Casos de câncer colorretal devem aumentar 21% até 2040; saiba como se proteger

Mais de 88% dos casos em 2040 devem acometer pessoas acima de 50 anos; estilo de vida é decisivo na prevenção desse tipo de tumor

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Por Gabriel Damasceno

Os casos de câncer colorretal devem aumentar em 21% no Brasil entre os anos de 2030 e 2040, de acordo com um estudo da Fundação do Câncer publicado nesta quinta-feira, 27. Segundo a projeção, os registros devem saltar de 58.830 em 2030 para 71.050 em 2040. O aumento está relacionado à baixa adesão a hábitos saudáveis, à falta de programas de rastreamento eficazes e, principalmente, ao envelhecimento da população brasileira.

Segundo a pesquisa, a estimativa é de que mais de 88% dos casos em 2040 devem acometer pessoas acima de 50 anos. “Isso acontece porque o desenvolvimento do câncer demora décadas para acontecer. Demora, por exemplo, de 20 a 30 anos para um pólipo, que é uma pequena verruga no intestino, evoluir e virar um câncer”, descreve Alfredo Scaff, epidemiologista, consultor médico da Fundação do Câncer e coordenador do estudo.

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Na população com até 49 anos, o número de casos permanece relativamente estável. A incidência entre os sexos feminino e masculino é equivalente. O aumento de incidência será mais significativo nas regiões Centro-Oeste (32,7%) e Norte (31,13%). Apesar de a região Sudeste apresentar o menor percentual de crescimento (18%), apresentará números absolutos maiores que outras partes do País, chegando a um total de 38.210 casos em 2040.

O câncer colorretal afeta o intestino grosso, o reto — a parte final do órgão — e o ânus. Ele costuma se desenvolver a partir de mutações genéticas de pólipos, massas que se formam na parede do sistema gastrointestinal.

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A doença está entre os cinco principais tipos de câncer que mais acomete homens e mulheres em todo o mundo. Segundo estimativas do Ministério da Saúde (MS), 45.630 novos casos da doença são registrados no País a cada ano do triênio de 2023 a 2025.

Câncer colorretal está em alta no Brasil e no mundo Foto: Jo Panuwat D/Adobe Stock

Diagnóstico precoce

Um ponto de alerta é que os sintomas da doença só costumam aparecer em estágios mais avançados, quando sangramentos passam a ocorrer. “Quando você faz um diagnóstico precoce e começa o tratamento logo na sequência, a chance de recuperação é enorme”, pontua Scaff. “Mas a maior parte dos diagnósticos costuma acontecer em estágios mais avançados, e o tratamento acaba não funcionando tão bem”.

Dados do Observatório do Câncer do A.C.Camargo mostram que as taxas de sobrevida do câncer colorretal podem chegar a 95% nos estágios iniciais, enquanto no estágio II ficam em torno de 80%, o que ainda representa um prognóstico favorável.

Daí a importância do diagnóstico precoce. O procedimento mais indicado é a colonoscopia. “(Ela) consiste na inserção de um tubo para enxergar o intestino da pessoa e, a partir disso, é possível ver se há algum pólipo. Caso seja encontrado, ele já pode ser retirado para ver se é um tumor ou não. O exame é fundamental para o rastreamento da doença”, pontua Scaff.

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Segundo dados do Observatório da Saúde Pública (OSB) da Umane, entre 2019 e 2024, o número de colonoscopias realizadas pelo SUS cresceu 65,5%, chegando a 574,6 mil no ano passado. O crescimento está atrelado ao aumento da disponibilidade de aparelhos e profissionais para realizar o exame, mas ainda está longe do ideal.

Apesar do avanço, o acesso ainda é um problema no País. De acordo com o médico Samuel Aguiar, líder do Centro de Referência em Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center, isso ocorre porque a colonoscopia é um “exame invasivo, que requer um equipamento caro e um profissional com treinamento longo, de cerca de três a quatro anos após a graduação”.

“Uma alternativa é o exame de sangue oculto nas fezes. Simples e barato, ele detecta traços de sangue nas fezes não visíveis a olho nu. Não substitui a colonoscopia, mas serve como triagem quando você tem uma grande população e não tem capacidade de oferecer a colonoscopia para todo mundo”, comenta.

Aguiar recomenda que o exame seja realizado a cada cinco ou dez anos, a partir dos 45 anos de idade. Já o exame de sangue oculto nas fezes é indicado anualmente.

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Fatores de risco

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“O câncer também está muito relacionado a hábitos alimentares e atividade física. Então, uma pessoa que come muita carne vermelha e muitos embutidos, e consome poucas fibras, tem uma propensão muito maior a ter um câncer colorretal que alguém com hábitos mais saudáveis”, destaca Scaff.

Segundo a Sociedade Brasileira de Patologia, cerca de 30% de todos os tumores de intestino têm como causa o sedentarismo, a falta de uma alimentação saudável, o excesso de álcool e a obesidade. No quesito dieta, os principais problemas têm a ver com o baixo consumo de fibras e o excesso na ingestão de carne vermelha e processada.

“A alimentação e as atividades físicas são quase um binômio: me alimento mal, engordo, fico sedentário, não faço exercício... Isso retroalimenta a obesidade e por aí vai. A situação é um prato cheio para o desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas e de cânceres”, cita Scaff.

Para calcular as projeções, o estudo utilizou dados dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP), dos óbitos registrados pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e das projeções populacionais do IBGE para os anos analisados.

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