BRASÍLIA - Em cerimônia no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira, 12, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou minimizar o atrito com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Depois de ter rebatido uma carta do chefe do órgão, Antonio Barra Torres, dirigida a ele, Bolsonaro disse que não “brigou” com o almirante, mas apenas o questionou sobre a liberação da vacinação de crianças contra a covid-19.
“Aqui não é um quartel, mas devemos ao máximo zelar pela hierarquia e disciplina, senão não funciona. Não briguei com o presidente da Anvisa, apenas questionei sobre um assunto que tinha que ser questionado. Somente eu e ele. De repente está na imprensa”, afirmou o chefe do Executivo, durante o lançamento de linhas de crédito para Aquicultura e Pesca no Palácio do Planalto.
Nesta segunda-feira, 10, dois dias após ser cobrado publicamente para que se retratasse dos ataques à Anvisa, Bolsonaro se disse surpreso com o que chamou de “carta agressiva” de Barra Torres. O presidente afirmou não ter acusado o almirante de corrupção e mudou o tom das insinuações, mas voltou a levantar dúvidas sobre as “intenções” da agência ao recomendar a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra a covid.
“Me surpreendi com a carta dele. Carta agressiva, não tinha motivo para aquilo. Eu falei: ‘O que está por trás do que a Anvisa vem fazendo?’ Ninguém acusou ninguém de corrupção. Por enquanto, não tenho o que fazer no tocante a isso aí”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan.
No último sábado, Barra Torres cobrou uma retratação pública de Bolsonaro, dois dias após o presidente questionar os “interesses” de integrantes da Anvisa, ao reclamar do aval à vacinação infantil. “Se o senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate”, escreveu o militar da reserva da Marinha, ao desafiar o presidente a apontar indícios de corrupção contra ele.
Barra Torres deu tom desafiador e pessoal à nota, assumindo para si uma insinuação que Bolsonaro fez genericamente à Anvisa, em mais um episódio de confronto do presidente com as instituições.
Na entrevista à Jovem Pan, o presidente disse que a Anvisa é um órgão independente, não sofre interferência, mas que o trabalho “poderia ser diferente”. “Não estou acusando a Anvisa de nada. Agora, se tem alguma coisa acontecendo, não há a menor dúvida”, afirmou ele, que falou em “segundas intenções” da agência.
Bolsonaro também disse que Barra Torres ganhou “luz própria” depois de ter sido indicado para o cargo. “Eu sei que é ele quem decide”, afirmou. “Eu não tinha convivência com ele, se tivesse tido convivência, talvez não o indicasse. Não quero dizer com isso qualquer crítica desabonadora ao almirante Barra Torres.”
O presidente da Anvisa não pode ser demitido do cargo antes de 2025, de acordo com a legislação vigente.
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