Uma equipe internacional liderada por cientistas da Fundação Pasqual Maragall, da Espanha, provou, em um estudo de ampla amostra e com uma gama de biomarcadores, a relação entre a má qualidade do sono e um maior risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer em pessoas sem deficiência cognitiva. Os resultados da análise, liderada pelo Barcelonaßeta Brain Research Center (BBRC), têm sido publicados na revista científica Brain Communications e podem ajudar a definir futuras terapias contra a doença.
A relação entre a qualidade do sono e o Alzheimer já foi abordada em estudos anteriores, mas essencialmente com base em dados epidemiológicos – comparando as frequências dos sintomas ou doenças – retirados de pequenas amostras populacionais.
Para este estudo, divulgado nesta quinta-feira, 3, foi utilizado o maior recorte já feito até então (uma pesquisa europeia sobre prevenção de Alzheimer) e biomarcadores de fluido cerebrospinal, que indicam a probabilidade de desenvolver a doença em pessoas sem sintomas. Graças a estes dados, os pesquisadores puderam validar a hipótese de que a privação de sono está associada a estes biomarcadores.
Biomarcadores
A equipe do BBRC, em colaboração com cientistas da Universidade de Bristol (Reino Unido), analisou dados de 1.168 adultos com mais de 50 anos de idade, incluindo biomarcadores da doença de Alzheimer no líquido cefalorraquidiano, desempenho cognitivo e qualidade do sono.
“Através destas análises, temos sido capazes de estudar associações entre os principais biomarcadores da doença de Alzheimer e as diferentes medidas de qualidade do sono, tais como pontuação total do sono, duração, eficiência e alterações”, disse Oriol Grau, cientista do BBRC.
Por meio da análise de amostras de líquido cerebrospinal de 332 participantes da pesquisa e após um período médio de 1 ano e meio, os pesquisadores foram capazes de avaliar o efeito da qualidade do sono na mudança dos biomarcadores da doença de Alzheimer ao longo do tempo.
Entre outros resultados, foi demonstrado que uma curta duração de sono – menos de sete horas por noite – está associada a valores mais elevados de proteínas tau (proteínas que estabilizam os microtúbulos, muito presentes no sistema nervoso central), um biomarcador chave para medir o risco de Alzheimer na fase pré-clínica, ou seja, antes do início dos sintomas da doença.
“Os nossos resultados reforçam ainda mais a hipótese de que a problemas do sono pode ser um fator de risco para a doença de Alzheimer”, disse a investigadora do BBRC Laura Stankeviciute. “A investigação futura é, portanto, necessária para testar a eficácia das práticas preventivas, concebidas para melhorar o sono nas fases pré-sintomáticas da doença, a fim de reduzir a patologia de Alzheimer”, acrescentou ela. /EFE
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