Alzheimer: diagnóstico precoce ajuda o paciente a ter mais autonomia

Com tratamento, qualidade de vida se mantém por mais tempo

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Por Rafaela Rasera
Atualização:

Thayná Mattos Wittz sofreu quando recebeu o diagnóstico de Alzheimer da mãe, Maria Cecília Malta Mattos. “Parecia que o mundo tinha acabado”, lembra. Maria Cecília tinha 63 anos e, assim que recebeu a notícia, começou tratamento com remédios e terapias. Seis anos depois, ela passeia com o cachorro sozinha, vai ao shopping e dirige acompanhada da filha. O diagnóstico precoce, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), permite que a qualidade de vida de pessoas com a doença se mantenha por mais tempo.

Maria Cecília iniciou um tratamento multidisciplinar com fisioterapia, terapia ocupacional, acompanhamento neurológico e medicamentos. “O diagnóstico precoce é muito importante para que o paciente possa ser protagonista daquilo que ele vai viver dali para frente”, aponta a presidente da Abraz em São Paulo e médica geriatra, Celene Queiroz de Oliveira. A médica aponta que o estigma em relação à doença faz com que as pessoas demorem mais para serem diagnosticadas “Quando você traz o paciente já numa fase avançada, ele já não tem mais condições de dizer o que gostaria. E a família acaba se tornando responsável por tomar as decisões.”

A filha de Maria Cecília percebeu que a mãe apresentava algumas falhas de memória e a levou a um neurologista. “Minha mãe estava esquecendo eventos que ela já havia contado, esquecia alguns caminhos”, comenta. No primeiro momento, Thayná achou que poderia ser cansaço, mas quando percebeu que os esquecimentos se tornaram recorrentes, acompanhou a mãe em exames para identificar a doença. Foi ela quem recebeu o diagnóstico por primeiro e deu a notícia à mãe. “A gente diagnosticou precocemente e isso facilitou muito o tratamento”, comenta.

Adaptar para viver bem

Hoje, aos 69 anos, Maria Cecília gosta de ter a própria rotina, com independência. Com o diagnóstico, a filha, Thayná, pensou em formas de garantir a segurança da mãe sem comprometer a autonomia. Agora, para ir ao shopping, uma das atividades que Maria Cecília mais gosta, a filha vai junto. “É até bom porque a gente convive mais juntas”, comenta.

Maria Cecília adotou o cachorro Pettit e passeia com ele pelo bairro Foto: Arquivo Pessoal

Quando vai viajar para visitar a família, Thayná coloca a mãe dentro do ônibus e alguém a busca no ponto de chegada. Dirigir é outra atividade que Maria Cecília não quis deixar de fazer. “Para tirar o carro dela foi um sufoco, foram várias brigas. Agora eu deixo ela dirigir, mas só quando está comigo”, conta Thayná. “Ela não precisa deixar de fazer as coisas que ela gosta, tudo é adaptável.”

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Companhia para o dia a dia

Uma das formas que Thayná encontrou para estimular a liberdade da mãe foi adotar um cachorro. Hoje, Maria Cecília passeia pelo bairro todos os dias acompanhada do animal, conversa com vizinhos e conhece as ruas. “No começo eu ficava preocupada, mas agora eu vejo que ela conhece o bairro inteiro. Acho que isso faz ela se sentir mais viva”, diz.

Para evitar que a mãe se perca, Thayná fez uma pulseira com o telefone para contato e a indicação de que Maria Cecília é uma idosa com Alzheimer. “Não dá para deixar a vida para, ela ainda é lúcida. A gente vai fazer um pouco por vez para não acabar com a liberdade dela”, comenta Thayná.

Quais os sinais que podem indicar Alzheimer?

Esquecimentos frequentes são os primeiros sintomas que merecem atenção quando se pensa em Alzheimer. Repetição de uma fala ou de uma pergunta mostram que a memória pode estar comprometida. “Se fala bastante sobre as alterações das capacidades cognitivas. A pessoa não consegue reter a informação que você passou”, explica a geriatra Celene.

A médica destaca dois tipos de dificuldade de memória para ficar alerta. A queixa subjetiva de memória que acontece quando a pessoa percebe que tem dificuldades para lembrar de determinadas coisas, mas não afeta tanto a rotina e o comprometimento cognitivo leve, em que a pessoa tem esquecimento e precisa de auxílio para usar a memória, como o uso de anotações e agendas.

O senso de localização também também pode ser alterado pela doença e pode ficar difícil para fazer caminhos que a pessoa já conhecia. “A pessoa fica com dificuldade de se orientar no espaço”, comenta a médica.

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Celene alerta ainda que o transtorno comportamental leve pode ser um dos primeiros indicativos de desenvolvimento de Alzheimer. O transtorno acontece quando uma pessoa tem um padrão de comportamento definido e muda de uma hora para outra. “Não necessariamente a pessoa começa com sintomas de cognição, às vezes ela começa com sintomas do comportamento”, explica.

Quais as formas de prevenção do Alzheimer?

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Medidas para prevenir o Alzheimer são diferentes para cada faixa etária. Já na infância, a alfabetização é importante para afastar a possibilidade de desenvolver a doença no futuro. “Se você é alfabetizado na infância, é quando mais consegue prevenir demência”, diz Celene. Durante a vida adulta, é importante manter os níveis de pressão arterial e colesterol controlados e praticar ao menos 300 minutos de atividade física por semana.

A médica explica ainda que prevenir doenças que causam demência envolve diferentes aspectos da vida, como alimentação variada, rica em produtos naturais, socialização e educação. “Não é uma ação que vai te proteger, é uma questão de como você vive como um todo.”

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