Alzheimer: Novo teste de remédio que bloqueia desenvolvimento da doença tem resultados promissores

Desenvolvido por pesquisadores do Reino Unido, o método se mostrou seguro e inicialmente eficiente no silenciamento dos genes que provocam a demência; novos testes serão feitos para confirmar

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Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

Uma terapia desenvolvida no Reino Unido tem se mostrado possivelmente eficaz no silenciamento de genes que predispõem pessoas a desenvolverem doença de Alzheimer ou outros tipos de demência. Os resultados da primeira fase de testes do medicamento, publicados na revista científica Nature Medicine, mostram que ele se demonstrou seguro e reduziu com sucesso os níveis da proteína tau – conhecida por causar a doença – nos pacientes que participaram do estudo.

A terapia, chamada MAPTRx, age inibindo o gene MAPT, que codifica a proteína tau por meio da aplicação de BIIB080, uma droga composta por pequenas moléculas capazes de prevenir ou alterar a produção de proteínas. Logo, ele pode evitar ou amenizar a evolução da doença.

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Ainda serão feitos mais ensaios, com grupos maiores de pacientes, para determinar se a terapia leva a um benefício clínico e deve ser disponibilizada, mas os resultados da primeira fase indicam que o método tem um efeito biológico relevante e é animador, segundo os especialistas escutados pelo Estadão. Atualmente, não há tratamentos direcionados à proteína tau.

O Alzheimer é uma doença genética que promove a perda de neurônios nos pacientes – o que é irreversível. Dessa forma, se o medicamento for aprovado, pessoas que têm predisposição à doença poderão tomá-lo de forma preventiva e quem já começou a desenvolvê-la vai poder reduzir a progressão.

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O Alzheimer é uma doença genética que promove a perda de neurônios nos pacientes – o que é irreversível. Foto: Werther Santana/Estadão

O estudo

A primeira fase de testes do MAPTRx analisou a segurança do medicamento e mediu, de forma inicial, os efeitos no corpo do paciente e a ação da substância no gene MAPT.

O estudo foi desenvolvido pelo UCL Dementia Research Centre, centro especializado em Alzheimer e demência no Reino Unido, e foi apoiado pelo NIHR UCLH Biomedical Research Centre. Ao todo, 46 pacientes com idade média de 66 anos participaram dos testes, que foram feitos entre 2017 e 2020.

Os pesquisadores dividiram os pacientes em grupos e analisaram os efeitos da aplicação de três diferentes doses do medicamento administradas por injeção intratecal (aplicada no canal medular para atingir o sistema nervoso), em comparação com um placebo.

Os resultados mostram que a droga foi bem tolerada por todos os pacientes durante o período de tratamento e em mais de 90% até o período pós-tratamento. Eles tiveram apenas efeitos colaterais leves ou moderados, sendo dor de cabeça após a injeção da droga o mais comum.

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Os níveis de proteína tau no sistema nervoso central dos pacientes foram analisados ao longo do período de aplicação. Foi constatada uma redução superior a 50% da presença dessa proteína após 24 semanas do início das aplicações nos dois grupos de tratamento que receberam a dose mais alta da droga.

“Quando há morte de neurônios – o que acontece em pacientes com Alzheimer –, a concentração de proteína tau no líquor (líquido cefalorraqueano) aumenta, então uma redução dessa proteína indica que os neurônios estão sendo poupados”, explica o neurologista do Hospital das Clínicas e membro da Associação Brasileira de Neurologia (ABN) Leonel Tadao Takada.

De acordo com o médico, deve levar anos até que os testes sejam finalizados e o produto se torne disponível, caso tenha sua efetividade comprovada. Seguindo o processo padrão de testes de novos medicamentos, as duas novas fases de estudos devem analisar mais detalhadamente a dosagem ideal de medicamento e, por fim, fazer uma testagem em grande escala para entender se há ganhos significativos para os pacientes de forma geral.

A ciência e o Alzheimer

Ainda não há um consenso científico sobre o que leva, exatamente, ao Alzheimer. No entanto, uma das principais pistas perseguidas pelos cientistas são as placas de beta-amiloide, que ficam entre os neurônios, e outras estruturas emaranhadas dentro das células neurais, formadas pela proteína tau.

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Tanto as placas de beta-amiloide quanto o excesso de proteína tau são comumente encontradas em excesso no cérebro de pessoas que têm a doença. No entanto, até o momento, os medicamentos desenvolvidos focavam na beta-amiloide e tinham uma metodologia voltada para a extração da substância por mecanismos bioquímicos e não em inibi-la.

“Os últimos remédios que vimos serem lançados têm esse mecanismo (de tentativa de extração da beta-amiloide), mas o problema é que a gente vê que isso gera ganhos muito limitados. Não vemos uma resposta muito brilhante no quadro clínico dos pacientes”, diz o geriatra membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Hospital Estadual Mário Covas Natan Chehter.

“Esse novo estudo tem investido em outra questão: evitar o aparecimento dessa proteína tau, ou seja, em vez de tentar retirá-la depois de formada, eles estão tentando evitar que ela seja produzida, agindo do ponto de vista genético”, completa o médico.

Nota: Na fala do médico Leonel Tadao Takada, a quantidade de proteína tau não é medida na medula óssea, como foi escrito inicialmente, mas sim no líquor, líquido cefalorraqueano.

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