A inteligência artificial na medicina: a nova tecnologia pode ser uma aliada dos médicos?

Para especialistas, a IA é uma ferramenta poderosa e ajuda o médico a tomar decisões mais informadas e eficientes

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Foto do author Roberta Jansen
Atualização:

Foram três anos de investigação. Dezessete médicos de diferentes especialidades. Ninguém conseguia diagnosticar o problema de Alex, um garotinho americano de quatro anos de idade que começou a apresentar dificuldade de locomoção. Em busca de respostas, a mãe de Alex, Courtney, começou a digitar todos os resultados dos exames feitos pela criança e as informações médicas reunidas no ChatGPT, a inteligência artificial lançada pela OpenAI em novembro do ano passado.

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O robô de bate-papo sugeriu que Alex era portador da chamada “síndrome da medula presa”, uma doença rara que afeta a medula espinhal e prejudica o desenvolvimento. Os sintomas incluem dores nas costas, fraqueza, deformidade nos pés e dificuldade de locomoção. O diagnóstico se revelou correto. A história foi relatada na semana passada por Courtney ao site americano de notícias Today.com e repetida por diversos jornais brasileiros.

Estaria o Dr. Google perdendo terreno para o Dr. ChatGPT? E o Dr. ChatGPT pode substituir o médico?

A inteligência artificial é considerada uma ótima ferramenta de apoio na saúde, mas não substitui a expertise médica Foto: LALAKA/Adobe Stock

“O Dr. Google refere-se ao ato de buscar informações médicas online”, responde o robô de bate-papo da OpenAI. “Por outro lado, o Dr. ChatGPT se refere a um modelo de linguagem, como eu, que pode responder a perguntas e fornecer informações com base no conhecimento disponível. No entanto, é importante observar que a Inteligência Artificial não substitui a expertise médica. Ela deve ser vista como uma ferramenta complementar que pode ajudar médicos a tomar decisões mais informadas e eficazes.”

Os médicos e especialistas em inteligência artificial concordam com o robô.

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“É importante ressaltar que, no caso do Alex, o ChatGPT não fez o diagnóstico, ele sugeriu um diagnóstico que foi confirmado pelos médicos”, afirmou o especialista Chao L. Wen, chefe da disciplina de telemedicina da Faculdade de Medicina da USP.

“Isso é crucial porque quando dizemos que o chat fez um diagnóstico, estamos dando a ele um poder extremo, que ele não tem. Na verdade, ele filtrou dados e sugeriu o que poderia ser. A inteligência artificial deve ser levada em consideração para a análise contínua de um raciocínio. Ela é uma aliada, uma ótima ferramenta de apoio. Mas é preciso estar atento, porque ela também erra muito.”

De fato, a inteligência artificial já está sendo usada em diversas áreas da medicina com sucesso, segundo o próprio ChatGPT. A primeira delas é justamente o diagnóstico. A IA ajuda os médicos a identificar doenças e determinadas condições por meio de análise de imagens como radiografias, ressonâncias e tomografias. Algoritmos de IA podem identificar padrões ou anomalias que não são visíveis a olho nu, por exemplo.

Outra área em que a IA vem sendo muito explorada na medicina é a da análise de dados. A IA consegue analisar conjuntos muito grandes de dados médicos, como prontuários eletrônicos, para identificar tendências que podem ajudar os médicos a tomarem decisões sobre o tratamento. A IA também pode sugerir opções de tratamento com base em dados clínicos e pesquisas médicas. É extremamente útil para monitorar pacientes, por intermédio de dispositivos médicos que acompanham os sinais vitais, por exemplo.

Na chamada medicina de precisão, a IA já é usada para identificar marcadores genéticos e moleculares específicos, que são indicadores da eficiência de determinados tratamentos. Em cirurgias, a IA pode auxiliar o cirurgião em procedimentos complexos, melhorando a precisão e a segurança das operações.

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“Outro uso importante da IA na medicina é, por exemplo, indicar processos mais eficientes para os hospitais, de forma a reduzir custos e aumentar o retorno”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), Luiz Kiatake. “Outros ganhos relevantes são reduzir o desperdício, gerar dados de qualidade e reduzir custos assistenciais evitáveis. Acho que a IA é a chave para reduzir os custos em saúde, o que é de extrema importância.”

Médico versus máquina?

Superintende de Ciência de Dados e Analytics do Einstein, Edson Amaro acredita, inclusive, que, em determinadas situações a IA pode ser muito superior ao médico. Mas que isso é positivo.

“A gente já sabe que a capacidade da IA detectar alterações num exame de imagem, por exemplo, é maior que a do ser humano”, afirmou. “Mas um exame não pode ser interpretado por IA. O que aquele resultado representa no contexto daquele paciente é algo que só o médico pode dizer.”

Amaro lembra que a questão de o homem se tornar dispensável é recorrente na história.

“Essa pergunta já foi feita em vários momentos”, afirmou. “Na verdade, o homem pode e deve ser substituído em momentos específicos. Por exemplo, na oftalmologia, as observações são feitas por máquinas. Hemogramas são feitos por máquinas, não mais por um médico no microscópio. Os oftalmologistas e os patologistas não perderam seus empregos, eles se adaptaram a novas ferramentas. É a mesma coisa com a IA, ela é uma aliada, é preciso aprender a lidar com ela.”

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Especialistas lembram que é fundamental alimentar a IA com informações de qualidade para que ela seja cada vez mais precisa. E também é crucial formar uma nova geração de médicos que saiba usar a ferramenta de forma inteligente.

“A moderna formação médica não pode mais ser fundamentada na memorização, como era no passado, mas sim no raciocínio investigativo, na formação de uma opinião e na tomada de decisão”, contou Chao L. Wen, lembrando que esses são traços fundamentais para usar a IA de forma inteligente. “Mas a característica mais importante do médico do futuro no cenário da IA e da telemedicina continua sendo a ética.”

Acompanhe o Summit Saúde e Bem-Estar 2023

Os principais usos e as promessas da inteligência artificial na saúde serão discutidos no Summit Saúde e Bem-Estar 2023, organizado pelo Estadão. Vamos debater ainda se bots como o chatGPT poderiam auxiliar pacientes a cuidar da própria saúde e os cuidados para que o uso da inteligência artificial na saúde não aprofunde desigualdades.

O evento ocorre no dia 5 de outubro e contará com a participação de renomados nomes na área da saúde. As palestras podem ser acompanhadas pelas redes do Estadão e pela página oficial.

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