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Número de médicos homeopatas cresce 21% em 10 anos apesar de falta de evidências científicas

Alta, porém, é inferior ao crescimento do total de médicos no País; especialidade é mais frequente entre profissionais mais velhos e pediatras

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Foto do author Fabiana Cambricoli
Atualização:

Alvo de controvérsia nas comunidades médica e científica pela ausência de evidências científicas sobre sua eficácia, mas reconhecida como especialidade médica no Brasil pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a homeopatia teve um crescimento de 21% no número de profissionais médicos nos últimos dez anos, mas vem perdendo espaço entre recém-graduados e médicos mais jovens.

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É o que mostram dados do estudo Demografia Médica, feito pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Médica Brasileira (AMB). A especialidade, reconhecida desde 1980, é a que tem profissionais com idade média mais elevada entre as 55 áreas de atuação reconhecidas pelo conselho. Enquanto a média geral de idade dos profissionais médicos no País é de 45,9 anos, entre os homeopatas, é de 62,4 anos.

A discussão sobre a falta de eficácia da homeopatia ganhou destaque nesta semana com o lançamento de novo livro da microbiologista Natalia Pasternak e do jornalista Carlos Orsi no qual eles mapeiam pseudociências e crenças populares no Brasil que não têm embasamento em estudos clínicos robustos. Em entrevista ao Estadão publicada na segunda-feira, 17, a autora, que é presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), disse que estudos já demonstraram que “a homeopatia não funciona melhor do que um placebo”.

Também em entrevista ao Estadão sobre a polêmica, o 1º vice-presidente do CFM, Jeancarlo Cavalcante, disse que o órgão está aberto a uma nova análise do reconhecimento da especialidade e que levará para apreciação dos demais conselheiros as evidências que questionam a prática.

Apesar de países como Reino Unido e Austrália já terem interrompido a oferta de tratamentos homeopáticos em seus sistemas de saúde justamente pela falta de evidências científicas sobre sua eficácia, o Brasil vê o número de registros profissionais do tipo aumentar ano a ano, mas em ritmo muito inferior à alta do número geral de registros médicos, que cresceu 84,8% na última década.

Brasil tem quase 3 mil médicos homeopatas, mas busca pela especialidade está em baixa Foto: Pixabay

Ainda de acordo com a Demografia Médica, são 2.973 registros de homeopatas nos conselhos regionais de medicina e 2.766 médicos dessa especialidade atuando no País - o número de registros é diferente do de médicos porque um profissional pode ter registro em mais de um Estado.

Chama a atenção o fato de o País ter mais médicos homeopatas do que especialistas em áreas com demanda crescente, como geriatras (2.670 registros), mastologistas (2.912) e coloproctologistas (2.414).

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Para Mario Scheffer, professor da FMUSP e principal pesquisador do estudo, especialidades como geriatria, que exigem pré-requisito de outra residência prévia (neste caso, a clínica médica), costumam atrair menos profissionais pela maior duração da especialização. A homeopatia, por sua vez, não tem nenhuma outra especialização prévia como pré-requisito. Muitos dos especialistas dessa área, inclusive, não fazem residência, mas somente a prova de títulos da Associação Médica Homeopática Brasileira.

“É uma especialidade de entrada direta e com mercado de trabalho amplo no setor privado e no SUS, isso pode explicar a escolha pela especialidade, embora ela não esteja tão em alta”, explica.

Apesar de não haver a obrigatoriedade de uma primeira residência em outra especialidade para homeopatia, a Demografia Médica mostra que a maioria desses profissionais já têm outro título de especialista, em especial na área de pediatria. São 634 homeopatas nessa situação. Outros 311 são também médicos do trabalho e 274, acupunturistas. “É uma especialidade de médicos mais velhos e que muitas vezes buscam essa como segunda especialização”. A média de tempo de formado dos homeopatas é de 37 anos.

Entre os graduados mais recentemente, a especialidade não é das mais buscadas. Ela está entre as cinco com o menor número de residentes em 2021 - apenas dez profissionais médicos optaram pela especialização na área naquele ano.

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