A chance de a lesão retirada das cordas vocais do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ser maligna é “quase zero”, disse ao Estadão Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês e membro da equipe que cuida do petista. De acordo com o especialista, o exame feito durante a cirurgia e que analisou a amostra removida já indicou ausência de neoplasia (tumor maligno), mas, por praxe, a peça cirúrgica foi enviada para exame patológico detalhado, cujo resultado deve sair entre 24 e 48 horas.
“É muito raro o exame definitivo mostrar algo diferente em um caso como esse. O patologista que fez a análise no momento da cirurgia é muito experiente e não ficou com dúvidas (sobre a presença de células cancerígenas). Eu diria que a chance de malignidade é quase zero”, explicou o médico, que também é professor titular de cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Lula passou por cirurgia para a retirada da lesão suspeita na noite de domingo, 20. A lesão, chamada de leucoplasia, foi diagnosticada em 12 de novembro em uma avaliação de rotina, que também mostrou completa remissão do tumor diagnosticado no presidente em 2011.
Mesmo assim, a equipe médica optou por remover a leucoplasia para análise e por prevenção, já que esse tipo de lesão tem 10% de chance de tornar-se câncer. De acordo com Kowalski, o fato de o presidente já ter tido tumor na laringe e ser maior de 65 anos aumentam o risco, por isso a decisão pela remoção total.
A cirurgia foi feita sob anestesia geral, começou por volta das 20 horas de domingo e durou cerca de 40 minutos. O procedimento aconteceu sem complicações e o presidente teve alta cerca de 12 horas depois, na manhã desta segunda, 21.
De acordo com o cirurgião, o presidente não deverá abusar do uso da voz na primeira semana de recuperação e terá que passar por sessões de fonoaudiologia por pelo menos duas semanas. “Ele deverá fazer repouso vocal, mas pode conversar normalmente, participar de reuniões e falar ao telefone. O que ele não pode é exagerar, fazer esforço, gritar em discursos, falar por muito tempo, porque isso pode atrapalhar a cicatrização”, explica o especialista. “Mas ele pode continuar participando das atividades de transição, isso não vai atrapalhar em nada, poderá opinar nas decisões. Mas terá que ser mais ouvinte para não forçar tanto a voz”, disse o médico.
A fonoterapia, explica Kowalski, auxiliará o presidente a usar as cordas vocais “com tranquilidade e sem grande esforço”, em especial nesse período de recuperação. Ele deverá começar as sessões nesta terça, 22.
Além dos cuidados pós-operatórios, Lula terá de submeter-se a exames por cinco anos para monitorar o eventual aparecimento de novas lesões. “Ele deverá passar por laringoscopia periódica. No início, será com intervalo de três a quatro meses. Depois de um ano, o período entre um exame e outro poderá ser maior”, comenta o médico.
Como foi a cirurgia
A cirurgia de Lula foi feita sem a necessidade de cortes externos e contou com o auxílio de um aparelho que usa laser para fazer a remoção da leucoplasia de forma mais precisa. A lesão retirada tinha cerca de 5 milímetros, de acordo com o Kowalski. Para se ter uma ideia, uma corda vocal tem cerca de 2,5 centímetros.
Segundo o cirurgião, nesse tipo de procedimento, os instrumentos cirúrgicos são inseridos pela cavidade oral. “A gente insere um laringoscópio e um microscópio cirúrgico pelo qual podemos ter uma visualização muito clara do aspecto e dos limites da lesão. Não é feita nenhuma incisão”, explica o médico. “São instrumentos muito delicados. Por isso que algumas horas depois o paciente já pode se alimentar e falar, desde que sem exageros.”
O especialista explica que foi usado ainda um aparelho que utilizar laser para fazer o corte da lesão. “É algo que facilita o procedimento por ter um corte muito preciso e cauterizar pequenos vasinhos, o que ajuda na cicatrização”, diz o médico.
O cirurgião contou ainda que foi necessário retirar “um pedacinho” de uma estrutura da região conhecida como falsa corda vocal. “Ela estava um pouco inchada pelo fato de o paciente já ter passado por radioterapia no passado e pelo uso frequente da voz nas últimas semanas, então tivemos que remover um pedacinho para facilitar a visualização e o acesso à área que seria operada.”
Kowalski explica que a lesão foi retirada por completo e mandada para exame. Na hora da cirurgia, um médico patologista já fez o que chamamos de exame por congelação e verificou que se tratava de uma displasia leve, de baixo risco”, disse.
Sete profissionais participaram do procedimento, além da equipe clínica de apoio que ficou de sobreaviso em caso de qualquer intercorrência. “Pela idade do presidente, temos uma equipe de suporte clínico, liderada pelo dr. Roberto Kalil, mas o procedimento foi muito tranquilo. Ele é um paciente idoso, mas muito saudável”, disse o médico.
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