O motivo da sua alergia disparar pode estar mais perto do que você imagina. Os ácaros são responsáveis por 70% das reações alérgicas no Brasil e costumam escolher travesseiros e colchões para se instalar e proliferar. De acordo com a Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), após dois anos de uso, de 10 a 25% do peso de um travesseiro pode ser representado por ácaros e células mortas. Algo parecido acontece com o colchão com o passar dos anos.
É que esses locais acumulam pele humana, que servem de alimento para os ácaros. Além disso, são quentes e úmidos, o que proporciona as condições perfeitas para a reprodução desses pequenos aracnídeos. “Quando deitamos no colchão e colocamos a cabeça no travesseiro, o nosso calor esquenta ambos e, no interior deles, há concentração de partículas de pele morta que soltamos à noite”, descreve Renata Garboci Friggi, médica alergista e imunologista da Asbai.
A inalação de grandes quantidades desses bichinhos pode provocar crises alérgicas entre quem tem quadros como asma, rinite, dermatite e bronquite. “São doenças que causam grande impacto à saúde, com risco até de morte (no caso da asma), e prejuízo na qualidade de vida dos pacientes”, pontua Marcel Palumbo, médico otorrinolaringologista do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
Não é todo mundo, porém, que costuma desenvolver reações quando entra em contato com esses animais microscópicos. De acordo com o médico alergista Clóvis Galvão, coordenador da Comissão Científica de Alérgenos da Asbai, cerca de 25% da população produz anticorpos do tipo IgE, responsáveis pelo combate aos ácaros – e, por isso, é considerada sensibilizada ou alérgica.
Isso não significa, contudo, que o resto da população não precisa se preocupar. “Mesmo quem não produz IgE pode desenvolver sintomas se for exposto a uma grande concentração de ácaros”, informa o pneumologista André Nathan, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Assim, é importante apostar em medidas de higiene para evitar a proliferação dos aracnídeos. Só que nem todo mundo sabe direito como garantir essa limpeza, o que pode levar a erros, como deixar travesseiros secando no sol.
De olho nisso, Estadão conversou com especialistas e levantou quais as práticas realmente eficazes contra os ácaros. Confira abaixo.
Como cuidar de travesseiros
Como já adiantamos, deixá-lo no sol não é recomendado. “A luz ultravioleta, que poderia eliminar os ácaros, fica restrita à superfície do travesseiro, e esses pequenos animais acabam migrando para o seu interior, que fica mais quente e propício à proliferação”, explica Palumbo.
Hábitos como dormir com o cabelo molhado e guardar o travesseiro por muito tempo em armários ou embaixo de colchas também devem ser evitados. “O indicado é mantê-los protegidos por uma fronha, em locais com luz indireta e ventilação”, avisa Renata.
Na hora da higienização completa, Galvão indica: “O ideal é lavar à seco, em locais especializados, como lavanderias, para que seu interior não fique úmido”. O especialista recomenda ainda que isso aconteça a cada quatro meses. Outra orientação é trocar o item, em média, a cada dois anos.
Ao comprar um travesseiro, vale ficar atento ao material de preenchimento. “Itens orgânicos, como penas, ervas, plumas e palhas, são possíveis alimentos para os ácaros e devem ser evitados. Nesse sentido, materiais sintéticos, como látex ou fibra, são os mais aconselhados”, destaca o coordenador da Comissão Científica de Alérgenos da Asbai.
Sobre o tecido, precisa ser leve, respirável e fácil de lavar. “Não há uma orientação rígida sobre o tema, mas o algodão é um dos materiais mais indicados pelos alergistas por ter essas características e dificilmente irritar a pele”, explica a médica alergista e imunologista Fernanda Sales da Cunha, do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.
Como cuidar do colchão
Também de acordo com Fernanda, tanto o colchão quanto o estrado (suporte) devem ser higienizados – o primeiro, diariamente, já o segundo a cada quinze dias. Nesses momentos, o ideal é usar aspirador de pó e pano úmido. “Eles removem de forma eficaz partículas pequenas, como os ácaros, além de não suspenderem no ar partículas de poeira e facilitarem a sua inalação, como acontece com as vassouras e os espanadores”, justifica.
Palumbo destaca a importância de manter os colchões em um ambiente ventilado. “Pesquisas apontam maior concentração de ácaros no interior dos colchões, possivelmente devido à menor circulação de ar”, diz. Outra estratégia para espantar os ácaros do colchão é girá-lo mensalmente. “Ao mudar o local do colchão em que você deita, dá para evitar o acúmulo de suor e partículas no mesmo espaço”, ensina Nathan.
Fora isso, é essencial levar em conta as instruções do fabricante sobre o momento certo da troca. O otorrino explica que, em média, colchões de espuma devem ser substituídos a cada cinco anos, enquanto os de mola duram até 10.
Usar capas antiácaro faz diferença?
Sim, essa é inclusive uma das táticas mais recomendadas para evitar o acúmulo de ácaros nos travesseiros e colchões. As capas funcionam como fronhas fechadas por zíperes, que barram a passagem dos alérgenos para a roupa de cama – elas podem ser encontradas em lojas especializadas em produtos antialérgicos.
Segundo Fernanda, os alérgicos devem usar as capas antiácaro diariamente, embaixo do lençol e da fronha. Mas, atenção: para que elas de fato cumpram o seu papel, devem ser higienizadas cerca de três vezes ao ano com aspirador de pó ou dentro da máquina de lavar.
Como higienizar as roupas de cama?
Em relação a lençol, cobertor e fronha, o recomendado é trocar e higienizar uma vez por semana, pelo menos. “Nesse período, o ser humano pode perder em torno de 5 gramas de pele”, comenta Palumbo.
Para eliminar os ácaros, Fernanda orienta que a lavagem aconteça na máquina com detergente e em altas temperaturas — acima de 55° C. Outro cuidado é usar produtos neutros, já que cheiros fortes podem irritar as vias respiratórias do indivíduo alérgico.
Os especialistas ressaltam, no entanto, que todas essas recomendações para travesseiros, colchões, capas e roupas de cama devem ser analisadas caso a caso. Afinal, alguns fatores podem exigir uma limpeza mais frequente ou até a troca do material antes do previsto. “É importante sempre ficar de olho em sinais de desgaste, como manchas e mofo”, exemplifica a alergista do Hospital São Luiz.
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