Como acalmar a mente usando a respiração, segundo a ciência

Pesquisas mostram que praticar algumas técnicas pode aliviar o estresse e melhorar o humor

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Por Richard Sima (The Washington Post)

Respire fundo. Agora expire e observe como se sente.

Se você se sentir um pouco mais calmo, acabou de experimentar o poder da respiração consciente e intencional.

Para iniciar a prática, os especialistas recomendam sentar em uma cadeira com a coluna ereta, manter os pés apoiados no chão e uma das mãos apoiada um pouco acima do umbigo Foto: Miljan Živković/Adobe Stock

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Pesquisas mostram que realizar algumas técnicas e desacelerar a respiração podem aliviar o estresse e melhorar o humor ao aproveitar a influência (muitas vezes sutil, mas profunda) que a respiração exerce sobre o que pensamos, sentimos e como nos comportamos.

“Nossa respiração nos acompanha do nascimento até a morte”, diz Helen Lavretsky, psiquiatra geriátrica da Universidade da Califórnia em Los Angeles e diretora de pesquisa para a Integrative Medicine Collaborative. Como resultado, a respiração é “uma ferramenta imediata disponível ao ser humano para autorregulação das emoções”.

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Respiração, corpo e cérebro alinhados

A relação entre nossa respiração, corpo e cérebro é conhecida há pelo menos 1,5 mil anos, afirma Paul Dallaghan, especialista em técnicas de respiração e autor de uma revisão sobre a história da ioga. “Um reflete o outro. À medida que a respiração se move, a mente se move”, ele diz, citando textos de ioga.

Pesquisas mais recentes encontraram evidências que apoiam essa percepção antiga.

Com cada inspiração, as pupilas dos nossos olhos tendem a dilatar, nosso tempo de reação acelera e nossa habilidade de recordar informações se torna mais eficiente. Ao mesmo tempo, nossa resposta a informações emocionais se intensifica, e também é menos provável que façamos um movimento voluntário.

E quando expiramos acontece o oposto.

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A atividade neural em regiões cerebrais importantes para a emoção oscila a cada ciclo de respiração.

Os neurônios responsáveis pela geração da respiração são encontrados no tronco cerebral, no que é conhecido como complexo pré-Bötzinger. Embora eles sejam apenas 10 mil em humanos, ritmos neurais relacionados à respiração são encontrados por todo o cérebro, segundo Jack Feldman, chefe do departamento de neurociências da Universidade da Califórnia em Los Angeles e o pesquisador que descobriu e nomeou essa área.

A respiração se associa à atividade no hipocampo, uma região chave para a memória, enquanto dormimos e quando estamos acordados. Ela também sincroniza a atividade neural em áreas cerebrais importantes para a emoção e a cognição, como o córtex pré-frontal e a amígdala.

Nós já usamos isso inconscientemente. Antes de um grande exame, corrida ou apresentação, respiramos fundo.

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“É relaxante”, observa Feldman, que coescreveu uma revisão de 2022 sobre a relação entre respiração e emoção.

Respirar devagar e corretamente

Em média, a maioria das pessoas respira entre 12 e 20 vezes por minuto, embora a taxa varie de indivíduo para indivíduo e conforme a circunstância. Pessoas mais ansiosas tendem a respirar mais rápido.

No entanto, o “número mágico” de respirações relaxantes é cerca de 5,5 a 6 respirações por minuto – bem mais devagar do que a maioria alcança, afirma Dallaghan. Esse número vem de observações de pessoas em estados meditativos – momentos de calma, tranquilidade e clareza quando a respiração desacelera espontaneamente.

Desacelerar nossa respiração pode ajudar a reequilibrar o sistema autônomo, saindo de um modo simpático de “luta ou fuga” para um modo parassimpático de “descanso e assimilação”, diz Guy Fincham, pesquisador associado na Brighton and Sussex Medical School interessado em “tudo relacionado à respiração”.

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Respirar envia sinais do corpo para o cérebro através do nervo vago, e respirações mais lentas e profundas ativam o nervo de forma mais potente, explica Helen. “Quando o nervo vago é ativado, é como um grande sinal vermelho”, ela diz. “Quando todos os sistemas param, você para de se preocupar”.

Por termos o poder de mudar conscientemente nosso padrão respiratório, podemos influenciar como pensamos e nos sentimos.

“Eu sinto que, se todo mundo na Terra respirasse fundo antes de reagir, seria um lugar muito mais pacífico”, afirma Helen.

Fazendo a respiração funcionar

Trabalhar a respiração envolve o controle intencional da taxa, profundidade e padrão de inspiração e expiração à medida que usamos nossas áreas corticais superiores do cérebro para substituir o padrão de respiração inconsciente no tronco cerebral.

