Como a perda da audição e da visão aumenta o risco de demência

Em adultos mais velhos, até mesmo uma deficiência leve pode afetar o cérebro; mas há maneiras simples de reduzir os danos

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Por Dana G. Smith (The New York Times)

Adultos com mais de 65 anos que apresentam perda de visão têm um risco quase 50% maior de desenvolver demência. Quando esses problemas de visão são corrigidos, o risco cai drasticamente.

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É o que diz o relatório publicado na semana passada por uma comissão internacional dedicada à prevenção da demência, que acrescentou a deficiência visual à sua lista de 14 fatores de risco modificáveis para a demência. Alguns dos outros fatores de risco são tabagismo, diabetes, hipertensão e isolamento social.

Os especialistas dizem que o acréscimo da perda de visão não é uma surpresa, principalmente porque outra deficiência sensorial – a perda auditiva – já foi associada à demência e também está na lista.

Confira a seguir o que sabemos sobre como até mesmo deficiências visuais e auditivas leves a moderadas aumentam o risco de demência e o que fazer a respeito.

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Problemas de visão e audição estão intimamente ligados a um maior risco de demência. Foto: Eleni Debo/The New York Times

Como a perda sensorial pode contribuir para a demência

Pessoas com perda sensorial recebem menos estímulos no cérebro. O tecido cerebral é do tipo “use-o ou perca-o”, então menos estímulo pode levar a uma maior atrofia, explica Gill Livingston, professora de psiquiatria da University College London, que liderou a comissão de prevenção da demência.

A área do cérebro que processa as informações auditivas está próxima da região mais afetada pela doença de Alzheimer, o que sugere que pode haver uma conexão anatômica. As informações visuais são processadas em outra parte do cérebro, mas a forma como usamos essas informações ativa muitas regiões diferentes.

“À medida que você reduz a ativação de determinadas áreas do cérebro, você obtém taxas mais rápidas de atrofia, até certo ponto”, descreve Frank Lin, professor de otorrinolaringologia da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins. “O que, você pode imaginar, tem efeitos em cascata em outras áreas da função e da estrutura do cérebro”.

Além disso, as pessoas que sofrem perda sensorial na idade adulta tendem a se afastar e a não se envolver muito socialmente. Há evidências que sugerem que a solidão pode alterar fisicamente o cérebro e é um fator de risco conhecido para a demência.

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“A perda da visão impede que você vá a uma festa”, disse Natalie Phillips, professora de psicologia da Universidade Concordia, em Montreal. “A perda de audição significa que você vai à festa, mas fica sentado no canto e não fala com ninguém”.

A perda da audição e da visão também pode acelerar os sintomas em pessoas que estão nos estágios iniciais da demência. É preciso mais energia cerebral para dar sentido à visão embaçada ou aos sons distorcidos, então restam menos recursos para a memória e a cognição cotidianas. Isso pode fazer com que os sintomas de demência apareçam mais rapidamente quando as pessoas já estão desenvolvendo esses distúrbios, informa Livingston.

Por que é tão importante tratar a perda sensorial

Pesquisas realizadas na última década mostram que há benefícios cognitivos em tratar as perdas de visão e de audição relacionadas à idade.

Perda de visão

Vários estudos descobriram que pessoas com algumas das causas mais comuns de perda de visão relacionada à idade, como catarata, retinopatia diabética e degeneração macular, têm um risco maior de declínio cognitivo e demência.

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“Estamos falando de perda visual não corrigida, ou seja, do quanto você não consegue enxergar”, explica Livingston. A magnitude da perda de visão corresponde a quanto o risco aumenta, acrescenta ela.

Embora nem todos os problemas oculares possam ser revertidos, quando eles são tratados e a visão é restaurada, o risco de demência diminui. Da mesma forma, Livingston informa que as pessoas que têm miopia ou hipermetropia não tratadas também podem ter um risco maior, mas não aquelas que usam óculos ou lentes de contato para corrigir a visão.

Para confirmar isso, um dos estudos mencionados no relatório da comissão constatou que adultos com mais de 65 anos que fizeram cirurgia de catarata para corrigir a visão tiveram um risco cerca de 30% menor de desenvolver demência se comparados a idosos com catarata que não fizeram a cirurgia.

A identificação de um novo fator de risco para demência é empolgante, “mas ficamos ainda mais empolgados porque esse risco é modificável”, ressalta Cecilia Lee, professora de oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, que liderou o estudo sobre catarata.

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Perda auditiva

A perda auditiva não corrigida também acarreta um risco significativo de demência. O relatório da comissão, que reúne vários estudos, revelou que as pessoas com perda auditiva têm um risco 37% maior de desenvolver demência. Quanto mais grave for a perda auditiva, maior será o risco.

Estima-se que 63% dos adultos com mais de 70 anos de idade tenham algum grau de perda auditiva clinicamente significativa. “Não estamos falando de uma parcela pequena da população”, diz Lin. “É quase a maioria dos idosos”.

A audição de todas as pessoas se deteriora naturalmente a partir do início da idade adulta, embora o declínio de algumas pessoas seja mais rápido do que o de outras devido à genética ou à exposição a ruídos altos, esclarece Lin. Com a perda auditiva leve, as pessoas têm dificuldade para ouvir sons abaixo de 26 decibéis – aproximadamente o nível de um sussurro. A perda auditiva moderada começa em 41 decibéis e pode dificultar a audição de conversas normais.

Os aparelhos auditivos podem ajudar e parecem reduzir a chance de desenvolver demência. Pessoas com perda auditiva corrigida têm um risco quase 20% menor de declínio cognitivo do que pessoas com perda auditiva não corrigida. E um estudo clínico publicado no ano passado revelou que, entre as pessoas com maior risco de declínio cognitivo devido à idade ou a outros problemas de saúde, aquelas que usaram aparelhos auditivos por três anos tiveram um declínio cognitivo significativamente menor em comparação com aquelas que não os usaram.

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“Não vemos uma melhora em si, mas vemos uma redução do declínio”, conta James Russell Pike, cientista pesquisador da NYU Langone Health que colaborou com Lin no estudo.

O que fazer se você estiver preocupado

A primeira etapa é fazer exames.

Para avaliar sua saúde ocular, marque uma consulta com um oftalmologista e faça um exame de dilatação ocular uma vez por ano, aconselha Lee.

Para fazer um teste de audição, você pode consultar um audiologista ou um especialista em ouvido, nariz e garganta. Ou, se quiser fazer o teste em casa, Lin disse que aplicativos gratuitos de teste auditivo, como o Mimi, tendem a fornecer resultados precisos.

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Se você tiver perda auditiva ou visual, trate-a o mais rápido possível. Alguns problemas oculares, como a catarata, podem exigir cirurgia, mas o procedimento é relativamente rápido e não invasivo. A correção da perda auditiva é ainda mais fácil, pois os aparelhos auditivos estão disponíveis sem receita médica.

A correção desses problemas não apenas reduzirá o risco de demência, mas também vai melhorar sua vida diária, avisa Phillips. “Os benefícios para a qualidade de vida e o envolvimento social são imensos. Não há nada a perder”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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