BRASÍLIA - Dois aviões da frota presidencial deixaram o País por volta das 12h20 desta quarta-feira, 5, para resgatar os brasileiros em Wuhan, cidade da China que se tornou o epicentro do novo coronavírus. A previsão é que o grupo retorne no sábado, 8, quando será colocado em quarentena de 18 dias na base aérea de Anápolis (GO). O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou que o Brasil não tinha aeronave adequada para fazer o resgate. Por isso, houve uso das aeronaves do presidente Jair Bolsonaro.
No total, o governo vai repatriar 34 brasileiros, mas o número pode aumentar até sexta-feira, 7, data prevista para chegada na China e imediato retorno, indicou o secretário de Economia, Finanças e Administração da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno. "O governo Bolsonaro deu uma resposta bem rápida", afirmou Azevedo. Questionado pelo Estado sobre o fato de países europeus e o Japão já terem iniciado as tratativas e até o efetivo resgate de seus cidadãos, o ministro disse que as condições são "diferentes". O Brasil só decidiu realizar a busca no domingo passado. A missão foi planejada e preparada, com envio de equipamentos do Rio, em 48 horas.
"Olha as distâncias, os recursos que eles têm. A Força Aérea não tinha avião para buscar, esse aí é do presidente. Olha a diferença", afirmou o general. Segundo ele, não havia também aeronaves de uso militar disponíveis. "Não tem. O KC-390 que seria o avião indicado, foi entregue o primeiro e estamos em fase de testes. Estamos muito defasados em relação a isso aí."
O Comando da Aeronáutica destacou dois aviões “emprestados” da frota presidencial para realizar a missão - os modelos Embraer 190 possuem desenho interno para o transporte de autoridades. Eles não passaram nenhuma adaptação específica. Os dois VC-2, modelo Embraer 190, têm capacidade para 30 passageiros cada, fora as equipes médicas e tripulação de 11 militares. Em cada aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB), irão tripulantes e sete médicos, sendo seis militares e um infectologista especialista em epidemias do Ministério da Saúde. Além disso, haverá um cinegrafista da Empresa Brasil de Comunicação.
Os 34 passageiros serão divididos entre as duas aeronaves, para minimizar riscos de infecção. O médicos também devem se revezar a cada três horas no contato com os passageiros a bordo. “E o pessoal chegando, inclusive nosso pessoal da Força Aérea, mais de uma dezena de militares, quando voltar também vão passar o carnaval em quarentena. Então, é responsabilidade acima de tudo trazendo esse pessoal de lá para cá", disse Bolsonaro.
Apesar da margem para a retirada de mais pessoas de Wuhan, conforme o oficial, um eventual aumento no número de passageiros poderia “atrasar” a missão de resgate.Os voos são planejados de acordo com a capacidade de transporte de peso, o que inclui neste caso equipamentos médicos, e a autonomia da aeronave, que pode necessitar de mais ou menos paradas para cumprir o percurso. O plano é que a missão dure 62 horas, entre a saída e o retorno ao Brasil.
Até o momento, a China já confirmou 490 mortes pelo coronavírus e mais de 24 mil infectados. Não há infecções confirmadas no Brasil. Nesta terça-feira, 4, a Câmara dos Deputados aprovou o texto com as regras da quarentena e do resgate dos brasileiros. No projeto, a quarentena é definida como “restrição de atividades ou separação de pessoas suspeitas de contaminação das pessoas que não estejam doentes ou de bagagens, contêineres, animais, meios de transporte ou mercadorias suspeitos de contaminação, de maneira a evitar a possível contaminação ou a propagação do coronavírus”. O texto ainda vai passar por análise de Senado.
A previsão da FAB é que os aviões aterrissem em Wuhan na madrugada de sexta-feira, 7, e iniciem um trecho de retorno no mesmo dia, embora operações semelhantes de outros países tenham apresentado atrasos nos trâmites de embarque por causa dos protocolos de saúde. A chegada ao Brasil é prevista para a manhã de sábado, 8.
Voo terá escala na Espanha e na Polônia
Na terça-feira, dia 4, dois Legacys da FAB já haviam decolado com equipes de bordo e técnicos de aeronave farão revezamento em escala prevista na Polônia. Os aviões param em Fortaleza, Las Palmas (Espanha), Varsóvia (Polônia) e Urumqi (China), antes de pousar em Wuhan. O trajeto de volta é o mesmo, porém com pouso previsto para ocorrer na madrugada de sábado em Anápolis (Goiás), onde ficarão em quarentena de 18 dias. Após inspeções e exames feitas por autoridades chinesas no próprio aeroporto, só serão liberados para embarque de volta ao País os brasileiros que não apresentarem sintomas de infecção pelo novo coronavírus.
"Todas as pessoas que vão embarcar estão sadias, não há nenhuma evidência do vírus", disse Damasceno. Como os passageiros resgatados podem apresentar evolução nos sintomas durante o voo de volta, as equipes médicas militares foram treinadas pelo Instituto de Medicina Aeroespacial para realizar uma evacuação e instalar um equipamento "bolha" no paciente. No retorno, os médicos usarão máscaras com especificação a bordo para evitar infecção no contato com os passageiros.
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