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Comunicação e proposta multidisciplinar mudam rotina em hospitais

Com redes sociais de um lado e diagnósticos e acompanhamento da doença mais precisos de outro, interação paciente e equipe médica está mais fluida

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Por Estadão Blue Studio
3 min de leitura

Exemplos recentes, como os de Ana Maria Braga, Reynaldo Gianecchini, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mais recentemente da cantora Preta Gil, consolidam a tese de que o câncer não é mais uma sentença de morte. São pacientes que se recuperaram e, hoje, desempenham suas atividades diárias normalmente. Embora tenham sido tratados em hospitais privados e de pouco acesso pela maioria dos brasileiros, os casos dos famosos consolidam a tese de que os tratamentos antitumorais estão cada vez mais eficazes.

Há mais de uma década, o cenário era diferente. Um diagnóstico de câncer, independentemente do estágio, região do corpo, perfil biológico ou classe social do paciente, sempre vinha acompanhado por uma quase certeza de insucesso e cercado por tabus. Nos hospitais e centros médicos, públicos e privados, havia pouca troca de informação entre paciente e equipe de saúde, e as decisões-chave estavam centradas nos médicos.

Com redes sociais de um lado e diagnósticos e acompanhamento da doença mais precisos de outro, interação paciente e equipe médica está mais fluida Foto: Getty Images

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O cuidado multidisciplinar do paciente é um dos processos que ganharam muito espaço. Campanhas de prevenção, avanços no diagnóstico nas fases iniciais e maquinário para acompanhamento da doença por imagem têm favorecido situações de controle e cura. Somam-se a isso, na atual fase, os aplicativos de monitorização do tratamento e da detecção de efeitos colaterais importantes. A inteligência artificial, em síntese, apoia a precisão no diagnóstico.

“Podemos dizer que três em cada quatro casos de câncer diagnosticados nas fases mais iniciais serão curados. A ideia de ‘quem procura acha’ está evoluindo para ‘quem procura pode curar’”, afirma Sergio Roithmann, chefe do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento (HMV), em Porto Alegre (RS).

Também há evolução nos fármacos, ingredientes críticos para o tratamento e que demandam cuidados por causa dos efeitos colaterais e do alto custo. Com mais tecnologia aplicada ao desenvolvimento, os medicamentos estão mais precisos e, segundo Roithmann, as equipes aprenderam a lidar com os efeitos colaterais das medicações oncológicas. Também surgiram novas drogas para minimizar essas consequências – nem todas já incorporadas no Sistema Único de Saúde (SUS) e processos da Saúde Suplementar.

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Os avanços não significam que todo câncer tem cura, afirma Anelisa Coutinho, oncologista clínica e presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica. Segundo a especialista, são muitos os quadros complexos em que o prognóstico continua negativo porque cada câncer é uma doença diferente, em uma pessoa diferente.

Há vários processos que evoluem de forma paralela. A tecnologia ajuda na precisão do diagnóstico, na realização de cirurgias menos invasivas, mas também na aproximação entre as pessoas. “A maior veiculação de informações em redes sociais e na internet em geral é outro fator que favoreceu a mudança na rotina hospitalar e sobretudo na relação médico-paciente. Hoje as pessoas chegam mais bem informadas e falam mais livremente sobre o assunto, mesmo no momento do diagnóstico”, avalia Coutinho.

A comunicação mais fluida reduz a assimetria de informação entre as partes – e, além do médico e do paciente, existem as redes de apoio formadas por familiares ou amigos. Com isso, o plano de cuidados saiu das mãos do médico e passou a ser conversado entre todos. O indivíduo ganhou autonomia e a era do “centrado no paciente” é clara.

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Equipe especialista e integrada

Há mais uma camada na estratégia contra o câncer traçada nos centros de referência em saúde do País. O tratamento, cada vez mais, aponta para uma abordagem essencialmente multidisciplinar. As decisões partem de análises feitas por profissionais de fisioterapia, nutrição, fonoaudiologia, terapia ocupacional, enfermagem, psicologia e, principalmente, dos médicos oncologistas e especialistas de áreas específicas onde o tumor se encontra.

“Um tratamento de êxito deve ser feito com diagnóstico correto e com cuidado multidisciplinar. Perseguimos a cura com o menor efeito colateral ou sequela possível e, no caso das doenças incuráveis, queremos preservar a qualidade de vida”, explica Rachel Riechelmann, head da Oncologia Clínica, líder do Centro de Referência em Tumores Neuroendócrinos e vice-líder do Centro de Referência em Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center.