A perimenopausa, período que antecede a menopausa, é cercada de mudanças físicas e emocionais na saúde da mulher. As variações hormonais, provocadas pelo declínio do estrogênio, principal hormônio feminino, são sentidas por 70% das mulheres e podem durar anos (em média, são 7,4 anos). Apesar das ondas de calor (os famosos fogachos) serem os sintomas mais conhecidos, há outras alterações que podem ocorrer e são pouco faladas.
De acordo com especialistas ouvidos pela Agência Einstein, essas mudanças começam a ser sentidas entre os 45 e 50 anos, na fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Isso acontece porque, além da oscilação dos níveis de estrogênio, a transição menopáusica também provoca uma taxa elevada do hormônio folículo-estimulante, conhecido como FSH, pois ele precisa de um esforço extra para recrutar os folículos ovarianos remanescentes.
Nem todas as mulheres, no entanto, percebem e associam a saúde reprodutiva a essas mudanças físicas e emocionais — deixando, inclusive, de relatá-las nas consultas médicas. “A pessoa ainda menstrua, mas já começa a ter uma percepção subjetiva das alterações, que envolvem menos disposição, sensação de fadiga mais comum, oscilações de humor e menor capacidade de dar conta dos seus afazeres”, conta o ginecologista Igor Padovesi, associado à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e membro da International Menopause Society (IMS).
Nesse momento, algumas já sofrem com os sintomas clássicos e conhecidos dessa fase de transição — as ondas de calor, por exemplo —, mas encaram também sinais inespecíficos, como distensão abdominal, dor de cabeça, dificuldade para perder peso e facilidade para engordar. No que diz respeito à menstruação, muitas ainda menstruam regularmente, mas os ciclos podem começar a apresentar variações, como ficar mais curtos e espaçados; o fluxo se torna mais intenso ou mais escasso, entre outras alterações.
Por todas essas razões, muitas ainda não conseguem se dar conta do que está acontecendo e acreditam que estão enfrentando a exacerbação dos sintomas da tensão pré-menstrual, conhecida como TPM. “Esse período é bastante desafiador, pois, como a oscilação dos hormônios é muito significativa, a dosagem hormonal não consegue refletir fielmente como estão as coisas no corpo da paciente”, explica Padovesi. “Os exames podem vir alterados mesmo não estando, por isso o diagnóstico da perimenopausa é clínico, baseado nos sintomas.”
Após essa fase, a menstruação começa a ficar mais espaçada até cessar totalmente. “Consideramos que uma mulher está na menopausa quando permanece 12 meses consecutivos sem menstruar”, explica a ginecologista Helena Hachul de Campos, professora da disciplina de Saúde da Mulher na Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein.
A chegada da menopausa varia bastante de pessoa para pessoa, mas costuma ocorrer entre os 45 e 55 anos — e intensifica os sintomas que já estavam dando as caras. Confira a seguir as manifestações mais comuns provocadas pelas variações hormonais:
1. Maior risco de depressão
Um estudo publicado em julho no periódico científico Journal of Affective Disorders revela que o risco de depressão na perimenopausa é considerável, apesar de a variação hormonal ainda estar no início. Pesquisadores da Universidade College London, na Inglaterra, analisaram sete estudos, que envolveram 9.141 mulheres de diferentes países, e concluíram que nesse período há um risco 40% maior de depressão em comparação à pré-menopausa.
Os autores ressaltam a necessidade de atenção à saúde mental das mulheres na perimenopausa, especialmente porque nem sempre os sintomas ligados às questões hormonais ficam tão evidentes, e reforçam que elas podem precisar de suporte médico e psicológico.
A ginecologista do Einstein concorda. “Não é fácil lidar com todas as alterações físicas e emocionais que surgem nesse período e que impactam muito na sua autoestima e qualidade de vida”, afirma Helena Hachul, que também é livre-docente e chefe do Setor de Sono da Mulher da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Além das transformações do corpo, muitas ainda estão passando por situações como a saída dos filhos de casa, gerando a síndrome do ninho vazio.
2. Alerta para doenças cardiovasculares
A diminuição do estrogênio leva ao aumento do LDL, o mau colesterol, e à redução do HDL, o bom colesterol, que oferece ação protetora ao coração. Além disso, os hormônios femininos estimulam a dilatação dos vasos e facilitam o fluxo sanguíneo. Daí porque, nessa fase em que eles estão diminuindo, problemas como infarto e acidente vascular cerebral (AVC) podem dar as caras.
