No Pergunte ao Especialista desta semana falamos sobre bexiga baixa. Se você também tiver alguma dúvida sobre saúde, psicologia, bem-estar, exercício físico ou nutrição, escreva para ana.lourenco@estadao.com ou envie uma DM para o nosso Instagram (@bemestarestadao).
Quando fico sem calcinha, sinto a bexiga caindo, muito incômodo e urino de 5 em 5 minutos. Tenho bexiga baixa? Não tive filhos. Como resolver, por favor?
Luana de Franca, São Paulo
Responde Taís Calomeny, ginecologista.
Bexiga caída, bexiga arriada, prolapso de bexiga são nomes do que a gente chama de cistocele. Uma condição que acontece quando temos uma protuberância da bexiga para dentro da vagina.
A sensação que muitas pacientes relatam é de sentir “uma bola na vagina” ou um aumento da região. E realmente, quando examinamos, conseguimos identificar que é um prolapso da parede da bexiga para dentro da vagina. Além disso, a paciente pode ter dificuldade para urinar – tanto pode ter incontinência urinária e não conseguir segurar a urina quanto pode ter uma dificuldade em liberar todo o jato por causa do volume dessa protuberância que fica na vagina.
Pacientes acima do peso, tabagistas, que sofrem com constipação intestinal, mulheres que fazem atividade com grande carga de peso têm uma propensão maior em desenvolver essa patologia. Crossfit, por exemplo, é uma atividade que aumenta muito a pressão abdominal subitamente e na qual as pessoas levantam uma quantidade de peso muito grande, então é preciso cuidado.
A relação da doença com a maternidade tem a ver com a mudança no assoalho pélvico. Ou seja, como a bexiga é sustentada pelo fortalecimento dos músculos que fazem parte do assoalho pélvico, qualquer coisa que abale essa estrutura e a integridade desses músculos pode determinar os prolapsos vaginais – nesse caso, o prolapso da bexiga.
Podem aumentar as probabilidades da cistocele acontecer se teve um parto vaginal sem preparação do períneo (região entre vagina e o ânus); se a estrutura do assoalho pélvico não foi preservada; numa situação que a paciente chega ao hospital já no período expulsivo; com laceração (rompimento natural da pele ou de outras estruturas do períneo); ou ainda que teve episiotomia (corte realizado no períneo da mulher); além de pacientes que tiveram múltiplas gestações (dois, três, quatro partos normais).
Toda vez que essa musculatura do assoalho pélvico é enfraquecida – que pode ser com a maternidade, com a idade, com muito esforço de carregar peso ou com o aumento de peso – pode aumentar as possibilidades. Parto normal, portanto é classificado como um dos fatores de risco, porém pacientes que só fizeram cesáreas têm o mesmo risco de mulheres que não tiveram parto nenhum, porque o risco não está restrito a isso.
Mulheres que já estão na menopausa há muito tempo – e assim têm a musculatura da vagina mais flácida, assim como desgaste dos músculos do assoalho pélvico, que não tem tanta elasticidade – podem sofrer por conta das alterações (inclusive da gravidade), resultando no prolapso vaginal.
A gente avalia isso conversando com a paciente, fazendo uma boa anamnese, entendendo todas as queixas dela. E, no exame físico, fechamos o diagnóstico.
Soluções
Existem vários graus para essa condição. Se for uma cistocele muito grande, que classificamos como graus 3 e 4, essa proeminência pode ultrapassar a região do hímen e sair para fora da vagina. Para esses casos existem cirurgias, que melhoram a qualidade de vida da mulher.
Outra coisa que é interessante é o uso dos pessários, um dispositivo de silicone feito sob medida. Quando colocado dentro da vagina, pode corrigir o prolapso de forma temporária. É indicado para pacientes que não podem passar por cirurgias, como cardiopatas ou com doenças crônicas. Já a cistocele de grau 1 e 2, consideradas leves e moderadas, respectivamente, são bastante beneficiadas com exercícios pélvicos.
A fisioterapia pélvica é muito recomendada para o fortalecimento desses músculos. Algo que podemos fazer tanto de forma preventiva para pacientes gestantes quanto em mulheres que estão na transição da menopausa, quando a gente já sabe que vai diminuir o estrogênio, aumentar o ressecamento e reduzir a elasticidade dessa musculatura.
Os exercícios de fisioterapia podem ser com fisioterapeutas indicados ou com orientação para a paciente fazer em casa sozinha. O estímulo a realizar atividades físicas que promovem a sustentação e o fortalecimento do assoalho pélvico, assim como a não orientação de exercícios sobrecarregados de peso, também ajudam.
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