Além do beach tênis: academias de SP investem em musculação e treinos na areia

Maior queima calórica está entre os benefícios, mas é preciso cuidado para evitar lesões

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Por Elcio Padovez
Atualização:

A fisioterapeuta Nayana Alves de Oliveira, de 34 anos, procurava por um exercício físico que ela pudesse fazer ao ar livre e que fosse inovador, já que não gosta de academia tradicional. No começo do ano, descobriu, por meio de uma amiga, a musculação na areia. Desde então, passou a malhar seis dias por semana no novo piso.

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“Decidi fazer esse treino porque queria algo inovador, intenso, com acompanhamento de profissionais e direcionado para emagrecer”, conta. “O que eu mais gosto nele é que trabalha a capacidade aeróbica e é bem dinâmico, além de desenvolver o equilíbrio, força e flexibilidade.”

Treinar na areia não é mais algo exclusivo para quem mora à beira-mar. São Paulo conta hoje com mais de 30 espaços dedicados à prática de modalidades que viraram febre, como o beach tênis, beach soccer e beach vôlei – e até vêm investindo em novas modalidades na areia, como treinamentos funcionais, lutas e eletroestimulação de corpo inteiro. Além disso, no verão, quando muita gente aproveita as férias e os fins de semana no litoral, correr na praia se torna uma opção de atividade física agradável.

Apesar dos benefícios, como estimular a sociabilidade e a sensação de liberdade, é preciso tomar cuidados para se aproveitar ao máximo a experiência sem correr o risco de lesões nas articulações e doenças na planta dos pés, como fascite, frieiras e micoses.

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Prefira treinar descalço na areia

O personal trainer Rogério Sthanke, acostumado a desenvolver treinos integrados no piso duro, enxergou a possibilidade de criar um negócio privilegiando o piso de areia. Desde o segundo semestre de 2022, ele comanda a 4BeachGym, a primeira academia de musculação na areia do Brasil. “Na areia, é possível trabalhar o fortalecimento muscular, há alto gasto calórico, sensação de liberdade, o descarrego de energia ao se exercitar nela”, explica.

Segundo ele, a principal diferença entre se exercitar no piso duro e no de areia está no fato de um ser estável e o outro, não. Por isso, a exigência física do aluno acaba sendo maior na areia, assim como a coordenação motora e a consciência corporal – a recomendação é que os alunos treinem descalços.

Aula de funcional no Salt Beach Club, em Santana, zona norte de São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

“Treinar na areia também ajuda a acelerar a recuperação de lesões, mas como todo exercício físico, é preciso ter planejamento. Se os estímulos forem divididos corretamente, é possível malhar todos os dias neste piso”, explica Sthanke. Entre as estratégias que usa com seus alunos está a de evitar passar exercícios de agachamento em dias seguidos, recomendar descanso para deixar o corpo se recuperar e crescer com o exercício físico, além de fazer o acompanhamento de perda calórica e a frequência cardíaca durante as aulas por meio de uma pulseira.

O ortopedista e médico do esporte Tomás Mosaner gosta da ideia de se exercitar na areia. Para ele, esse tipo de treino pode atrair mais gente em busca de uma vida mais saudável por ser uma atividade mais lúdica e que ajuda a desenvolver a sociabilidade.

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Ele explica que um dos benefícios de malhar descalço é o baixo impacto nas articulações se comparado a um treino no piso duro, além do desenvolvimento da propriocepção, que é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.

No entanto, o ortopedista da Clínica Prime Regen, de São Paulo, alerta para os cuidados na proteção de membros como os joelhos e tornozelos, para que a pessoa não desenvolva uma entorse. “A não proteção de usar um tênis pode gerar riscos durante os exercícios na areia, especialmente na região dos pés, que possuem menos estabilidade descalços. É menos lesivo para as articulações treinar na areia, mas por haver maior tensão nesse piso, há risco de lesão nas panturrilhas e fascite plantar”, diz.

Ele também alerta os sedentários: antes de investir no beach tênis ou qualquer outra atividade física, é importante passar por um médico para avaliar o histórico de saúde.

Nayana, que possui condromalácia patelar (degeneração da cartilagem articular da patela, ou rótula), faz acompanhamento regular com ortopedista e procura cuidar dos joelhos quando malha na areia. “Tomo cuidados, principalmente em exercícios de impacto e saltos, pois sei o meu limite. A boa orientação e correções de um profissional de educação física é fundamental para não desenvolver problemas pós-treino.”

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Dançando na areia

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Para quem busca outras opções além da musculação na areia, alguns espaços, como o SaltBeach Club, em Santana, oferece, além de beach tênis, aulas de dança e funcional. O professor Davi Santos – que ensina passos e coreografias ao som de pop, hip hop, sertanejo, funk, pisadinha, axé, samba e pagode – explica que, para estimular os alunos, diversifica os exercícios e ritmos musicais a cada sessão, que dura uma hora e pode ser feita de uma a três vezes por semana.

Com isso, a ideia é que os alunos tenham, além de benefícios à saúde, também uma opção de entretenimento e lazer. Não há contraindicação para fazer aula de dança na areia e qualquer pessoa saudável pode fazê-la.

Ele enumera alguns benefícios de dançar na areia, como estímulo de vários grupos musculares, maior agilidade e coordenação motora, estímulo à atenção e à memória, melhora da atividade cardiorrespiratória e no equilíbrio, além de “melhora da autoestima e no combate à ansiedade e depressão”. Davi explica que, antes das aulas sempre faz alongamento para evitar lesões, fadigas e câimbras nos alunos.

Academia 4Beach Gym, no Morumbi, zona sul de São Paulo, oferece musculação na areia Foto: Felipe Rau/Estadão

As sessões de dança são agendadas de acordo com a procura e o fechamento de grupos. Nelas, o professor aplica um conjunto de exercícios elaborados com a finalidade de estimular os músculos das pernas, glúteos e abdômen, além de orientar o melhor tipo de movimentação e pisada a se fazer no piso.

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Uma das alunas de Davi é a consultora financeira Lecymara do Amaral Magagnini, 54 anos, que pratica regularmente beach dance há um ano. “A areia é um lugar que me identifico. Gosto muito mais do que me exercitar de tênis e dentro de uma academia”, conta. “Trabalho a semana inteira dentro de um escritório fechado e de salto. Praticar uma atividade física, descalça e ao ar livre não tem preço, além dos benefícios maravilhosos para o corpo e principalmente, a mente, pois são momentos de dedicação à nós mesmos.”

Já para quem busca um treino de força, o professor de educação física Felipe Mariotto indica experimentar uma aula de funcional, um treino integrado e que busca respeitar o limite de cada aluno. Ele aponta que treinar na areia e tomar sol traz benefícios como a produção de vitamina D pelo organismo, além do alto gasto calórico, aumento do metabolismo e melhora na socialização, por ser um tipo de exercício físico feito em grupo. “Recomendo fazer de duas a três vezes na semana e que o aluno combine outros estímulos nos dias em que não for malhar na areia. O importante é sempre estar se movimentando”, orienta.

Para isso, não esqueça de passar protetor solar antes das aulas e manter boa hidratação antes, durante e depois dela. Felipe alerta para o cuidado que é preciso se ter com o piso instável da areia, para evitar risco de queda. Além disso, ele reforça que cada aluno deve realizar a sequência de exercícios no limite que conseguir, pois o treino em grupo de funcional na areia não é uma competição.

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