THE WASHINGTON POST – Costumo arrotar depois de comer e fico nervoso quando estou à mesa com amigos. O que devo fazer? Existe alguma maneira de parar de arrotar tanto?
Pouco antes de arrotar, o gás ganha pressão ao subir pelo esôfago. Por reflexo, suas cordas vocais ficam tensas para evitar que o refluxo desça pela traqueia. Se esse gás pressurizado é expelido rapidamente, ele ressoa contra as cordas e outros músculos do esôfago e da garganta, produzindo um ruído gutural.
Mas, se você se concentrar em liberar o arroto lentamente – em vez de soltá-lo com força – poderá diminuir sua intensidade.
Você deve ter notado que acontece algo parecido com a flatulência: quanto mais forte o gás sai, mais alto é o efeito, mas os especialistas sabem que você pode mitigar isso com uma liberação controlada.
Por que arrotamos
Mas de onde vem esse ar? Para algumas pessoas, o arroto na verdade não começa no estômago.
Uma forma de arrotar ocorre quando as pessoas sugam o ar inconscientemente e ele fica no esôfago antes de precisar ser devolvido à natureza. Isso é conhecido como arroto supragástrico. É menos comum do que o arroto gástrico, em que as pessoas engolem o excesso de ar que chega ao estômago e depois volta lá para cima.
A distinção é importante porque podemos tratá-los de forma diferente. O arroto supragástrico geralmente começa como voluntário, mas pode se transformar em um comportamento repetitivo e automático que acontece inconscientemente.
Você acha que seus arrotos acontecem o tempo todo, independentemente de você ter comido alguma coisa? As pessoas que convivem com você percebem que os arrotos param quando você está se distraindo ou enquanto dorme? Estes podem ser sinais de que você está apresentando arrotos supragástricos.
A boa notícia é que esse tipo de arroto responde bem à terapia cognitivo-comportamental, que envolve respiração diafragmática e ajustes na boca e na língua quando você sente um arroto chegando.
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Como arrotar menos
Para as pessoas com arrotos gástricos que não querem arrotar com tanta frequência, existem algumas intervenções que você pode tentar por conta própria:
- Livre-se dos canudos e pare de mascar chiclete ou fumar. Esses comportamentos aumentam a quantidade de ar que você engole. Até mesmo chupar pastilhas ou balas duras pode gerar mais arrotos.
- Diminua a velocidade quando estiver comendo. Se você engolir a comida muito rápido, poderá engolir mais ar do que o pretendido e arrotar mais à mesa (e depois).
- Identifique gatilhos em alimentos ou bebidas. Cada pessoa responde de maneira diferente, mas estes são alguns dos alimentos que mais agravam os arrotos: adoçantes artificiais, bebidas carbonatadas como refrigerante ou cerveja, feijão, cebola, frutas, lactose ou legumes. Mas aconselho meus pacientes a sempre discutirem um plano com um nutricionista antes de restringirem significativamente sua dieta.
- Trate seu gotejamento pós-nasal. Ainda não há pesquisas conclusivas sobre essa ligação, mas é uma teoria comum: se você engole involuntariamente muco do nariz e dos seios da face ao longo do dia, também está ingerindo ar em excesso.
- Certifique-se de que suas dentaduras estejam se encaixando direito. Dentaduras mal ajustadas podem reter ar, causando mais arrotos.
- Reavalie seus medicamentos diários. Certos medicamentos e suplementos estão associados ao aumento de arrotos, como suplementos de óleo de peixe (isso pode ocorrer em 28% das pessoas e, na minha experiência, “arrotos de peixe” são o motivo mais comum pelo qual as pessoas param de tomar esses suplementos). Outros culpados comuns são opioides, suplementos de ferro ou suplementos de fibra.
- Experimente um medicamento para reduzir a acidez estomacal. Para algumas pessoas, o arroto ocorre junto com o refluxo e pode melhorar com medicamentos que suprimem o ácido, como os inibidores da bomba de prótons (estes devem ser tomados cerca de 30 minutos antes da refeição para funcionarem melhor).
Se você ainda estiver com dificuldades, discuta suas preocupações com um gastroenterologista, que pode tentar outros medicamentos ou solicitar um exame especializado para caracterizar melhor seus sintomas. O arroto pode ocorrer junto com outros distúrbios gastrointestinais, como dispepsia funcional ou infecção por H. pylori. Portanto, se for um problema persistente sem um gatilho claro, vale a pena investigar mais detalhadamente.
O que quero que meus pacientes saibam
Algumas questões de saúde não são simples e não acho ruim quando meus pacientes procuram uma segunda opinião sobre qualquer um de seus problemas médicos. Na verdade, muitas vezes, eu sou a segunda (ou terceira ou quarta) opinião que um paciente busca, então não sinta que precisa esconder o problema ou ficar com vergonha. Sempre quero saber o que meus colegas de outras instituições podem pensar – especialmente se eles trouxerem outras ideias que possam ajudar você.
*Trisha Pasricha é instrutora de medicina na Harvard Medical School. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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