Anvisa proíbe uso e venda de pomada capilar após reação adversa nos olhos de consumidores

Clientes relataram ardência nos olhos e dificuldades para enxergar. Órgão federal ordenou suspensão da distribuição do produto

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Por Caio Possati
Atualização:

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou na última sexta-feira, 6, a proibição do uso, produção, distribuição e comercialização da Cassu Braids, uma pomada capilar usada para modelar e fixar penteados. O cosmético, que é de propriedade da empresa Cassulinha Cabelos, mas fabricado por outra organização, a Microfarma, está sendo barrado por conta de efeitos indesejáveis provocados nos olhos e também por irregularidades da fabricante.

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A agência explicou que a medida foi tomada porque a Microfarma não está regularizada para produzir a pomada. Além disso, a empresa também está com o CNPJ inapto junto à Receita Federal e com a licença sanitária cancelada desde 2018. Outro motivo apontado pela agência foi a alta quantidade de pessoas que relataram ardência nos olhos e dificuldades para enxergar após a aplicação do produto no cabelo.

“A medida”, escreveu a Anvisa em nota, “foi tomada em razão de a empresa fabricante não estar devidamente regularizada para a fabricação desses produtos e também devido aos casos de eventos adversos relacionados ao uso da pomada para modelar e trançar cabelos, encaminhados pelo órgão de vigilância sanitária do município do Rio de Janeiro”.

Uso, venda, produção e distribuição da Pomada capilar Cassu Braids está sendo barrada pela Anvisa por conta de efeitos indesejáveis provocados nos olhos e também por irregularidades da empresa fabricante. Foto: Reprodução

“Os consumidores que usaram o produto relataram irritação ocular, pálpebras inchadas e dor nos olhos, além de dificuldade de enxergar, o que ocorreu ao lavarem o cabelo, após o uso do produto. Os casos seguem em investigação”, informou a Anvisa por meio de nota.

A Cassulinha Cabelos, distribuidora da Cassu Braids e que terceiriza a produção do cosmético, afirmou na sexta-feira, em publicação nas suas redes sociais, que os erros que levaram a suspensão da pomada devem ser respondidos pela Microfarma.

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A reportagem tentou entrar em contato com a fabricante, mas não conseguiu resposta. “O ocorrido não diz respeito a Cassulinha Cabelos e sim a empresa o qual empregamos o serviço de produzir nossas pomadas”, se manifestou a Cassulinha.

No sábado, a proprietária da Cassulinha, Thaysa Paixão, gravou um vídeo para defender a distribuidora. Ela mostrou que a Cassu Braids tem registro na Anvisa, disse que há orientação no rótulo sobre problemas oculares que o cosmético pode provocar, e “que todas as pomadas, independente da marca, podem machucar os olhos”.

Thaysa disse ainda que o excesso de problemas de saúde ocasionados podem ter acontecido por conta de uma mistura de mais pessoas passando produto para as festas de final de ano somado com um número maior de chuvas que predomina nesta época. Ao entrar em contato com a água, o cosmético pode escorrer para os olhos e levar à ardência relatada.

A decisão de barrar o uso do produto pela agência nacional aconteceu um dia depois do Instituto Municipal de Vigilância Sanitária, Vigilância de Zoonoses e Inspeção Agropecuária do Rio de Janeiro (IVISA-Rio) também ter determinado, na última quinta-feira, 5, a suspensão imediata da utilização da pomada modeladora e de outros produtos fabricados pela Microfarma e distribuídos pelo Instituto Cassulinha Cabelos.

O fato motivou também o Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro a produzir uma cartilha informando os cuidados ao manipular os produtos cosméticos, como lavar as mãos, usar muita água caso a pomada caia nos olhos e nunca usar uma mercadoria depois do prazo da validade.

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Devolução do produto

A agência avisa os consumidores que compraram a pomada para não usá-la, e pede que entrem em contato com a Microfarma para devolver o produto uma vez que a fabricante precisará retirar todas as unidades da Cassu Braids que estão à venda no mercado.

A Anvisa também orienta os estabelecimentos, como salões de beleza e cabelereiros que aplicam o produto em clientes, para a suspender “imediatamente” o uso do cosmético.

“Quem fez uso recente da pomada deve observar o cuidado ao lavar os cabelos, para que o produto não entre em contato com os olhos. Em caso de qualquer efeito adverso, procure imediatamente o serviço de saúde mais próximo de você”, escreveu a agência.

Anvisa já havia alertado

No ano passado, a Anvisa já tinha feito um alerta sobre relatos de efeitos adversos nos olhos provocados por cosméticos usados para modelar e trançar os cabelos. Uma das consequências apresentadas pela agência foi de cegueira temporária, considerado um efeito indesejável de nível grave.

A maioria das ocorrências foi relatada após o contato do produto, já aplicado no cabelo, com água de piscina e do mar. A pomada Cassu Braids, barrado na sexta, chega a orientar no rótulo que é necessário cuidado para a pomada não entrar em contato com olhos e com a mucosa, conforme fora relatado por Thaysa Paixão.

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“Os relatos de casos de efeitos indesejáveis notificados à Anvisa apresentaram, por exemplo, cegueira temporária (perda temporária da visão), forte ardência nos olhos, lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão, inchaço ocular e dor de cabeça. Um dos casos, segundo diagnóstico médico, o paciente apresentou lesão grave nos olhos”, informou a Anvisa no alerta.

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