BRASÍLIA - Iogurtes, sucos em caixa, refrigerantes, achocolatados, bolos e biscoitos serão os primeiros produtos a integrar o acordo voluntário entre a indústria de alimentos e o Ministério da Saúde para redução dos teores de açúcar. O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, afirmou nesta segunda-feira, 1º, que o acordo voluntário para a redução do ingrediente nos produtos industrializados será assinado depois do primeiro turno das eleições.
O porcentual da redução deverá variar de acordo com a classe de produto. No ano passado, logo depois de o então ministro da Saúde Ricardo Barros encomendar estudos sobre o aumento de impostos de bebidas açucaradas, a indústria apresentou para a pasta um modelo para redução. A sugestão formulada na época pelo setor era o de reduzir os teores do ingrediente nos refrigerantes, néctares e refrescos. Por esse modelo, a cada 100 gramas de bebida haveria um limite máximo de 10,6 gramas de açúcar. Na ocasião, a proporção média era de 16 gramas.
Occhi afirmou que a redução será feita em fases. Concluída uma etapa, novos acordos deverão ser negociados para ampliar a margem do ingrediente nos produtos.
Outros ingredientes
O modelo de redução de açúcar se espelha em um acordo semelhante realizado com a indústria em 2011 para a redução de sódio nos alimentos industrializados. No caso de sódio, o compromisso foi renovado no ano passado e já envolveu 30 categorias de produtos.
Apesar de o ministério e a indústria afirmarem que o acordo foi responsável pela retirada de mais de 70 mil toneladas de sódio dos alimentos, a estratégia é alvo de históricas críticas de associações ligadas à saúde e à alimentação saudável. O argumento é o de que as metas para redução do sódio são extremamente tímidas e, em muitos casos, teores determinados são tão altos que indústrias não necessitam nem alterar a composição de seus produtos. A estratégia, afirmam os críticos, ainda serve como uma espécie de promoção dos produtos industrializados que, com redução, afirmam que seus produtos estão mais saudáveis.
Rótulos
Occhi citou o acordo de redução de açúcar como uma das estratégias para ajudar a prevenir doenças crônicas não transmissíveis, como diabete e hipertensão. O ministro apontou ainda a reformulação das regras para rótulos de alimentos industrializados como uma medida eficaz para garantir a alimentação saudável.
A ideia é trazer para embalagens mais informação, sobretudo em relação a teores de sódio, açúcar e gorduras, para que consumidores possam fazer escolhas mais saudáveis no momento da compra. A mudança dos rótulos está em estudo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2014. O presidente da agência, William Dib, no entanto, garantiu que até o fim do ano será enviado para consulta pública um modelo para as informações serem estampadas nas embalagens.
Como revelou o Estado, Dib é favorável ao uso de cores nos avisos, uma proposta que atende aos interesses da indústria. A Aliança pela Alimentação Saudável, um grupo que reúne 39 entidades ligadas a saúde, meio ambiente e direitos do consumidor, no entanto, condena tal proposta. Já o ministro da Saúde afirmou não defender nenhum modelo específico. Segundo ele, antes de uma decisão, experiências adotadas em outros países precisariam ser avaliadas.
Para lembrar: OMS fez lista de recomendações
Somando quase 1 milhão de mortes por ano no Brasil, males como o câncer e a diabete, além de outras doenças não transmissíveis, custam ao sistema de saúde nacional um total de R$ 7,5 bilhões ao ano. Em junho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma lista de recomendações e políticas em que apresenta estratégias para que os países possam combater essas doenças.
Na avaliação da entidade, somente os 78 países mais pobres do mundo poderiam salvar 8 milhões de vidas até 2030 se investissem US$ 1,27 extra por cidadão a cada ano em prevenção e tratamento de doenças crônicas. Com esse investimento, os governos conseguiram economizar US$ 350 bilhões em seus serviços de saúde.
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