Substância encontrada em ‘cogumelo mágico’ pode ser útil para depressão grave; entenda o estudo

Adultos que receberam uma única dose de 25 miligramas de psilocibina tiveram maior probabilidade de experimentar melhorias significativas em sua saúde mental

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Por Leo Sands
Atualização:

A psilocibina, alucinógeno ativo encontrado em cogumelos psicodélicos – também conhecidos como “cogumelos mágicos” –, pode efetivamente aliviar um grave ataque de depressão quando administrado em uma única dose e combinado com terapia, segundo estudo clínico revisado por pares e divulgado nesta semana.

Adultos com depressão que receberam uma única dose de 25 miligramas de psilocibina tiveram maior probabilidade de experimentar melhorias significativas em sua saúde mental – tanto imediatamente quanto por até três meses – do que outros que receberam aleatoriamente doses menores da mesma droga, aponta o estudo publicado no New England Journal of Medicine.

Pesquisa do Ministério da Saúde indica que 11,3% da população brasileira relata ter recebido diagnóstico médico de depressão Foto: Pixabay

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“Há algo sobre a experiência psicodélica que leva a uma rápida resolução dos sintomas de depressão”, disse James Rucker, psiquiatra consultor do King’s College, de Londres, que trabalhou no estudo. “Nós realmente não sabemos o que é isso no momento, mas é muito diferente dos antidepressivos padrão.”

As descobertas do estudo podem ser um sinal encorajador para os 16 milhões de americanos com depressão, muitos dos quais lutam para encontrar tratamentos que funcionem para eles. O número é estimado anualmente pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês).

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No Brasil, de acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, divulgada em abril deste ano, em média 11,3% da população relata ter recebido um diagnóstico médico de depressão – essa parcela corresponde a mais de 20 milhões de pessoas. É um número bem acima da média apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o Brasil, de 5,3%.

Metodologia

Os pesquisadores esperam que o estudo – que foi relativamente pequeno, com apenas 79 participantes recebendo a dose de 25 mg – abra caminho para uma eventual aprovação regulatória da psilocibina pela Food and Drug Administration (FDA) para uso da substância como medicamento contra a depressão.

O novo estudo atribuiu aleatoriamente a uma parcela de 233 adultos com depressão três doses de psilocibina – 25 mg, 10 mg e 1 mg – em 22 locais em 10 países. Os autores descobriram que o grupo que recebeu a maior dose registrou as melhorias mais significativas no quadro de depressão, tanto imediatamente quanto por várias semanas depois.

Dois terços dos participantes adultos do estudo que receberam uma dose de 25 mg do alucinógeno ativo registraram uma melhora significativa em sua depressão em menos de três semanas, descobriram os pesquisadores. No mesmo período, quase um terço daqueles que receberam a maior dose descobriu que seus sintomas foram aliviados na medida em que não mais se qualificavam para um diagnóstico clínico de depressão.

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Depois de tomar uma única cápsula de psilocibina, os pacientes do estudo foram supervisionados em um ambiente onde experimentaram o efeito alucinógeno da droga enquanto estavam deitados, usando uma máscara nos olhos e ouvindo música. Então eles discutiram sua “viagem” de seis a oito horas com um psicoterapeuta, que os guiou através dos insights oferecidos pela experiência.

Depois de tomar uma única cápsula de psilocibina, os pacientes do estudo foram supervisionados em um ambiente onde experimentaram o efeito alucinógeno. Foto: Reuters

Efeitos colaterais

Apesar das dores de cabeça, náuseas e tonturas relatadas por muitos como efeitos colaterais adversos, a maioria dos adultos gostou da experiência. “Os pacientes descrevem isso como um sonho acordado”, disse Rucker, em que “a natureza e a amplitude da experiência são expandidas”.

Mas, ao contrário de um sonho, o paciente está totalmente ciente do que está acontecendo com ele e mais propenso a se lembrar disso como resultado – uma possível explicação para o alívio dos sintomas de depressão, disse Rucker.

Outro resultado notável do estudo foi o imediatismo do efeito que os pesquisadores identificaram que a psilocibina estava tendo nos pacientes – geralmente no dia seguinte. Isso os diferencia dos antidepressivos convencionais, que são conhecidos por exacerbar inicialmente os sintomas antes de entrar em vigor de quatro a seis semanas depois, de acordo com uma revisão de 2012 sobre pesquisas existentes sobre opções de terapia para depressão.

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O mecanismo preciso pelo qual a psilocibina age contra a depressão não é claro, mas pode estar ligado à maneira única como o alucinógeno permite que as pessoas acessem e interroguem suas próprias emoções, sugeriram os autores do estudo.

“As pessoas muitas vezes obtêm alguma clareza sobre as razões pelas quais podem estar deprimidas. Elas podem estar sofrendo por alguém, mas não conseguem entrar em contato com essa dor – apenas como exemplo”, disse Rucker. “Com a consciência vem uma espécie de clareza.”

Os autores concluíram que ensaios clínicos maiores e de longo prazo são necessários para determinar efetivamente a eficácia médica e a segurança da psilocibina, mas esperavam que a droga possa eventualmente receber aprovação regulatória.

O teste é o mais recente de uma série de estudos clínicos que examinam o potencial dos psicodélicos no tratamento de distúrbios de saúde mental.

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Entre as drogas que atraem interesse renovado está a ketamina, um anestésico frequentemente usado recreativamente em festas, mas que um estudo recente também descobriu que reduziu significativamente os sintomas de depressão. Ainda não há dados de longo prazo disponíveis sobre sua eficácia, mas pequenos estudos iniciais descobriram que a terapia com ketamina reduziu significativa e rapidamente os sintomas de depressão em cerca de 50 a 70% dos pacientes.

A FDA já aprovou a esketamina, um tratamento de spray nasal para depressão à base de ketamina indicado para ser tomado juntamente com medicamentos orais convencionais. As barreiras na realização de pesquisas clínicas sobre certas substâncias restritas, incluindo a psilocibina, também diminuíram nos últimos anos. /THE WASHINGTON POST

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