Cirurgia do Papa Francisco é de risco? Entenda a laparotomia

Pontífice precisou ser internado após sentir dores intensas no intestino; especialista explica a condição e como funciona esse tipo de procedimento

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Foto do author Giovanna Castro
Atualização:

O papa Francisco, de 86 anos, passou por uma cirurgia de emergência no intestino nesta quarta-feira, 7, em Roma. Segundo informações de sua equipe médica, o motivo é uma laparocele, um tipo de hérnia que se forma sobre uma cicatriz e que está causando obstrução parcial do intestino do pontífice, que tem se queixado de dor intensa no local.

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O procedimento visa impedir o agravamento do quadro de obstrução intestinal.

A hérnia é um “abaulamento” da região abdominal que pode ser provocado por uma alteração no formato da musculatura do intestino.

Em casos mais graves, como o do papa – que já passou por uma cirurgia no intestino antes e, por isso, tinha uma cicatriz de corte no órgão –, a hérnia pode dificultar a passagem de fezes e gases, além de causar dor intensa. Para tratar, é preciso operar.

Laparocele causa dor e obstrução intestinal. Foto: Freepik

“Em um paciente de 86 anos e que já foi submetido a cirurgias intestinal e pulmonar (caso do papa), o risco é altíssimo”, diz Alexandre Herculano Penna, coloproctologista da Franquia Clínica da Cidade.

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De acordo com o médico, tudo depende do tamanho da cirurgia, das condições do abdômen e do diafragma dele (para poder expandir o pulmão na respiração), da situação cardíaca, entre outros fatores.

“Ele já é uma pessoa de idade, e vai ter que ficar deitado muito tempo, o que pode gerar diversas complicações, como trombose venosa e pneumonia”, acrescenta o especialista.

Ao mesmo tempo, como o caso do pontífice é grave, o coloproctologista Isaac José Felippe Corrêa Neto, do Fleury Medicina e Saúde, pondera que não operar pode trazer problemas piores, como rompimento do intestino e contaminação de toda a região abdominal.

“Como o papa é uma figura pública e que tem um quadro de saúde controlado, esses riscos provavelmente são amenizados”, afirma Corrêa Neto.

Segundo a equipe do pontífice, ele ficará vários dias internado para garantir uma recuperação funcional completa após o procedimento, que acontece com anestesia geral.

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O que causa laparocele? Qual o grupo de risco?

A laparocele, também conhecida como hérnia incisional, é uma protusão do conteúdo abdominal – geralmente intestino grosso ou delgado – a partir da perda de resistência da musculatura por um corte feito previamente.

Em outras palavras, se um paciente passou por uma cirurgia no abdômen, a cicatriz daquele procedimento pode comprometer a musculatura da região, fazendo com que órgãos como o intestino “saltem” para fora da cavidade abdominal.

De acordo com Corrêa Neto, o quadro acontece com 10% dos pacientes que são submetidos a uma cirurgia de intestino. É mais comum em idosos, pessoas com desnutrição e/ou que passaram por cirurgia de emergência anteriormente – caso do papa, que fez uma cirurgia de diverticulite (inflamação na parede do intestino grosso) em 2021.

“Hoje, com a videolaparoscopia e a cirurgia robótica (procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos), a incidência de laparocele diminuiu. Entretanto, qualquer incisão ou ferida na parede abdominal pode evoluir para essa complicação”, esclarece o especialista.

Quem tem muitos vômitos, tosse, pneumonia e/ou infecção da ferida cirúrgica no pós-operatório também tem predisposição a desenvolver a laparocele.

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Sintomas

Dor local, percepção do abaulamento no abdômen e constipação são os principais sintomas da laparocele.

“Normalmente, esse conteúdo abaulado retorna à cavidade abdominal quando o paciente deita. Mas, em alguns casos, isso não acontece, situação que chamamos de hérnia incisional encarcerada”, explica Corrêa Neto.

De acordo com o médico, quando as vísceras – especialmente as do intestino delgado e grosso – não voltam para a cavidade abdominal, a vascularização da área pode ficar comprometida, gerando um quadro conhecido como laparocele estrangulada.

Quando precisa operar e como é feita a cirurgia?

O tratamento da laparocele é cirúrgico. No entanto, segundo Corrêa Neto, o paciente pode optar por não realizar a cirurgia para correção da condição e, assim, conviver com o desconforto e a protusão abdominal.

A importância de operar se dá tanto pela diminuição dos sintomas – em especial quando eles são intensos – quanto para evitar complicações, como o estrangulamento do intestino.

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Quando o órgão é estrangulado, o quadro pode evoluir para uma vascularização, seguida por isquemia (comprometimento do fluxo intestinal) e necrose. Se houver rompimento do intestino, toda a cavidade abdominal pode acabar contaminada. Em todos esses casos, a cirurgia é feita de emergência.

Existem três técnicas possíveis para a cirurgia:

  • Laparotomia (caso do papa): é feita uma abertura na cavidade abdominal e a cirurgia é realizada pelo médico manualmente, a partir dessa cavidade;
  • Videolaparoscopia: são feitos pequenos furos no corpo do paciente para a inserção de uma microcâmera com fonte de luz. O médico consegue, então, visualizar o interior do organismo do paciente e inserir os instrumentos necessários para realizar o procedimento de forma menos invasiva;
  • Cirurgia robótica: são realizados pequenos cortes no corpo do paciente e introduzidos instrumentos robóticos com uma câmera. O cirurgião consegue ver e controlar à distância os movimentos do robô, que tem grande precisão. O procedimento é minimamente invasivo.

“Hoje, é muito comum optar pela cirurgia robótica, pois ela facilita os movimentos que temos que fazer para a fixação de uma tela, que é obrigatória para poder dar sustentação à musculatura e aos tecidos do abdômen”, diz Penna.

Quando o paciente não tem condições clínicas para uma cirurgia robótica ou videolaparoscopia, como parece ser o caso do papa, é feita a laparotomia, diz Corrêa Neto.

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Em todos os procedimentos, o órgão é “empurrado” para seu local original e é colocada uma prótese similar a um tecido muscular (a tela) para tentar manter tudo no lugar.

Pré e pós-operatório

Antes de realizar a cirurgia, é preciso garantir a estabilização clínica do paciente e realizar todos os exames que apontam riscos e comorbidades, afirmam os especialistas.

O pós-operatório varia de acordo com o quadro do paciente e o tipo de cirurgia. Mas, em geral, a recuperação total leva entre sete dias e algumas semanas.

“Quando não é necessário retirar nenhum segmento intestinal, a recuperação tende a ser mais rápida”, comenta Corrêa Neto.

As possíveis complicações são aquelas inerentes a qualquer cirurgia: infecção, abertura de pontos, além de complicações do estado clínico por conta do longo período deitado e pelo uso da anestesia geral.

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