“Eu era totalmente sedentária, não fazia nenhuma atividade física, e lá pelos 50 anos comecei a sentir dor no joelho. Procurei um ortopedista e ele me deu diagnóstico de condromalácia (desgaste da cartilagem do osso da patela, localizado na frente do joelho). Fui para a fisioterapia, mas meu ortopedista sempre falou que eu precisava de atividade física. Na época isso não tinha nada a ver comigo. Relutei muito. Aí, vi que estava perdendo osso, começando a osteoporose, me assustei bastante. Quando recebi o diagnóstico de condromalácia no outro joelho, resolvi começar a fazer musculação.
Tinha preconceito em relação a academia, achava que era lugar de gente desocupada, não me via lá dentro, achava que não era para mim. Tanto que tentei outras coisas, fiz pilates, que foi bom, mas não resolvia o meu problema, que era ganhar massa muscular. Esse processo todo, de conscientização, de entender a necessidade, levou uns dois anos. Mas comecei a academia e comecei a entender como aquilo era importante para mim.
Gosto de dizer que nós somos uma máquina maravilhosa, a gente não sabe a força que tem, o potencial. Dentro de nós existe um guerreiro. Então, quando a gente busca e encontra esse guerreiro, a gente consegue fazer maravilhas com o nosso corpo.
A dor foi sumindo, passei até a dormir melhor. Durante um período, cheguei a tomar remédio para dormir, não porque não tinha sono, mas porque não conseguia dormir com tanta dor que sentia.
Meu objetivo era perder 7 quilos, porque achava que ficaria mais leve, demandaria menos do joelho e sentiria menos dor. Mas não aconteceu nada disso, pelo contrário. Hoje peso mais do que quando comecei, mas sou muito mais magra, porque o músculo pesa, né? Todo o processo foi complicado, mas eu viveria tudo de novo. Hoje me sinto melhor do que com 30 anos.
Cada pessoa tem uma preocupação na vida. Quero ter uma vida ativa, forte e plena enquanto estiver aqui. Quando percebi que fui evoluindo, melhorando, a coisa foi ganhando força, aquele ânimo para levantar, para viver, eu falei: ‘Opa, isso aqui é muito bom, gente’. Aí comecei a querer mais. A musculação te dá isso. Você faz um exercício com 3 quilos, em breve você está com 5 quilos, com 6. A evolução vai entrando na sua cabeça: eu posso um pouco mais, posso melhorar, posso evoluir. É uma coisa que te dá essa consciência do guerreiro que você tem, que está dormindo dentro de você, mas existe.
Cada pessoa tem uma preocupação na vida. Quero ter uma vida ativa, forte e plena enquanto estiver aqui”
Mônica Bousquet
Escuto muito ‘Mônica, você é um espelho para mim. Você chegou nesse shape? Então também vou chegar. Também ouço muito na academia: ‘Olha, hoje não queria vir, mas quando lembrei que você estava aqui, eu vim’.
Agora vou participar de um campeonato de fisiculturismo pela primeira vez e estão criando uma categoria 60+ para mim, onde não tenho competidores. Então, na minha categoria, eu já ganhei, e na segunda etapa vou disputar com pessoas mais novas. Vou participar de biquíni rosa. Quero mostrar às mulheres de 60 que, se eu posso, elas podem também. E mostrar que aos 60 nunca estive tão livre, leve e solta.
Treino todos os dias, mas nos fins de semana a rotina é leve, faço porque gosto, porque me dá prazer. De segunda a sexta, fico na academia em torno de 1h30. São 70 minutos de musculação e 30 minutos de caminhada, isso é regra para mim, com chuva ou sol.
Quero mostrar às mulheres de 60 que, se eu posso, elas podem também”
Mônica Bousquet
Dificilmente uma pessoa é feliz com dor. E, mesmo antes de ter o problema no joelho, era uma pessoa assim ‘ah, quando o sol nascer vou ser feliz’, ‘quando tiver o peso certo vou ser feliz’, sempre dependia de alguma coisa externa para sentir satisfação. Comecei a treinar e a olhar para mim, me ver. Hoje sou uma pessoa que, independentemente do que está acontecendo na minha vida, eu sou feliz. Quando você começa mesmo a olhar para dentro de si, você vê que é um ser único, está respirando, tem saúde e que as coisas fluem mesmo com os problemas, que todos nós temos. Até isso a musculação trouxe para mim: agora sei que tenho uma força e que, não importa o que acontecer, eu vou resolver.
Vejo que falta às pessoas planejamento. Elas pensam: ‘Vou me aposentar, preciso ter um dinheirinho, porque vou parar de trabalhar’. Mas ninguém pensa assim: ‘Preciso juntar massa muscular para ficar forte, para ter condição de fazer minha comida, tomar meu banho’. Esse planejamento é importantíssimo.”
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