De lá até aqui, os manicômios remanescentes foram, gradualmente, desmontados, devolvendo aos internos a prerrogativa à dignidade e à soberania, a começar pela continuidade do tratamento em livre trânsito, para reintegrar-se à vida familiar e comunitária, para um futuro promissor.
Louvo a iniciativa e meta, mas por que não exulto de alegria? Porque não devemos confundir manicômios com hospitais psiquiátricos de qualidade.
Aqueles, são depósitos asilares de vidas esquecidas, sem procedimentos eficazes e emancipadores; estes, são institutos que tratam crises ou surtos mentais, de iminente risco à vida, com abordagem multiprofissional, estada breve e vistas à alta. Desmontar estes últimos foi um erro, por motivação menos técnica do que ideológica.
Depressões maiores e surtos esquizofrênicos, por exemplo, condicionam, dentre outros, mortes (evitáveis) por suicídio. Requerem bons hospitais psiquiátricos ou enfermarias afins em hospitais gerais. Prevenção e tratamento em saúde pública exigem redes harmônicas, com referências e contrarreferências solidárias. Continuarmos o caminho, dando-nos as mãos: o imperativo ético que não pode mais esperar.
Mauro Aranha É PSIQUIATRA E PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE SP
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