Brasília - O Ministério da Saúde quer recontar as mortes por covid-19 no País, sob o argumento de que haveria óbitos a mais, ocorridos por outras doenças, mas erroneamente registrados como coronavírus. Na avaliação da cúpula da pasta, Estados e municípios estariam manipulando informações para se beneficiarem de recursos do governo federal. A possibilidade de recontagem provocou reação de entidades. O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, afirmou que há uma tentativa “autoritária, insensível, desumana e anti-ética” de dar invisibilidade aos mortos pelo coronavírus.
Até o momento, nenhum apontamento sobre esses supostos erros foi feito pelo ministério, que ainda não se posicionou oficialmente sobre o assunto. Ao contrário, há um entendimento de que o problema é inverso: milhares de mortos estariam sendo enterrados sem ter a causa da morte devidamente apurada, ou seja, o número total seria maior. O próprio Ministério da Saúde informava, até a última quinta-feira, 4, que havia mais de 4 mil mortes sendo investigadas, além daquelas já confirmadas. Esses dados já não constavam no balanço desta sexta-feira.
Em entrevista à coluna da jornalista Bela Megale, do jornal O Globo, o indicado a secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde disse que o órgão vai recontar o número de mortos no Brasil vítimas do coronavírus porque os dados atuais seriam “fantasiosos ou manipulados”.
Ao Estadão, Wizard disse que o governo Bolsonaro não pretende “desenterrar mortos”, como forma de averiguar se os mais de 35 mil óbitos registrados oficialmente pelo próprio governo, em relação à covid-19, foram de fato resultado de mortes pela doença. “Não pretendemos desenterrar mortos, não tratamos disso. O que pretendemos é rever os critérios dessas mortes”, disse Wizard, que espera que sua nomeação como secretário no Ministério da Saúde seja publicada na próxima segunda-feira, 8.
Depois de o Ministério da Saúde atrasar o horário de divulgação de dados do coronavírus e deixar de divulgar o número total de mortos e contaminados, o site do governo que traz os dados sobre a doença no País ficou fora do ar nesta sexta e em grande parte deste sábado.
Em uma rede social, o presidente Jair Bolsonaro disse que a pasta “adequou a divulgação dos dados sobre casos e mortes” para “maior precisão”. O portal do Ministério da Saúde que divulga dados do coronavírus está fora do ar desde ontem.
Em sua conta do Twitter, Bolsonaro disse que o ministério optou pela divulgação às 22h para evitar “subnotificação e inconsistências” e que as rotinas e fluxos estão sendo “adequados” para garantir a “melhor extração” dos dados diários, o que demanda aguardar relatórios das secretarias estaduais e a checagem do dados.“A divulgação entre 17h e 19h, ainda havia risco subnotificação. Os fluxos estão sendo padronizados e adequados para a melhor precisão”, escreveu.
Nesta sexta, ao ser questionado sobre a mudança no horário, na porta do Palácio da Alvorada, o presidente disse “Acabou a matéria no Jornal Nacional”.
No Twitter, Bolsonaro também tentou justificar o fato de o Ministério da Saúde não informar mais os números acumulados de casos e mortes causados pelo coronavírus. “Ao acumular dados, além de não indicar que a maior parcela já não está com a doença, não retratam o momento do país”, disse.
O presidente tuitou ainda que “outras ações estão em curso para melhorar a notificação dos casos e confirmação diagnóstica”, sem especificar.
Bolsonaro disse ainda na rede social que a coleta de informações evoluiu e permite obter dados mais precisos sobre cada região. “A divulgação dos dados de 24 horas permite acompanhar a realidade do país neste momento e definir estratégias adequadas para o atendimento a população. A curva de casos mostram as situações como as cenários mais críticos, as reversões de quadros e a necessidade para preparação”, escreveu o presidente.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.