“Quando a médica me pediu um beta, um exame de sangue de gravidez, falei: ‘Amor, você ‘tá' bem louca, de onde você tirou isso? Tenho 55 anos de idade’”, contou a atriz Claudia Raia, em setembro, no Instagram. Naquele mês, ela anunciou que estava esperando o terceiro filho, fruto de sua união com o também ator Jarbas Homem de Mello.
No fim de semana, nasceu a criança, Luca, com 48cm e 2,96kg. Claudia Raia já tinha Enzo, de 25 anos, e Sophia, de 19, filhos de seu casamento com Edson Celulari, outro colega de profissão.
O Ministério da Saúde considera que uma gravidez já pode ser classificada como de risco quando a mãe tem mais de 35 anos, o que requer atenção especial das equipes responsáveis pelo pré-natal e pelo parto. Segundo o registro de Nascidos Vivos do Datasus, das 8.524.223 crianças nascidas entre 2018 e 2020 no Brasil, 1.249 tinham mães acima dos 50 anos, – o que equivale ao pequeno porcentual de 0,014% dos casos.
De 2010 a 2018, esse número ficou em uma média de 342 por ano, subindo para 412 em 2019 e 440 em 2020. Mas a probabilidade de uma gravidez assim ocorrer de forma espontânea é considerada remota. “Acima de 50 anos, a chance é de 0,1%, uma em cada mil mulheres”, explica Rodrigo Rosa, médico ginecologista especialista em Reprodução Humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Isso porque, com o passar dos anos, além de envelhecer, a reserva de óvulos vai se reduzindo. “Como geralmente a menopausa se dá com 51 ou 52, a reserva de óvulos diminui muito. Por isso essa gravidez espontânea é rara, mas pode acontecer.”, pontua Rosiane Mattar, professora de Obstetrícia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
”Na maioria das vezes em que a gente vê mulheres grávidas com mais de 50 anos, costuma ser por reprodução assistida. Em geral, quando não está instalada a menopausa, que a pessoa ainda menstrua, a ideia é usar um método contraceptivo até os 55 anos”, completa ela, que também é coordenadora científica de Obstetrícia da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp).
Em 2020, Claudia Raia revelou em entrevista que havia congelado alguns de seus óvulos e que tinha vontade de ser mãe novamente. No anúncio de sua gravidez nas redes sociais, ela se mostrou surpresa com a descoberta, o que deixou dúvidas sobre se teria engravidado naturalmente ou se passou pelo procedimento de fertilização in vitro.
Segundo Rodrigo Rosa, após os 50 anos, a mulher que procura uma clínica de reprodução assistida precisa de parecer do Conselho Federal de Medicina antes de poder realizar um procedimento para engravidar. “Ela precisa ter avaliação médica mostrando que está apta à gestação. Essa mulher pode fazer a fertilização in vitro com os seus próprios óvulos previamente congelados ou tratamento com óvulos doados, que é mais comum”, afirma.
Gravidez de risco
As gestantes acima de 35 anos requerem atenção médica especial e essa necessidade se intensifica com o avanço da idade. Os cuidados necessários incluem o monitoramento reforçado de ganho de peso, pressão arterial, suplementação de nutrientes, parâmetros hormonais e cuidados para a manutenção de uma alimentação saudável.
“É preciso acompanhar de pertinho. Um bom pré-natal é fundamental, mas cada célula do corpo sabe a idade que tem”, resume Rosiane. Embora a expectativa de vida tenha crescido e as mulheres tenham passado a ter filhos mais tarde, os especialistas explicam que alguns dos riscos relacionados à idade da gestante independem de mudanças nas condições sociais.
As principais preocupações associadas a uma gestação após os 35 anos são a maior incidência de abortos espontâneos e da geração de bebês com alterações cromossômicas (como as síndromes de Down, de Patau e de Edwards). “Isso tem relação com a idade do óvulo, que não se altera com nenhum fator externo”, esclarece Rosa.
Do outro lado, fatores que podem ser mudados, como obesidade, estresse crônico e sedentarismo, também desempenham papel importante no aumento dos riscos gestacionais, e podem contribuir para casos de eclâmpsia (condição relacionada ao aumento da pressão arterial), diabete e partos prematuros. “A tendência é de que mulheres acima de 35 anos tenham prevalência maior de todos esses fatores”, pontua o médico ginecologista.
Fertilização in vitro
A fertilização in vitro é um procedimento de reprodução assistida em que o óvulo é fecundado em laboratório para que, posteriormente, o embrião resultante seja implantado no útero. Segundo o especialista, o método traz vantagens como a possibilidade de realizar a análise genética do embrião e identificar os que são euploides (que apresentam os 46 cromossomos sem alterações) para o processo de implantação.
Até os 38 anos, é possível que o procedimento seja realizado com óvulos da própria mulher, coletados no mesmo momento. A partir dos 42, a probabilidade de sucesso diminui. “As chances de gravidez caem para 10% em cada fertilização. Dos 45 em diante, as chances de engravidar com óvulo próprio são de cerca de 1%”, ressalta Rosa.
Nesses casos, também é possível optar por realizar a fertilização in vitro utilizando o óvulo de uma doadora. Essa foi a decisão da atriz Viviane Araújo, que no início do mês deu à luz o filho Joaquim, aos 47 anos. A artista explicou que, como estava na pré-menopausa, tinha poucos óvulos e que não estavam nas condições ideais para uma gestação segura.
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Congelamento de óvulos
Quando a mulher opta por congelar seus óvulos para tentar uma gravidez no futuro, ela faz com que, preservados no nitrogênio, eles possam ficar conservados teoricamente para sempre. Para realizar o procedimento, é preciso marcar uma consulta com especialista e ver as condições disponíveis.
Então, quando inicia um novo ciclo fértil, ela recebe hormônio FSH, conhecido como folículo-estimulante. Ele incentiva que mais folículos ovarianos cresçam, o que faz com que, quando eles se rompem, mais óvulos possam ser congelados. O tratamento dura duas semanas e, depois desse período, os óvulos são retirados com cirurgia simples, com sedação.
Depois da taxa cobrada para o congelamento em si, os custos para manter as células reprodutivas congeladas giram em torno de R$ 1 mil por ano. Por isso, estudos indicam que iniciar o tratamento por volta dos 34 anos é o melhor momento considerando o custo-benefício, e não a qualidade do óvulo.
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