Brasil tem aumento expressivo no uso de opioides em uma década

Segundo pesquisa inédita do Ministério da Justiça e Segurança Pública, população que fez uso dos medicamentos cresceu nove vezes; esse tipo de analgésico tem um grande potencial adictivo

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Foto do author Paula Ferreira
Atualização:

BRASÍLIA- A explosão do uso de analgésicos opioides que preocupou os Estados Unidos também teve reflexos no Brasil. Um estudo inédito do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), obtido com exclusividade pelo Estadão, mostra que o percentual da população brasileira que já fez uso desses medicamentos cresceu nove vezes em uma década, passando de 0,8% em 2012 para 7,6% em 2023.

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Os analgésicos opioides são medicações potentes para tratar a dor. Acontece que eles têm um grande potencial adictivo — nos EUA, essa classe de medicamentos levou à uma epidemia de overdoses sem precedentes. Fazem parte desse grupo substâncias como morfina, tramadol, tylex, dolantina, codein, codeína, oxicotina, oxicodona, entre outras.

Em reportagem recente do Estadão, médicos destacaram que esses remédios podem salvar vidas e trazer enorme alívio para quem sofre com dores de moderadas a intensas – quando usados adequadamente e com uma clara indicação. Antes de prescrevê-los, os profissionais de saúde têm como aplicar modelos para avaliar o risco de um paciente desenvolver adicção, por exemplo.

A pesquisa do MJSP indica que o aumento de uso foi ainda maior entre as mulheres, saindo de 1% entre o público feminino em 2012 para 8,8% em 2023. O estudo mostra ainda que o uso de medicamentos controlados em geral, considerando benzodiazepínicos (calmantes) e estimulantes, cresceu especialmente entre o público feminino. Entre os homens, o uso de opioides passou de 0,5% em 2012 para 6,3% em 2023.

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Uso de analgésicos opioides cresceu no Brasil. Essas drogas, usadas para tratar a dor, têm grande potencial adictivo.  Foto: leighannef/Adobe Stock

Os dados estão no Levantamento de Álcool e Drogas (Lenad), feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) a pedido da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Pela primeira vez, a pesquisa reúne dados sobre o vício em cigarros eletrônicos, em jogos de apostas (incluindo as chamadas bets) e o uso de medicamentos sem prescrição médica.

A pesquisa levou em consideração uma amostra de 16 mil pessoas com 14 anos ou mais, classificadas como adolescentes (14 a 17 anos) e adultos (18 ou mais).

Nesta quarta-feira, 26, o Ministério da Justiça e Segurança Pública lança o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid). O organismo será responsável por reunir informações sobre drogas para embasar políticas públicas na área.

O Ministério da Saúde indica o uso de opioides apenas para tratamentos específicos como câncer e dor crônica, e não para o uso de rotina. Uma pesquisa feita pela Fiocruz em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2023, mostrou que um em cada três brasileiros com mais de 50 anos sofre de algum tipo de dor crônica. Desses, quase um terço usa opioides.

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No entanto, outra pesquisa da Fiocruz, feita em 2015, apontou que mais de 4 milhões de brasileiros já usaram opioides indevidamente, isto é, sem a indicação de um médico — embora esses remédios sejam controlados pelas rígidas receitas amarelas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“A dependência de opioides ainda não é frequente e talvez não vá ser, dependendo de como o Brasil evoluir, mas ela é relevante na gravidade. Tem gente morrendo”, disse o coordenador do Ambulatório de Opioides do Instituto Perdizes do Hospital das Clínicas da USP (HCFMUSP), André Malbergier, em reportagem do Estadão.

Calmantes e estimulantes

Além do uso de opioides, a pesquisa mostra crescimento na utilização de calmantes — como diazepam, vallium, rivotril, bromazepan, lexotan, olcaldil, lorax, frontal — e de estimulantes e anfetamínicos — como emagrecedores e remédios para tratamento de TDAH.

O porcentual da população que utilizou a classe de benzodiazepínicos, que são calmantes, passou de 9,8% em 2012 para 14,3% em 2023.

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O porcentual de uso desses medicamentos é maior entre as mulheres e, em 2023, correspondia a 17,4% desse público. Enquanto isso, o porcentual de homens que fez uso desse tipo de medicamento é de 10,9%.

Em relação aos estimulantes, o porcentual de pessoas que já fizeram uso desses medicamentos passou de 3,1% em 2012 para 4,6% em 2023. Nesse caso, a utilização também é maior entre as mulheres (4,8%) em comparação aos homens (4,3%).

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