Com processos mais ágeis, Brasil terá novas vacinas

As lições aprendidas durante a pandemia impulsionam o desenvolvimento de novas vacinas. Falta melhorar a comunicação com a população

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Por Maurício Oliveira - Reportagem
Atualização:

Depois que a ciência deu demonstrações de alta capacidade para desenvolver vacinas em tempo recorde durante a pandemia de covid, podemos esperar muitas novidades para os próximos anos. “A pandemia foi uma grande catalisadora e aceleradora do desenvolvimento científico”, diz a microbiologista Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência. “Estamos colhendo frutos riquíssimos de todo esse processo, avanços que certamente vão servir para o combate a outras doenças.”

Produção e envase da vacina contra a dengue, que ainda não faz parte do esquema vacinal, no Instituto Butantan Foto: Divulgação/Comunicação Butantan
Produção e envase da vacina contra a dengue, que ainda não faz parte do esquema vacinal, no Instituto Butantan Foto: Divulgação/Comunicação Butantan

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Uma das vozes mais atuantes em prol da informação e da conscientização durante a crise sanitária, Natalia Pasternak ressalta que é preciso, agora, um grande esforço de comunicação para que a sociedade não esqueça tudo o que aconteceu. “Temos que estar preparados para a próxima pandemia. Por isso, é importante manter a ciência no centro do debate, sem colocá-la de volta no lugar secundário que ocupava antes no noticiário.”

A próxima epidemia é tida como inevitável no meio científico – trata-se apenas de uma questão de tempo. No momento, os olhos estão mais voltados à gripe aviária, causada pelo vírus da influenza H5N1, que dá sinais de disseminação por muitas espécies, com variantes progressivamente mais agressivas. Isso aumenta o temor de que possa passar por mutações que viabilizem a invasão, com eficiência, das células humanas.

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Mais bem preparados

A boa notícia é que a ciência está muito mais preparada e atenta, a ponto de se antecipar às possíveis pandemias. “Já faz algum tempo que o Instituto Butantan trabalha em uma vacina para o H5N1″, conta a diretora médica Fernanda Boulos. Cepas do vírus foram enviadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o desenvolvimento de um produto que viesse a dar origem a uma possível vacina. “Já temos um potencial produto pronto para ir à fase pré-clínica. Se alcançar bons resultados, seguirá para a fase 1.”

Hoje, o Butantan está com várias frentes simultâneas. Contra a covid, depois da vacina Coronavac, intensamente utilizada durante a pandemia, o instituto desenvolve uma alternativa, a Butanvac, com tecnologia diferente, a ser aplicada como reforço. Há ainda cinco estudos de vacina do Butantan em Fase 3, a última pré-registro: dois de influenza, dois de dengue e um de chikungunya.

Fernanda Boulos projeta que, num cenário de cinco anos, as vacinas contra dengue e chikungunya já estarão integradas ao programa nacional de vacinação, e tanto a Butanvac quanto a vacina tetravalente contra influenza estarão completamente finalizadas e aprovadas.

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Futuro promissor

Um aprendizado essencial da pandemia de covid foi a importância da cooperação internacional, tanto no desenvolvimento de vacinas quanto em ações coordenadas. Ao participar, no final de maio, da 76ª Assembleia Mundial da Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) esteve em reuniões com representantes de dez países. “Estamos discutindo com várias agências e governos a questão da produção local, ou, como prefiro dizer, uma proposta de coprodução regional de produtos de saúde, como vacinas, medicamentos e equipamentos”, disse o presidente da instituição, Mário Moreira.

Natalia Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência Foto: Cristina Pye

Temos que estar preparados para a próxima pandemia. Por isso, é importante manter a ciência no centro do debate, sem colocá-la de volta no lugar secundário que ocupava antes no noticiário

Natalia Pasternak, Presidente do Instituto Questão de Ciência

O impulso à vacinação está diretamente conectado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o ano de 2030 – especialmente à Meta 3: “Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades”. Os compromissos assumidos pelo Brasil dentro dessa meta envolvem acabar com epidemias como tuberculose, malária, hepatites virais e doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.

Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e novo colunista do 'Estado' Foto: Felipe Rau/ Estadão

Aprendemos muito na pandemia, do ponto de vista científico. Agora conhecemos melhor o nosso sistema imunológico e isso abre vários caminhos, inclusive para o combate ao câncer

Gonzalo Vecina, Médico sanitarista

Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, faz todo sentido associar a causa da vacinação à necessidade de reduzir as desigualdades sociais no Brasil. Afinal, quando estão envolvidas com o desafio da sobrevivência imediata, as pessoas tendem a não se preocupar com doenças. “Aprendemos muito na pandemia do ponto de vista científico. Agora conhecemos melhor o nosso sistema imunológico, que nos protege do que não faz parte do nosso corpo, e isso abre vários caminhos, inclusive para o combate ao câncer”, ele analisa. “Já do ponto de vista social, o balanço é negativo, com as fake news, o posicionamento de dirigentes contra a vacina e a desinformação vindo muitas vezes dos próprios médicos e conselhos de medicina.”

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