Cirurgias plásticas combinadas exigem cuidados especiais; conheça os riscos

Embora seja comum associar dois ou mais procedimentos em uma operação só, essa não é uma opção indicada para todo mundo

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Por Alessandro Fernandes, especial para o Estadão

A realização de cirurgias plásticas combinadas é uma prática comum e frequente, e não só no Brasil. Ela é caracterizada pela realização de mais de um tipo de procedimento estético durante uma mesma intervenção. Um exemplo seria o implante de prótese mamária associado à abdominoplastia. Em geral, questões como praticidade e menor custo tornam essa opção atraente. Mas a decisão pelas cirurgias múltiplas é mais complexa do que parece, já que há riscos importantes envolvidos nesse tipo de procedimento.

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De olho nisso, recentemente o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) publicou um parecer sobre o assunto, destacando a importância de se avaliar a segurança da prática. Entre as recomendações do órgão está a avaliação de risco individualizada, que leva em conta aspectos como idade, índice de massa corporal (IMC), histórico médico, tipo de procedimento e ambiente cirúrgico.

Vale destacar que, se realizadas sem levar em consideração características individuais e de forma imprudente, essas cirurgias podem resultar em sequelas graves e aumentar a probabilidade de morte.

Decisão por cirurgias plásticas combinadas deve ser muito bem avaliada, já que procedimento oferece riscos. Foto: anatoliy_gleb/Adobe Stock

Tentadoras, mas delicadas

O Brasil é o segundo país com o maior número de procedimentos estéticos no mundo, em torno de 3,1 milhões. Desse total, 2,1 milhões são intervenções cirúrgicas. Os Estados Unidos continuam na primeira posição, com 6,1 milhões de cirurgias, de acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), em 2023.

Entre os procedimentos realizados, uma boa parcela diz respeito justamente às cirurgias plásticas combinadas. Essa opção é atraente porque promete resultados mais completos e recuperação única. Fora o apelo do ponto de vista financeiro, já que é possível fechar um pacote de intervenções com um valor reduzido de despesas hospitalares.

O cirurgião plástico Alexandre Kataoka, que participou da elaboração do parecer do Cremesp, conta que as cirurgias combinadas ficaram conhecidas como “x-tudo” e “mommy makeover” (”transformação da mamãe”, em tradução livre). Esta última reúne uma série de procedimentos simultâneos após a gravidez. Geralmente, é composta por abdominoplastia, lipoaspiração e mamoplastia.

Kataoka observa que não se trata de uma cirurgia de urgência ou emergência. “É uma cirurgia eletiva e, por isso, é preciso mitigar ao máximo os riscos”, reforça o médico, que é também diretor adjunto do Departamento de Defesa Profissional (Depro) da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

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Ele explica que o parecer é um instrumento para alertar não só os cirurgiões plásticos, mas também os pacientes. “Eles têm o direito de saber dos riscos e benefícios do procedimento que vão fazer. Não é proibitivo fazer cirurgias combinadas, mas é preciso considerar o risco de cada um e explicar o que pode acontecer”, orienta o especialista.

Uma pesquisa brasileira publicada em 2014 expôs a importância de cautela. Ao analisar 168 pacientes, sendo que 75 passaram por contratempos durante uma cirurgia plástica, os autores notaram uma associação significativa entre complicações e dois fatores: procedimentos múltiplos e intervenções com duração maior de 240 minutos.

“Algumas combinações são mais controversas, principalmente quando os procedimentos cirúrgicos envolvem lipoaspiração e a realização de abdominoplastia”, escrevem os autores.

Por que a lipoaspiração merece atenção especial

A Lipoplasty Task Force – grupo que produz relatórios sobre a segurança e eficácia dessa intervenção cirúrgica – alerta que a realização de vários procedimentos realizados ao mesmo tempo é um dos principais fatores que podem aumentar os riscos de complicações em decorrência da lipoaspiração.

