Quem nunca desejou ter uma rotina matinal completa, daquelas com café reforçado, exercício físico, meditação e até tempo para leitura? Ou então quis ter tempo para cozinhar comidas saudáveis em vez de, na pressa, correr para o bom e velho aplicativo? Pois bem. Querer mudar os hábitos do dia a dia é algo perfeitamente normal, mas para que essa mudança seja eficaz, é preciso ter disciplina.
“Nós vivemos uma epidemia de cansaço, estamos condenados ao automatismo e a principal forma de mudar algo é através do processo da repetição do comportamento que você almeja. Ou seja, repetir, até que esse novo hábito se torne constante”, explica o médico psiquiatra Pablo Vinícius.
Foi assim com o publicitário Alexandre Kiyohara, de 25 anos, que desde agosto pratica atividades físicas pela manhã. “Com a pandemia eu tive mais tempo para organizar minha rotina e decidi aproveitar o tempo que eu passava no trânsito para acordar mais cedo e ir pra academia”, diz. O amor pelo esporte cresceu tanto que, nos fins de semana, ele aproveita para ir aos encontros do grupo de corrida Vem Com Nois em parques de São Paulo. “O ar livre e o estar com o coletivo me incentivou bastante. Mas a academia não é um ambiente que eu gosto. Então foi preciso levar muito a sério. Tanto que eu coloco um alarme no celular, levanto e vou. Nem penso”, brinca ele.
A insistência deu frutos. “Melhorou meu físico, minha disposição, meu sono. Eu sinto que hoje tenho muito mais atenção de manhã e disposição ao longo do dia”, conta.
21 DIAS. Na década de 1960, o psicólogo e cirurgião plástico Maxwell Maltz criou a teoria de que 21 dias é o tempo que o cérebro precisa para interpretar um novo hábito como um padrão e torná-lo automático. Em 2013, o psicólogo Jeremy Dean refutou a teoria em seu livro Making Habits, Breaking Habits (Criando Hábitos, Quebrando Hábitos, em tradução livre). Para ele, a média é de 66 dias.
Mas na prática, não existe uma quantidade de dias exata. “Não é sobre tempo, e sim insistência”, declara Larissa Rodrigues, comunicadora e criadora da página Hábitos Que Mudam. “Quando a gente fala de hábitos, cada um tem seu ritmo. Tem casos em que a ação se consolida em apenas um dia, outras precisam de 120 dias. O mais importante é conhecer como ele funciona pra você”, ensina.
Tanto a página quanto a vida mais organizada de Larissa começaram com planners (caderno com divisões para organização de rotina e tarefas diárias). “Eu precisava organizar meu tempo e fui compartilhando esse processo e os aprendizados na internet. Nisso surgiu uma comunidade de pessoas interessadas pelo assunto”, diz. Hoje, são mais de 250 mil internautas que trocam dicas de rotinas, hábitos e experiências. Além de pesquisas e livros sobre o assunto.
“Eu acredito que nada supera sair da tela do computador para planejar suas coisas, mesmo que depois você leve para o digital. A mente funciona muito melhor fora das telas”, diz.
OFFLINE. Ficar longe das telas, aliás, foi a maneira que a empresária Isabella Macera, 27 anos, encontrou para melhorar sua qualidade de vida. “Eu tenho uma empresa e, principalmente na pandemia, veio uma sobrecarga muito intensa que me fez sentir sem fuga. Existe uma romantização de a gente sempre dar conta de tudo. Ou seja, até tem uma demanda, mas tem também um vício de querer resolver, de estar ali não priorizando os momentos importantes”, declara.
Seu estopim foi durante o trabalho de parto de seu filho Luca, hoje com 6 meses, no qual ela estava resolvendo um problema com um cliente. “Minha mãe teve que arrancar o celular da minha mão”, lembra. Desde então ela segue uma regra: desligar o celular, todos os dias às 19h e ligar apenas às 8h do dia seguinte.
“No começo tinha vontade de ficar fuçando o Instagram até tarde, mas percebi que eu termino um turno e começo outro, então preciso ter essa rotina. Hoje, eu me percebo muito mais produtiva, mas claro que quando é preciso, eu estendo um pouco à noite”, diz. As manhãs, no entanto, são sagradas: “Eu acordo, brinco com meu filho com calma, faço meu café, tudo sem acelerar meus pensamentos”. Mesmo nas paradas durante o trabalho, ela se mantém longe do celular.
“Antes eu abria o olho e já via o celular, o que me fazia começar o dia preocupada”, declara. “É sobre estar presente no aqui e agora. Eu me sinto outra, me fez muito bem.”
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