A mãe da protagonista Sol (Sheron Menezes), Marlene (Elisa Lucinda), da telenovela Vai na Fé, da Globo, apareceu pela primeira vez sem peruca, revelando o motivo pelo qual utiliza o acessório. A personagem tem alopecia, uma doença que provoca falhas no cabelo e afeta milhões de brasileiros.
De acordo com a médica dermatologista Violeta Tortelly, membro do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a doença se caracteriza pela queda de cabelo e se divide em diversos subtipos, como areata, androgenética, cicatricial e eflúvio telógeno. “É um termo um pouco genérico, porque envolve várias doenças. Há diferentes formas de quedas de cabelo, com causas diversas”, explica.

Segundo o Ministério da Saúde, a alopecia do tipo areata é uma doença autoimune caracterizada pela perda dos fios em áreas circulares do couro cabeludo, podendo afetar ainda outras partes do corpo, como sobrancelhas e barba. Esse tipo afeta ambos os sexos, podendo surgir em qualquer idade, inclusive na infância. Não é a forma mais comum, de acordo com a especialista, mas é considerada uma das mais preocupantes pois pode provocar a perda total de fios em todo o corpo.
Já a androgenética, popularmente conhecida como calvície, está associada a fatores hereditários e pode ocorrer em homens e mulheres, tornando-se aparente após algum tempo, por volta dos 40 ou 50 anos. O sintoma mais comum neste tipo é o afinamento dos fios, fazendo com que progressivamente o couro cabeludo fique mais aberto. “No caso da personagem da novela, por ser uma mulher de meia idade, pode ser a alopecia androgenética”, sugere Violeta.
Há também as alopecias do tipo cicatricial, quando ocorre a destruição dos folículos pilosos em um acidente, por exemplo, e o cabelo deixa de crescer, e eflúvio telógeno, que, de acordo com a dermatologista, é possivelmente a mais comum. Este último tipo é marcado pelo aumento da queda diária de fios de cabelo de forma temporária e está vinculada principalmente a questões emocionais. “Na pandemia teve muitos casos, tanto pelo estresse causado no momento difícil quanto pela própria covid-19, pela lesão direta do vírus no couro cabeludo.”
Diagnóstico e tratamento
Seja por queda excessiva de cabelos, aparecimento de falhas no couro cabeludo ou afinamento dos fios, a recomendação da médica, em todos os casos, é que se busque um especialista o quanto antes, pois se o diagnóstico for precoce há mais chance de reversão do cenário ou facilidade no tratamento.
“O mais importante é ter um diagnóstico o mais precoce possível. A pessoa está tão desanimada que não procura médico e vai em busca de soluções na internet. Nos primeiros sintomas a indicação já é procurar um especialista, porque hoje há muitas medicações que antigamente não existiam e que melhoraram muito a condição do tratamento”, ressalta a médica.
De acordo com Violeta, a detecção da alopecia é clínica, utilizando um aparelho chamado dermatoscópio. O equipamento é uma lupa, que permite o diagnóstico clínico a partir da análise do couro cabeludo. Em casos mais graves, embora raros, a investigação pode exigir que se faça uma biópsia.
Já o tratamento varia de acordo com o tipo. Em caso de alopecia autoimune, é necessário utilizar remédios como corticoides para realizar o bloqueio dessa ação imune no corpo. No caso da androgenética, é preciso incentivar o cabelo a crescer com o uso de substâncias como minoxidil, que estimula o crescimento dos fios, e o uso de anti-hormônios, bloqueando o derivado de testosterona, responsável pelo afinamento do cabelo.
Alopecia e autoestima
Especialmente no caso de mulheres, a doença pode afetar a autoestima e provocar vergonha. Esse é o motivo que preenche com emoção a cena em que a personagem de Elisa Lucinda retira a peruca e enfrenta a condição de frente para o espelho. A doença também esteve no centro do episódio polêmico da cerimônia de entrega do Oscar em 2022, quando Chris Rock fez uma piada sobre a aparência da mulher de Will Smith, Jada Smith, que sofre com alopecia.

Embora os dois casos envolvam mulheres negras, a especialista explica que raça ou etnia não é um fator que predispõe diretamente à doença, mas hábitos com o cuidado dos cabelos podem ser causadores. “Há doenças causadas pela cultura antiga de alisamento, como alopecia cicatricial central centrífuga, que é causada pela destruição progressiva do folículo piloso, ou condições provocadas pela excesso de tração em alisamento.”
Se houver alguma forma de prejuízo à autoestima, a dermatologista lembra que há recursos para disfarçar os sintomas da doença, como maquiagens capilares, que podem ser utilizadas na região dos cabelos, sobrancelhas e barbas para esconder as falhas de cabelo e pêlos da barba dando a sensação de maior volume de fios. “É importante lembrar que antigamente os tratamentos eram desanimadores, mas hoje o dermatologista tem um arsenal muito interessante para oferecer e reverter o quadro, especialmente em casos de diagnóstico precoce.”