O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar a aprovação da Anvisa para a vacinação infantil contra a covid durante passeio por Praia Grande, no litoral paulista, na tarde deste domingo, 19. Em conversa com apoiadores e acompanhado de Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, ele afirmou que a imunização de crianças é "coisa muita séria" e defendeu que haja autorização dos pais e receita médica para aplicar a vacina na população pediátrica.
"É o pai que decide, se depender de mim, e com receita médica também. É você quem decide, não o governador", disse. "Criança é uma coisa muito séria. Não se sabe os possíveis efeitos adversos futuros."
Bolsonaro disse ainda que teria conversado com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre o tema. "Liguei às 4h para o Queiroga, dei uma diretriz para ele. Obviamente ele bate o martelo porque é o médico da equipe. Vacina para criança primeiro só autorizada pelo pai. Se algum prefeito, governador, ditador quiser impor é outra história. Mas, do governo federal, tem que ter autorização dos pais, tem que ter uma receita médica", comentou, afirmando que a pasta "vai anunciar nos próximos dias isso daí".
Em seguida, Bolsonaro voltou a atacar a Anvisa, afirmando que é "inacreditável" o que o órgão fez. "O controle da farmacovigilância é a Saúde que vai ver isso, tem que ser exercido pela Anvisa. Tem uma nota de 4 ou 5 dias da Anvisa, onde tem 15 itens, e não estamos divulgando. Não estou fazendo juízo de valor, só falando o que a Anvisa está fazendo."
A vacinação contra a covid em crianças e adolescentes de 5 a 11 anos foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na última quinta-feira e, no mesmo dia, recebeu ataques do presidente durante sua live semanal. Apesar de reconhecer neste domingo que "o controle da farmacovigilância tem que ser exercido pela Anvisa", Bolsonaro ameaçou durante sua transmissão divulgar "extraoficialmente" os nomes dos servidores e diretores responsáveis pelo aval.
A fala de Bolsonaro foi recebida com repúdio pela Anvisa, que, em nota, reforçou que "seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas". Já neste domingo, o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, publicou um novo documento co-assinado pelos diretores da autarquia, no qual relata um aumento nas ameaças físicas contra servidores do órgão desde a intimidação do presidente.
No sábado, Queiroga afirmou que a Saúde se manifestaria sobre a vacinação infantil apenas em 5 de janeiro, uma vez que seria necessária uma análise da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI) sobre o tema. Um documento obtido pela reportagem do Estadão, entretanto, aponta que o grupo já havia se reunido na véspera da fala do ministro e aprovado de forma unânime a decisão da Anvisa.
Na nota, os especialistas CTAI também afirmaram que "os benefícios são muito maiores do que os riscos" no caso da vacinação infantil, um "pilar central de avaliação de qualquer vacina incorporada pelos diversos programas de vacinação, seja no Brasil ou no mundo". O grupo ainda destacou o aumento dos riscos para a população pediátrica frente à chegada da variante Ômicron no País, aletando que "torna-se oportuno e urgente ampliarmos o benefício da vacinação a este grupo etário".
No início da noite, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, condenou o que chamou de "perseguição" aos servidores da Anvisa" e cobrou uma investigação sobre os casos. "A perseguição aos técnicos da Anvisa é uma vergonha nacional. Mostra como o discurso do ódio chegou a níveis alarmantes no país. Aos servidores da agência, expresso minha solidariedade. Conclamo que as autoridades policiais investiguem e garantam a segurança das famílias."
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