Após anos de queda na adesão às vacinas, o Brasil conseguiu melhorar as coberturas vacinais de 13 dos 16 imunizantes do calendário infantil em 2023, mas, apesar do avanço, os índices ainda estão abaixo das metas preconizadas pelo governo federal, que variam de 90% a 95%. Os dados foram apresentados pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira, 23, na sede do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em Brasília.
Tiveram melhora nos índices as seguintes vacinas (cada dose ou reforço foi considerado como uma vacina separada pelo ministério):
- Poliomielite (versão oral e inativada)
- Febre amarela
- Hepatite A
- Meningocócica C (1ª dose e reforço)
- Pentavalente (que protege contra difteria, tétano, coqueluche, Haemophilus influenzae b – Hib e hepatite B)
- Rotavírus
- Pneumocócica 10 (1ª dose e reforço)
- Tríplice viral (1ª e 2ª doses, contra sarampo, caxumba e rubéola)
- Reforço da tríplice bacteriana (DTP)
O aumento variou de 4 a 9 pontos percentuais. No caso da vacina contra a poliomielite, doença popularmente conhecida como paralisia infantil, o índice passou de 77,2% em 2022 para 84,7% em 2023. A vacina que teve a maior alta em pontos percentuais foi o reforço da tríplice bacteriana (DTP), que passou de 67,4% em 2022 para 76,8% no ano passado.
Segundo a pasta, a melhoria nos índices vacinais pode ser atribuída ao retorno do personagem Zé Gotinha, símbolo da vacinação no Brasil, e a uma comunicação mais efetiva.
Além disso, a ministra Nísia Trindade também destacou o papel da estratégia de microplanejamento, no qual equipes da pasta vão aos Estados para participar de ações como análise de dados relacionados a características geográficas, socioeconômicas e demográficas. “O microplanejamento foi fundamental para compreendermos as particularidades de cada localidade e identificarmos a estratégia de vacinação mais adequada”, afirmou a ministra.
O ministério ressaltou ainda que foram investidos mais de R$ 6,5 bilhões na compra de imunizantes e a previsão é que esses recursos alcancem R$ 10,9 bilhões em 2024.
Metas vacinais e disparidades
Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destaca que qualquer aumento na cobertura vacinal é positivo, mas ressalta a importância de considerar as melhorias nos sistemas de informação da saúde pública, que podem ter contribuído para uma maior precisão nos registros de vacinação.
Além disso, ela alerta que, embora tenhamos avançado, a média atual de cobertura das 13 vacinas infantis que apresentaram aumento é de pouco mais de 70% e, portanto, significativamente abaixo da meta de 95%.
Vale ressaltar também que vacinas como BCG, hepatite B e varicela, caminharam no sentido oposto, com queda significativa dos índices vacinais. “Apesar do progresso, nossa média de cobertura permanece muito inferior ao esperado para manter essas doenças eliminadas”, diz Isabella.
Durante a apresentação dos dados, Nísia afirmou que os resultados alcançados representam um avanço em direção às metas vacinais, mas reconheceu que ainda há muito a ser feito. Isso porque, segundo a ministra, “o negacionismo do governo anterior ainda persiste, principalmente por meio da disseminação de desinformação”.
Embora os dados por Estado não tenham sido divulgados pela pasta, Isabella ressalta também a necessidade de considerar essa disparidade. Ela explica que os índices vacinais variam consideravelmente no País, o que pode criar áreas de risco, onde coberturas vacinais baixas tornam uma região mais suscetível a determinadas doenças.
“Nós vemos com bons olhos e sabemos dos esforços do Ministério da Saúde. A aproximação com os Estados e municípios, por meio do microplanejamento, é um exemplo disso. Entretanto, os dados recentemente divulgados precisam ser olhados levando em consideração as metas vacinais e as disparidades por regiões”, afirma a diretora da SBIm.
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