicas dentro do corpo, causando danos na cognição e na memória. Afinal, o cérebro gasta muita energia tentando reequilibrar as funções cognitivas e emocionais. “Pode até chegar a atrofiar a estrutura de memória do hipocampo”, alerta a médica.

Para combater isso, o ideal é ter um estilo de vida equilibrado, com válvulas de escape para o estresse. A atividade física, por exemplo, é uma ótima saída. “O ciclo do estresse causa doença. Ele está envolvido com diabetes, pressão alta, aumento de risco de AVC. A gente está focando só no cérebro aqui, mas o corpo inteiro é afetado”, frisa Ana.

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Uma xícara de café tem de 80 a 120 miligramas de cafeína, quantidade suficiente para aniquilar a sonolência e dificultar o processo de pegar no sono Foto:

“Café turbina o raciocínio”

Sim. “Ele é uma ‘droguinha’ do bem se a gente usar em quantidades moderadas”, brinca a especialista. A cafeína é uma substância que bloqueia o receptor de adenosina, que, por sua vez, é responsável por produzir efeitos calmantes e até induzir o sono. Essa inibição causa a liberação de noradrenalina e serotonina, resultando nesse efeito estimulante da cafeína.

Alguns estudos também mostram que a cafeína tem impacto no desempenho cognitivo e no humor se for tomada por consumidores “não habituais” de café. Mas esses efeitos podem diminuir devido ao desenvolvimento de tolerância.

De qualquer maneira, o segredo é não abusar. “Ao tomar demais, a cafeína também aumenta o número das catecolaminas (adrenalina e cortisol), e você fica mais estimulado. Com isso, pode começar a ter insônia e ansiedade”, explica Ana. Em doses moderadas, a médica reforça que a bebida é bem-vinda.

“Existem vários tipos memórias”

Sim. E todo mundo tem todas elas (com exceção de pessoas que sofreram lesão cerebral ou tiveram uma doença que atingiu determinada área do cérebro). Claro que uma pessoa pode ter mais facilidade com determinado tipo de memória do que com outra, seja por influências culturais ou educacionais.

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As memórias de longo prazo, por exemplo, são aquelas mais conscientes, especialmente sobre episódios da infância ou de momentos importantes da nossa vida: nascimento de um filho, casamento, promoção de trabalho, uma viagem marcante. Para guardá-las, elas precisam ter causado muita emoção (boa ou ruim) ou precisam ser repetidas inúmeras vezes para fixação.

Uma memória que é antiga também é a memória semântica, que carrega os aprendizados da escola: tabuada, gramática, ler e escrever. Há ainda a memória implícita, que está no inconsciente. “Ela também fala sobre aprendizados, mas desses que não chegam a vir para a consciência quando executamos. Andar de bicicleta é um exemplo de memória implícita. Você simplesmente anda. Ou seja, não precisa ficar consciente de cada movimento que vai fazer”, ensina Ana.

Já as memórias de curto prazo são “aquelas que a gente precisa, mas que não ficam ali armazenadas. Simplesmente vêm e passam. São estímulos elétricos que não chegam a fazer uma transformação no cérebro funcional”, esclarece a neurologista.

Dentro delas, existem as memórias sensoriais, caracterizadas pela retenção de informações através dos sentidos (paladar, olfato, audição, visão ou tato), e também as memórias de trabalho, que usam os conhecimentos que temos para criar uma ordem de ideias e passar uma mensagem coerente.

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