“A lipoaspiração normalmente envolve uma superfície corporal ampla. Ao contrário de uma cirurgia em que você tem um controle absoluto do sangramento, na lipoaspiração isso é relativo”, explica o cirurgião plástico Marcelo Sampaio, vice-presidente da SBCP.

O especialista destaca que uma determinação do Conselho Federal de Medicina orienta que não pode ocorrer uma aspiração de gordura superior a 7% do peso ou que ultrapasse mais de 40% da superfície corporal. Complicações decorrentes da cirurgia estão, em muitos casos, relacionadas ao não cumprimento dessa diretriz.

Redução de riscos

Fato é que não há um critério global sobre a orientação ou não de cirurgias combinadas. O parecer do Cremesp estabelece que uma avaliação de risco individual é necessária para determinar os próximos passos. Também não há um limite rígido de duração ou número de cirurgias que possam ser realizadas em sequência.

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O médico tem que ser rigoroso em relação aos critérios de segurança, e não deve deixar que o paciente fique seduzido para fazer algo que possa ultrapassar esses parâmetros, que são muito bem conhecidos

Marcelo Sampaio, cirurgião plástico

Fatores como tabagismo, IMC, idade, tipo de procedimento e local de realização da cirurgia são determinantes. Cuidados pré e pós-operatórios também são decisivos para o sucesso do procedimento.

“O cuidado pós-operatório requer analgesia, curativos e acompanhamento médico, além de antibioticoterapia (prescrição de antibióticos) se houver necessidade e profilaxia de trombose quando indicado”, orienta Sampaio.

Para o vice-presidente da SBCP, a recomendação inadequada representa um dos maiores riscos ligados às cirurgias plásticas. “A indicação equivocada vai trazer essas consequências. Por exemplo, se há um exagero no número de cirurgias, vai extrapolar o tempo. Atuar dentro das margens de segurança é o ponto de consenso”, informa Sampaio.

Como escolher um bom cirurgião plástico?

Se antes a busca por médicos especialistas em cirurgia plástica partia da indicação de um profissional de confiança, amigo ou parente, hoje a procura tem ocorrido nas redes sociais. “Você vê uma mídia social muito bem feita, resultados de pós-operatório excepcionais, um preço que cabe no bolso, e as pessoas se sentem seduzidas a realizar. No entanto, elas esquecem ferramentas mais importantes de seleção de um profissional qualificado”, afirma Sampaio

Nesses espaços, também há diversos influenciadores de beleza, alimentação e comportamento que estimulam os cuidados com o próprio corpo. Em muitos casos, eles acabam reforçando um ideal de beleza, fazendo com que as pessoas sintam uma pressão estética e desejem mudar a aparência.

Se a intenção for realmente passar por uma cirurgia plástica, o primeiro passo é consultar o registro de qualificação de especialista (RQE), que deve ser feito no site do Conselho Federal de Medicina (CFM). A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica disponibiliza uma aba de busca para profissionais certificados.

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É essencial também verificar a formação profissional do cirurgião plástico, que leva 12 anos, sendo seis deles na graduação, três na residência em cirurgia geral e mais três em cirurgia plástica.

Sampaio ressalta que, para encurtar esse processo, muitos recém-formados optam por cursos de especialização voltados para procedimentos estéticos específicos, como plástica de abdômen, mama e lipoaspiração. Ou seja, em vez de seguirem um caminho mais amplo de aprendizado, eles saem da faculdade e rapidamente buscam essas formações para entrarem no mercado.

Segundo Kataoka, em casos de negligência médica ou de procedimentos que violam a ética profissional, os cirurgiões podem passar por denúncias formais. Nos conselhos regionais, uma sindicância é aberta para investigar o caso. Se houver fundamento, um processo é instaurado. Ao final do julgamento, se o médico for considerado culpado, ele pode receber uma penalidade que varia de acordo com as circunstâncias.

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