3. Mudança na distribuição de gordura corporal
Menos estrogênio faz com que as mulheres passem do biótipo ginecoide, no qual a gordura costuma se acumular ao redor do quadril e das nádegas, para o androide, quando há tendência de ganho de peso na região abdominal. “Isso também aumenta o risco cardiovascular, pois a gordura abdominal favorece a produção de substâncias inflamatórias que podem desencadear infartos e derrames”, alerta Hachul.
4. Síndrome geniturinária da menopausa
Esse é o nome usado para se referir ao conjunto de sinais provocados pelas alterações no sistema urogenital em resposta à diminuição dos hormônios femininos. “Elas envolvem ardência, coceira, atrofia e secura vaginal, o que provoca desconforto durante as relações sexuais, e sintomas urinários, como bexiga hiperativa e incontinência urinária”, cita Padovesi.
5. Alterações no sono
A ciência ainda não decifrou exatamente o que leva a distúrbios como insônia ou sono excessivo nessa fase, mas as principais teorias sugerem que os hormônios femininos têm um papel importante sobre o relógio biológico. Questões psicológicas típicas da aproximação da menopausa e da sua chegada também estariam ligadas ao problema, pois podem elevar o estresse e, consequentemente, atrapalhar o sono. O aumento da frequência urinária também pode comprometer o descanso, já que a mulher precisa sair da cama para fazer xixi.
6. Problemas ósseos
A diminuição do estrogênio pode predispor a condições como osteopenia (perda de densidade mineral óssea) e osteoporose (condição em que os ossos se tornam frágeis e quebradiços). É que esse hormônio estimula os osteoblastos, células responsáveis pela formação óssea.
Nessa fase, também há um aumento dos osteoclastos, células que agem degradando componentes da matriz óssea.
7. Alterações emocionais
Irritabilidade, déficit de atenção e de memória, ansiedade, queda da libido e flutuações de humor, entre outros, também são características desse processo. “Os sintomas psíquicos são os mais comuns e acontecem em curto prazo por causa da diminuição do estrogênio”, explica Hachul.
8. Envelhecimento da pele
Na menopausa, o tecido cutâneo passa por uma queda intensa na síntese das fibras de sustentação: o colágeno e a elastina, que são responsáveis pela firmeza e elasticidade, respectivamente. O resultado é uma pele mais fina, frágil, ressecada, com mais rugas e flacidez.
9. Ondas de calor
Esse é o sintoma mais famoso dessa fase da vida. Os chamados fogachos não acontecem apenas na menopausa, como muitos pensam, mas durante todo o climatério, que engloba as diferentes fases dessa transição.
Eles surgem porque todas essas mudanças afetam o centro de regulação da temperatura do corpo. De acordo com estudos, podem aumentar o risco de problemas cardiovasculares. Isso sem falar que são muito desconfortáveis e podem atrapalhar bastante algumas atividades do cotidiano e o sono.
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Pós-menopausa
Após um ano sem menstruar, a mulher entra na chamada pós-menopausa. Essa fase é dividida em “recente”, que são os primeiros oito anos, e “tardia”, após esse período. Em muitos casos, os sinais clássicos da menopausa diminuem consideravelmente, mas existem pessoas que sentem os sintomas durante décadas depois da transição.
Na pós-menopausa, o risco de problemas de saúde decorrentes da baixa hormonal aumenta bastante, por isso o acompanhamento médico é especialmente importante para avaliar a necessidade de mudanças no estilo de vida e a possibilidade de uma terapia de reposição hormonal.
“É importante que fique claro que esse processo de transição acontece com todas, invariavelmente. Para algumas chega um pouco antes, para outras um pouco depois e a duração pode ser variável, assim como sintomas, mas em todas é um processo que leva vários anos e que não é linear”, explica Padovesi.
Contudo, apesar dos diversos sintomas do climatério, é possível viver bem e com qualidade de vida nessa fase, cuidando da saúde e da alimentação e praticando atividade física. “Importante reconhecermos que é um momento positivo, no qual temos maturidade e já construímos muitas coisas na vida. É preciso um olhar sereno por ser uma fase de mudanças, que não tem apenas coisas ruins”, destaca a ginecologista do Einstein.
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