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Um estudo recente apontou que cinco minutos de respiração consciente todos os dias, durante cerca de um mês, podem reduzir a taxa de respiração, melhorar o humor e diminuir a ansiedade. Uma revisão de 2023 constatou que técnicas de respiração podem ajudar adultos com transtornos de ansiedade com seus sintomas, enquanto outras pesquisas verificaram que elas podem auxiliar pacientes com depressão.

Em uma meta-análise com 12 ensaios controlados randomizados sobre respiração, Fincham e seus colegas reportaram que o uso de técnicas de respiração estava associado a níveis mais baixos de estresse, bem como de sintomas autorrelatados de depressão e ansiedade, embora ele pontue que muitos desses estudos eram relativamente pequenos e tinham grupos de controle fracos.

É possível que os benefícios para a saúde mental surjam de um efeito placebo: você acredita que respirar com intencionalidade faz bem, e então faz.

Mas novas pesquisas de Feldman e seus colegas sugerem que a respiração lenta pode ter efeitos profundos sobre a emoção — em ratos.

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No estudo, que ainda não passou por revisão por pares, os pesquisadores induziram artificialmente os ratos a respirar mais devagar por 30 minutos por dia, durante quatro semanas. Quando os ratos foram colocados em uma condição de medo que haviam experimentado antes, eles estavam visivelmente mais calmos e “congelaram” menos do que os animais de controle que não passaram pelas sessões de respiração lenta.

“Nossa conclusão é que as atividades de respiração não são uma resposta placebo. Podem estar presentes em todos os mamíferos”, avalia Feldman. “E nós podemos ser a única espécie que tira vantagem disso”.

Como respirar melhor

Podemos praticar a respiração consciente quase a qualquer momento e em qualquer lugar. Aqui estão algumas dicas de especialistas sobre como respirar melhor para alcançar uma mente mais calma.

  • Cuide da sua postura

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Sente-se firmemente em uma cadeira com os dois pés apoiados no chão. É importante configurar a “infraestrutura para a respiração funcionar com mais facilidade”, ensina Dallaghan.

  • Respiração suave e tranquila

Faça uma boa expiração e então uma inalação livre, orienta Dallaghan. Permita que a respiração se torne suave e tranquila, com o mínimo esforço possível.

“Seja gentil consigo mesmo e perceba que pode ser difícil aprender no início”, diz Fincham. Apenas relaxe, afinal, o ponto principal é relaxar e induzir a calma no corpo.

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  • Respire pelo nariz

O nariz filtra, umidifica e regula a temperatura do ar.

A respiração nasal também pode ter um maior impacto no sistema autônomo, acalmando-o, conta Dallaghan.

Algumas pesquisas sugerem que a respiração nasal pode ser mais eficaz do que a respiração bucal para alguns comportamentos, como desempenho visuoespacial e recuperação de memória.

  • Esteja atento à sua respiração

A atenção plena à respiração é importante “porque você tem que se tornar consciente dela para controlá-la”, ensina Fincham.

Coloque uma mão na sua barriga, acima do umbigo (logo abaixo do diafragma). Sentir o movimento dos músculos abdominais enquanto você respira permitirá notar o seu diafragma.

Se você sentir a respiração apenas no alto do peito, “há uma boa chance de que sua respiração não tenha ido fundo o suficiente”, diz Dallaghan.

  • Experimente padrões de respiração diferentes

A respiração quadrada envolve um tempo igual gasto inalando, segurando, exalando e segurando, com cada etapa durando três ou quatro segundos (por exemplo: inale por quatro segundos, segure o ar por quatro segundos, exale durante quatro segundos e segure novamente por quatro segundos).

A respiração de quatro-sete-oito prolonga a duração: inspire por quatro segundos, segure por sete e expire por oito.

O suspiro cíclico envolve inalar lentamente e depois inalar novamente para encher completamente os pulmões antes de expirar devagar.

Outras práticas, como ioga e meditação, também podem desacelerar a respiração.

  • Experimente uma prática mais longa

Respirar devagar de 5 a 10 minutos por dia pode ajudar, mas sessões mais longas podem ser ainda mais benéficas.

“Você meio que atinge uma ‘zona dourada’ com 20 a 30 minutos de prática respiratória regular”, diz Dallaghan. “Então ela tem um efeito mais transformador fisiologicamente”.

  • Considere consultar um instrutor de respiração

Para garantir que uma prática correta e verificar se há padrões de respiração ruins, como hiperventilação ou tensão, Fincham e Dallaghan recomendam consultar um instrutor de respiração ou facilitador.

Este texto foi originalmente publicado no The Washington Post. Ele foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

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