O secretário municipal de Transportes de São Paulo, Edson Caram, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira, 12, segundo informou por nota a Prefeitura de São Paulo. A saída se deu após Caram ter sido alvo, na segunda-feira, de um ultimato do prefeito Bruno Covas (PSDB), que disse que ou Caram resolveria o problema da lotação nos ônibus da cidade até esta sexta ou, na segunda, outra pessoa faria isso. Covas vem sendo cobrado por manter ônibus lotados no período em que autoriza a retomada de atividades comerciais em meio à pandemia de coronavírus. Ele fica no cargo até a escolha de um substituto.
O últimato havia supreendido aliados do prefeito na Câmara Municipal, que disseram não acreditar que o Covas cumpriria a ameaça. No loteamento de cargos da capital paulista, a pasta de Transportes é do DEM, que indica titulares e auxiliares.
Aliados do prefeito disseram ao Estadão que o secretário teria se irritado com a fala e chegou a cogitar pedir demissão ainda na segunda-feira, logo após as declarações de Covas, feitas durante coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo, ao lado do governador João Doria (PSDB). A fala teria surpreendido auxiliares, segundo relatos ouvidos pela reportagem, uma vez que a cobrança pública ainda não havia sido feita reservadamente no mesmo tom. Caram foi demovido da ideia de sair na hora sob o argumento de que uma ruptura abrupta poderia abalar a relação entre o governo e o partido aliado.
O atrito entre Covas e Caram tem origem em questões de gestão pública. É a presença de pessoas em pé nos ônibus municipais. Caram havia se comprometido a por tantos ônibus quanto fossem necessários nas ruas para garantir que todas as pessoas viajassem sentadas e, assim, evitassem aglomerações e a transmissão do coronavírus. Técnicos da São Paulo Transporte (SPTrans) avaliavam, no entanto, que uma série de fatores faz o cumprimento da promessa ser impossível, mesmo com a colocação de 100% dos ônibus para circular (o índice está na casa dos 70%, enquanto o número de passageiros não chega aos 40%, segundo esses técnicos) e que, por isso, Caram não deveria ter feito tal compromisso.
"O secretário municipal de transportes havia garantido que nesta semana não haveria passageiro em pé. Hoje pela manhã o número que a gente tem é que 5% das linhas tinham passageiros em pé. O secretário tem até sexta-feira para conseguir fazer isso. Se até sexta-feira ele não conseguir, a partir da segunda-feira é outro secretário que vai fazer isso", disse Covas, na segunda. A fala foi vista como intempestiva por secretários municipais, vereadores e até a equipe do Palácio dos Bandeirantes. Ao longo da semana, Covas não fez novas declarações sobre o tema.
A questão dos passageiros foi a gota d'água de uma insatisfação que se iniciou em abril e obrigou Covas a fazer recuos públicos e se explicar sobre erros de sua gestão. Duas medidas sugeridas pela equipe de Caram e adotadas por Covas geraram tantas críticas ao prefeito nos telejornais que ele se viu obrigado a recuar: o bloqueio de avenidas da cidade, para obrigar as pessoas a ficarem em casa, e o mega rodízio, em que 50% da frota estava proibida de rodar todos os dias. Ambas as ações geraram transtornos na cidade sem mudar significativamente os índices de isolamento social.
Ainda de acordo com aliados, Caram já foi sondado sobre aceitar um outro cargo na Prefeitura, como assessor especial, ainda em nome da manutenção da boa relação entre DEM e PSDB, mas não respondeu. O novo nome para ocupar a pasta ainda não foi decidido. Covas tem no DEM seu principal partido aliado para disputar as eleições deste ano, e conta com o apoio de parlamentares como Milton Leite, que tem histórico de expressivas votações na zona sul da cidade e tem ligação política com grupos empresariais dos ônibus que, no passado, eram perueiros.
"O prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas, aceitou a decisão e pediu que Caram permaneça no cargo por mais alguns dias, até a escolha de um substituto para a secretaria", informou a Prefeitura, por nota.
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