Nível devastador de estresse; cinismo; desinteresse; sensação de ineficácia; falta de realização profissional. Sintomas que prejudicam diversos trabalhadores mundo afora. Tais características compõem o quadro de burnout, síndrome entendida como resultado de um estresse crônico, no local de trabalho, que não foi administrado com sucesso.
Facilmente confundido com ansiedade ou depressão, o burnout se difere por ter a ver com o ambiente laboral, enquanto as outras duas condições podem ocorrer em qualquer circunstância. Em janeiro deste ano, ele passou a ser reconhecido como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que garante direitos trabalhistas na hora do diagnóstico.
De acordo com especialistas, o aumento das demandas no home office e a sobrecarga de emoções desde o início de 2020 levaram muitos ao limite de suas capacidades funcionais e psicológicas. “A pandemia nos fez olhar para o trabalhador como indivíduo e, hoje em dia, há mais consciência sobre saúde mental e vontade de agir a respeito”, opina Rui Brandão, CEO e cofundador da Zenklub. Médico por formação, Brandão criou a empresa de terapia online em 2016, após sua mãe sofrer com a doença.
Uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR) indica que 32% da população economicamente ativa no Brasil sofre de burnout. Desse número, 94% das pessoas se sentem incapacitadas para trabalhar, mas seguem a rotina por medo de demissão. A recuperação pode variar de um a cinco anos, a depender do núcleo de apoio individual e de um ambiente acolhedor na volta ao trabalho. Sintomas físicos e emocionais costumam surgir, como problemas de sono, dores e mudanças no apetite.
“A falta de motivação e de satisfação no trabalho são fatores que podem nos dizer se a pessoa tem ou terá burnout. O equilíbrio entre esforço e recompensa no dia a dia é fundamental”, afirma Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR.
A tecnologia é uma das portas de saída dessa crise. A experiência de Paulo Castello, CEO e cofundador da startup Fhinck, oferece reflexões para empresas que se preocupam com a saúde dos funcionários. A Fhinck é dona de um software que mapeia jornadas de trabalho e de produtividade. Durante a pandemia, os dados coletados indicaram que as pessoas passavam muito tempo no computador, sem pausas.
“Desenvolvemos algoritmos para indicar o potencial de a pessoa iniciar um burnout por meio de uma pontuação, o que ajuda empresas a traçar um plano de ação para personalizar a necessidade de cada trabalhador”, explica Castello. Ele acredita na transformação da cultura organizacional e na educação contínua de lideranças como caminhos complementares de enfrentamento.
Rossi acrescenta que é importante que o funcionário estabeleça limites ao observar que o emprego exige mais do que a capacidade individual de entrega. “Tem pessoas que não desistem do trabalho porque estão subjugadas aos benefícios que ele oferece. Não há benefícios que compensem o adoecimento.”
Alguns sinais de alerta ajudam a identificar o problema
Três sintomas são comumente associados ao burnout e merecem atenção. São eles: exaustão que não passa com férias ou descanso no fim de semana; indiferença, ou seja, estar fisicamente presente, mas emocionalmente distante das tarefas e até dos colegas; e ineficácia autodeclarada, quando o trabalhador se força a realizar atividades para as quais se julga incapaz.
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