Oito Estados brasileiros alcançaram nesta segunda-feira, 6, a cobertura de 90% da população acima de 12 anos com pelo menos uma dose da vacina contra o coronavírus. O levantamento, feito pelo Estadão, utilizou os dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa e a estimativa populacional do IBGE, considerada pelo Ministério da Saúde para a campanha de vacinação. Para os especialistas, a marca mostra uma adesão em massa à vacina no Brasil, mas ainda é considerada insuficiente para ter o controle total da pandemia.
Os Estados com cobertura vacinal da primeira dose acima de 90% são São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Minas Gerais. Em todo o País, 89,6% da população apta a tomar a vacina do coronavírus já recebeu pelo menos uma dose do imunizante.
Na avaliação do infectologista do Instituto Emílio Ribas Jamal Suleiman, o desafio é repetir a mesma cobertura vacinal com a segunda dose e a dose de reforço, necessárias para garantir uma imunidade satisfatória. “Vacinas que exigem mais de uma dose para garantir a imunidade têm uma complexidade maior na estratégia de aplicação. O dado é interessante, mas a cobertura não pode parar por aí”, declarou.
O infectologista defende que somente com a cobertura vacinal completa o Brasil vai conseguir reduzir ainda mais o número de mortos pela doença. Apesar da primeira dose garantir imunidade contra o coronavírus, reduzindo o número de casos graves, hospitalizações e mortes, a carga é considerada muito inferior se comparada com o ciclo vacinal completo. Essa imunização também tende a cair com o tempo - o que torna necessária a dose de reforço.
Até esta segunda-feira, a média móvel de mortes estava em 194 óbitos diários na última semana, de acordo com os dados do consórcio de veículos de imprensa. “Ainda temos 200 pessoas morrendo por dia de uma doença que pode ser evitada. É uma variável que ainda precisa baixar”, disse.
Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina, a cobertura vacinal contra a covid-19 é satisfatória, mas a campanha ainda precisa ser estendida para toda a população antes de se considerar que há um controle sobre a pandemia.
Atualmente, a aplicação do imunizante só é permitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em pessoas com 12 anos ou mais. Alguns países, como os Estados Unidos, já autorizaram o uso de algumas vacinas para crianças de 5 a 12 anos. A Anvisa analisa os pedidos de autorização para essa faixa etária feitos pelas fabricantes, mas afirma que precisa de mais informações.
Quando se considera toda a população brasileira com o ciclo vacinal completo (duas doses ou dose única, no caso da Janssen), a cobertura vacinal é de 64,27%. “Quando tivermos 90% de toda a população vacinada com duas doses e doses de reforço, poderemos dizer que temos uma segurança contra a pandemia”, declarou Vecina.
O médico também ponderou que é preciso olhar para a situação da cobertura vacinal por municípios e no restante do mundo. Isso porque, tanto no Brasil quanto no mundo, pode haver áreas com baixa vacinação que possibilita novos surtos de covid-19 e o surgimento de novas variantes. É o caso de alguns países da Europa, que voltaram a decretar medidas de distanciamento social por conta de novos surtos da doença e da chegada da variante Ômicron.
Os especialistas consideraram, no entanto, que a marca de 90% de cobertura vacinal da primeira dose em alguns Estados contribui para a redução de casos graves e de mortes causadas pela covid-19. Além disso, demonstra uma adesão em massa à campanha de vacinação. “Esse é um dado que mostra como o Brasil foi menos afetado do que outros países pela campanha negacionista anti-vacina, que aqui foi feita pelo próprio presidente da República”, afirmou Jamal Suleiman.
Os efeitos do avanço da vacinação contra covid-19 já começam a ser sentidos de forma mais clara em alguns Estados. São Paulo, por exemplo, atingiu nesta semana uma marca inferior a mil pacientes internados em leitos de terapia intensiva para tratamento de covid-19, segundo dados divulgados pelo governo paulista.
Conforme dados do consórcio de veículos da imprensa, a média móvel de mortes em São Paulo está em 52. No início de outubro, estava em 150, praticamente o triplo do patamar atual. Levando em consideração o mesmo período, em Santa Catarina o índice foi de 17 para 8, enquanto no Paraná foi de 49 para 4.
No Rio Grande do Sul, por outro lado, a diferença não foi tão expressiva. A média móvel de óbitos no Estado está atualmente em 18, ante 22 no início de outubro. No Piauí, outro Estado que atingiu a marca de 90% da população com ao menos uma dose, o indicador subiu de 3 para 4.
Apesar da oscilação, as médias móveis do Rio Grande do Sul e do Piauí estão bem abaixo na comparação com o pico da pandemia, em que os indicadores nesses Estados superaram, respectivamente, as marcas de 300 e 40 mortes por dia.
Em entrevista ao Estadão no dia 3 de dezembro, a bióloga Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), afirmou que apesar da vacinação estar mais avançada no Brasil do que em outras nações, o País necessita manter as medidas sanitárias, como o uso da máscara e o passaporte da vacinação para evitar a transmissão do vírus.
De acordo com Natalia, se isso não for feito, o país pode colocar a perder os avanços no combate à pandemia observado nos últimos meses. “Não acredito que voltaremos a ter um cenário tão ruim quanto tivemos no início do ano, mas não é hora de um liberou geral porque não é toda a população que está vacinada e novos surtos são possíveis”, avaliou.
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