Desde a última sexta-feira, 28, o Vaticano informa que o Papa Francisco enfrenta crises de broncoespasmo que agravam o quadro do pontífice. Ele foi internado ainda no dia 14 de fevereiro e trata uma pneumonia bilateral.
O último boletim, da segunda-feira, 3, de Francisco indicou que sofreu dois episódios de insuficiência respiratória aguda (quando os pulmões falham em oxigenar o sangue e eliminar o dióxido de carbono). “O Santo Padre apresentou dois episódios de insuficiência respiratória aguda, causados por um significativo acúmulo de muco endobrônquico e consequente broncospasmo”.
Conforme explica o coordenador do setor de pneumologia na Rede D’Or São Paulo, André Albuquerque, o broncoespasmo acontece quando os músculos que revestem as vias respiratórias se contraem de forma exagerada, deixando a passagem de ar mais estreita. Isso dificulta a entrada e saída do ar dos pulmões, causando dificuldade para respirar.
“O principal perigo do broncoespasmo é a redução da oxigenação do sangue, que pode levar à insuficiência respiratória”, explica o médico intensivista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Leonardo Rocha.
“Isso acontece porque, com a contração dos músculos dos brônquios, menos ar chega aos pulmões, prejudicando a troca gasosa e diminuindo a quantidade de oxigênio transportada pelo sangue para as células.”
Vômito
Na sexta, 28, segundo o comunicado, o episódio chegou a causar vômito com aspiração, tornando necessário o uso de ventilação mecânica não invasiva.
“O Santo Padre, no início da tarde de hoje, após uma manhã dedicada à fisioterapia respiratória e à oração na capela, apresentou uma crise isolada de broncoespasmo. No entanto, o episódio resultou em vômito com aspiração e um súbito agravamento da função respiratória. O Papa foi prontamente submetido a uma broncoaspiração e iniciou a ventilação mecânica não invasiva, respondendo bem ao tratamento e apresentando melhora nas trocas gasosas”, informou o Vaticano.
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O broncoespasmo, por si só, não provoca vômito, explica o pneumologista brasileiro. “Mas, se a pessoa estiver com muita dificuldade para respirar, pode acabar forçando o abdômen para tentar puxar o ar, o que pode levar ao vômito. Outra possibilidade é que o Papa tenha vomitado primeiro e, ao aspirar parte desse líquido para os pulmões, isso tenha irritado suas vias respiratórias, causando o broncoespasmo.”
Segundo Albuquerque, os vômitos exigem atenção especial porque existe o risco de parte do conteúdo migrar para traqueia e brônquios, contaminando as vias respiratórias. “Em pessoas que já apresentam inflamação brônquica, como em casos de bronquite, essa aspiração pode ser um fator complicador, piorando o broncoespasmo ou até levando a uma infecção pulmonar”, explica o médico.
Para evitar a entrada de líquidos nos pulmões, os médicos fizeram uma broncoaspiração, um procedimento que remove secreções ou restos de alimento e vômito das vias respiratórias. Além disso, o Papa precisou de ventilação mecânica não invasiva, um tipo de suporte que ajuda a respirar sem necessidade de intubação.

“A ventilação não invasiva funciona com uma máscara colocada no rosto do paciente, que empurra o ar para os pulmões e facilita a respiração”, explica Albuquerque. “A vantagem desse método é que o paciente pode tirar a máscara para falar e se alimentar. Já a ventilação mecânica invasiva, que exige intubação, só é usada em casos mais graves, quando a pessoa não consegue respirar sozinha e precisa de um tubo dentro da garganta para garantir a passagem de ar.”
Evolução do quadro
- 14 de fevereiro – Internação
O Papa Francisco, de 88 anos, foi internado no Hospital Gemelli, em Roma, com um quadro inicial de bronquite. Dias antes, já demonstrava dificuldades respiratórias e chegou a pedir que um assistente lesse seu discurso. O pontífice perdeu parte de um pulmão na juventude devido a uma infecção respiratória, fator que já tornava a situação mais preocupante.
- 17 de fevereiro – Infecção polimicrobiana
O Vaticano informou que o Papa apresentava um “quadro clínico complexo”, causado por uma infecção polimicrobiana. Isso significa que ele enfrentava uma infecção provocada por múltiplos agentes, como vírus e bactérias combinados.
- 18 de fevereiro – Pneumonia bilateral
No dia seguinte, Francisco foi diagnosticado com pneumonia bilateral, uma infecção que compromete ambos os pulmões. Esse tipo de pneumonia costuma ser mais grave do que a que atinge apenas um pulmão, especialmente no caso do pontífice, que já possui uma capacidade respiratória reduzida.
“Essa condição faz com que ele tenha uma capacidade respiratória menor, o que pode deixá-lo mais vulnerável a infecções respiratórias e complicações, especialmente com o avanço da idade”, explicou Gabriel Santiago, coordenador nacional de Pneumologia da Rede D’Or ao Estadão.
- 22 de fevereiro – Crise respiratória e alterações no sangue
O Papa teve uma crise respiratória asmática prolongada. Exames de sangue também indicaram trombocitopenia (queda no número de plaquetas) e anemia (redução na quantidade de glóbulos vermelhos), o que exigiu transfusões de sangue.
- 23 de fevereiro – Insuficiência renal leve
O pontífice apresentou sinais de insuficiência renal leve, mas sem outra crise respiratória como a do dia anterior. Ele continuou recebendo oxigênio por cateter nasal de alto fluxo, e seu estado de saúde seguiu “crítico”, segundo o Vaticano. Para elevar os níveis de hemoglobina e melhorar a oxigenação dos tecidos, o Papa recebeu duas unidades de concentrado de hemácias.
- 28 de fevereiro – Agravamento do quadro respiratório
Na manhã desta sexta-feira, o Vaticano informou que o Papa havia passado uma noite tranquila e que sua saúde estava “melhorando”. No entanto, horas depois, um novo boletim confirmou um agravamento respiratório devido a uma crise de broncoespasmo, levando a um episódio de vômito com aspiração. Ele precisou de ventilação mecânica não invasiva e respondeu bem ao tratamento, de acordo com comunicado.
- 03 de março de 2023 – Novas crises de broncoespamo
Francisco apresentou dois episódios de insuficiência respiratória aguda, “causados por um significativo acúmulo de muco endobrônquico e consequente broncospasmo”, de acordo com o Vaticano.