Ciência contra o coronavírus. Veja as contribuições de pesquisadores para entender a doença

Com um surto tão recente, é de se esperar que as questões sobre o vírus ainda se acumulem. Um aspecto que ainda intriga os especialistas é que provavelmente muitas pessoas estão contraindo o vírus, mas permanecem assintomáticas

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Por Redação

A ciência está na linha de frente contra o coronavírus. A atuação de pesquisadores de todo o mundo tem ajudado a entender a origem do novo vírus, a sua composição e forma de atuação. Observar essas características é considerado crucial para combater de forma eficaz o avanço da doença - no mundo, 65 países já registraram ao menos um caso. 

O Estado mostrou que, no Brasil, uma rede de pesquisadores já dedica grande atenção a estudar o vírus. O trabalho simultâneo dos estudiosos é tido como fundamental para encontrar soluções rápidas, que envolvem estratégias de controle do surto, testes de diagnóstico, tratamentos e até uma vacina. A busca pelo imunizante criou uma nova corrida global.

Na província de Wuhan, epicentro do coronavírus, funcionários médicos inspecionam equipamento por sinais do vírus Foto: China Daily via REUTERS

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A origem

O epicentro do coronavírus tornou conhecida a cidade de Wuhan, na China. É lá que estão a maior parte dos infectados pelo vírus, e foi lá que aconteceu a maior parte das mortes por causa da doença. Já se tem como certo que a nova cepa do vírus foi transmitida aos humanos a partir de um animal selvagem, provavelmente pelos morcegos. Mas ainda não há unanimidade, e já se falou do papel dos pangolins, como intermediário entre morcegos e humanos, e até nas cobras.

A transmissão

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Apesar de ser considerado menos letal que outros vírus da mesma família, o novo coronavírus assustou pela rapidez da sua transmissão. Enquanto o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), que causou um surto de pneumonia entre 2002 e 2003, demorou três meses para infectar pessoas fora da China (país onde começou), o novo coronavírus alcançou o feito em apenas um mês.

Segundo especialistas, o novo vírus, embora ainda em estudo, parece ter características que o fazem mais transmissível e adaptável ao ser humano. No entanto, a transformação radical pela qual a China passou nas últimas duas décadas pode ter ajudado o novo coronavírus a ser mais eficiente em sua meta de buscar novos hospedeiros. 

O genoma

Entender a dispersão do vírus passa pela compreensão da sua composição. Conhecer os genomas é importante, ressaltam cientistas, para detectar mutações que possam alterar a evolução da doença. Isso pode ajudar no desenvolvimento de vacinas e de tratamentos. No Brasil, o sequenciamento do genoma do vírus ocorreu menos de 48 horas após a confirmação do primeiro caso pelos pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP e da Universidade de Oxford.

A amostra, retirada do paciente de 61 anos de São Paulo, que tinha passado quase duas semanas na região da Lombardia, a mais afetada da Itália, confirmou que ela veio da Europa. É geneticamente parecida com a de um genoma sequenciado na Alemanha. 

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Com a mesma velocidade, os pesquisadores sequenciaram o genoma do segundo caso confirmado no Brasil. A nova análise mostra que o patógeno do segundo caso é levemente diferente do primeiro e se aproxima mais de vírus sequenciados na Inglaterra. Ambos são diferentes das sequências chinesas. 

Análises como essas já permitiram, por exemplo, que um grupo de pesquisadores italianos identificasse a mutação genética que levou o coronavírus a infectar seres humanos e não mais apenas animais.

Perfil da doença

Dois estudos feitos com pessoas contaminadas pelo novo coronavírus na China já ajudam a traçar um perfil da doença. 

O primeiro, publicado pelo CDC chinês com base em casos diagnosticados até 11 de fevereiro, mostrou: 

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Dos 44.672 casos confirmados até então: 

  • 80,9% eram casos considerados suaves 
  • 86,6% tinham entre 30 e 79 anos 
  • 74,7% eram da Província de Hubei 2
  • 2,3% dessas pessoas morreram: 1.023 

A epidemia se dispersou muito rapidamente, levando apenas 30 dias para sair da Província de Hubei e atingir o resto do país. De acordo com o estudo, atingiu o pico na semana de 23 a 26 de janeiro e depois começou a declinar. 

Um outro trabalho, publicado no New England Journal of Medicine na última sexta-feira, 28, também sobre os casos chineses, analisou os dados referentes a 1099 pacientes confirmados com a Covid-19 em 552 hospitais de 30 províncias da China até o dia 29 de janeiro: 

  • média de idade dos pacientes era 47 anos; apenas 0,9% tinha menos de 15 anos 
  • 41,9% eram mulheres 
  • 67 pacientes, ou 6,1% dos casos, precisaram de atendimento mais intenso, sendo que 5% foram internados em UTI, 2,3% precisaram de ventilação mecânica e 1,4% morreram 
  • O sintoma mais comum entre os pacientes foi febre (43,8% entre aqueles que buscaram atendimento e em 88,7% dos que ficaram hospitalizados) e tosse (67,8%) 
  • No momento de admissão, a maioria dos casos (926) foi considerada não-severa; apenas 173 pacientes tinham quadro considerado severo, ou 15,7% dos casos analisados 
  • As pessoas com quadro severo eram mais velhas que as com quadro não-severo 
  • O período médio de incubação foi de 4 dias

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 Os testes

Nos Estados Unidos, um médico brasileiro lidera uma equipe que testará a eficácia de medicamentos contra o coronavírus. André Kalil diz que é cedo para se pensar em cura, mas tenta dinamizar o processo para, ao menos, chegar a substâncias que enfrentem os sintomas do vírus. 

A busca por uma vacina já tem iniciativas na Austrália, China e Estados Unidos

As dúvidas

Com um surto tão recente, é de se esperar que as questões sobre o vírus ainda se acumulem. Um aspecto que ainda intriga os especialistas é que provavelmente muitas pessoas estão contraindo o vírus, mas permanecem assintomáticas. Já se sabe que essas pessoas podem transmitir a doença, mas ainda não se sabe o potencial dessa transmissão. Muito provavelmente casos assintomáticos estão passando despercebidos e isso talvez possa explicar a rápida propagação na Itália. 

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Quatro pessoas que já tinham sido consideradas curadas da infecção pelo novo coronavírus voltaram a testar positivo para a doença semanas após receberem alta hospitalar e serem liberadas da quarentena, situação que já havia sido apontada em estudo chinês

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