BARCELONA - Pesquisadores espanhóis disseram nesta quarta-feira, 23, ter conseguido pela primeira vez reverter a perda de memória em ratos com Alzheimer usando terapia gênica após a identificação da proteína que, quando bloqueada, impede a consolidação da memória.
Trata-se de uma investigação da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), no nordeste da Espanha, que permitiu descobrir um mecanismo celular envolvido na consolidação da memória. Após esta descoberta, os pesquisadores foram capazes de desenvolver uma terapia gênica para reverter a perda da memória em estados iniciais do Alzheimer em ratos.
Nesses ratos, foi injetado no hipocampo - uma região do cérebro importante para o processamento da memória - um gene que desencadeia a produção de uma proteína que está bloqueada nos pacientes com a enfermidade, denominada Crtc1 (CREB regulated transcripción coactivator -1).
A proteína restaurada por terapia gênica permite desencadear os sinais necessários para ativar os genes envolvidos na consolidação da memória a longo prazo.
A pesquisa, que foi publicada nesta quarta na revista científica The Journal of Neuroscience, é um passo na investigação dos mecanismos celulares que causam alterações na trasmissão nervosa e na perda de memória nas etapas iniciais do Alzheimer, enfermidade que é a primeira causa da demência.
Processo. Para identificar a proteína que estava bloqueada, os pesquisadores compararam a expressão dos genes no hipocampo de ratos saudáveis e de ratos transgênicos nos quais a doença se desenvolveu. Os investigadores observaram que o conjunto de genes envolvidos na consolidação da memória coincidia com os genes que regulam a Crtc1, uma proteína que controla também genes envolvidos no metabolismo da glicose e do câncer.
Dessa forma, os cientístas concluíram que a alteração deste grupo de genes poderia causar a perda de memória nos estados iniciais da doença de Alzheimer. Nas pessoas com a doença, a formação de agregados de placas amilóides, um conhecido processo que desencadeia o Alzheimer, impede que a proteínca Crtc1 atue de maneira normal.
"Quando a proteína Crtc1 se altera não se podem ativar os genes responsáveis pela sinapse ou conexões entre neurônios do hipocampo e o indivíduo não pode realizar corretamente tarefas de memória", explicou Carlos Saura, responsável pela investigação.
Segundo o pesquisador, "este estudo abre novas perspectivas para a prevenção e o tratamento do Alzheimer, pois temos demonstrado que uma terapia gênica que ativa a proteína Crtc1 é eficiente para prevenir a perda de memória em ratos de laboratório".
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